Dicas de Filme: Oscar 2014

São nove filmes que estão concorrendo ao Oscar esse ano, por melhor longa. O evento de premiação acontecerá no domingo. Para me interar do assunto, assisti à maioria dos filmes principais. Da categoria de filme, falta apenas "Nebraska" e "Capitão Phillips". 
Assim, farei hoje uma pequena resenha dos assistidos, a quem quiser uma opinião e dica para o fim de semana, ou uma visita ao cinema ou à locadora (daqui um tempo). Os vistos, são estes: "12 Anos de Escravidão",  "Ela", "Trapaça", "O Lobo de Wall Street", "Clube de Compras Dallas", "Philomena" e "Gravidade".


► 12 anos de escravidão

Dirigido por Steve McQueen (não, não o ator), 12 anos de escravidão conta uma história de um nortista negro e letrado no ano de 1841 nos Estados Unidos (a abolição da escravatura nos EUA foi só conquistada em 1863) que em sua responsável e agradável vida em família, cai em uma enganação através de uma oferta de trabalho que no final das contas é uma espécie de "sequestro"para torná-lo escravo. Dali ele passa 12 anos sendo comprado como escravo, "perdendo" o nome, e passando por vários senhores, em 12 anos - conforme o título.
Não é de se espantar que alguém saia do cinema ou termine o filme, comovido. Afinal, a temática sugere isso, mesmo que a intenção não seja apenas sensibilizar, mas não dá para dizer que é uma temática fácil de lidar sem sentir pesar por alguma passagem que fatalmente, será trágica.
Passagens trágicas essas que, além da sofrida pelo negro nortista principal, enganado por ilegais se segue uma evolução dele como pessoa: Solomon Northup deixa de lado seu orgulho e conhecimento, para salvar sua vida, mesmo que escravizado.  As situações trágicas não param em elementos que sabemos que aconteceriam como o transporte acorrentados, as torturas, a primeira venda do grupo de negros, a separação de mães e filhos, mercadores raivosos, senhores que forçam trabalho e punem com chibatadas. Além disso, há um senhor raivoso, interpretado por Michael Fassbender (que concorre a melhor ator coadjuvante), que culmina no grande vilão da trama. O fazendeiro é destemperado e nutre uma relação de amor e ódio pela negra Patsey, interpretado pela Lupita Nyong'o (que concorre a melhor atriz coadjuvante).
O filme é seguramente muito triste e o melhor drama da lista e o único "épico".

► Ela

Um ficção científica romântica, dirigido por Spike Jonze. Estranho? Pois nem tanto. A história se passa com Theodore (Joaquim Phoenix), um escritor deprimido que está só, depois de uma recente separação, mas ainda não divorciado. À procura de uma alma gêmea e um tanto frustrado pela falta que a ex esposa faz, ele não é bem sucedido. Até que ele adere à uma interface de computador de uma companhia virtual. Uma inteligência artificial como sistema operacional que vai aprendendo com ele como ele é, a partir das respostas que ele dá. Samantha é apenas uma voz de computador (da atriz Scarlett Johansson) que com o tempo aprende o que Theodore mais quer em uma pessoa, seja ela como companhia ou relacionamento. Esse último momento é de fato, o que acontece. Theodore começa uma relação com Samantha.
Uma série de perguntas transborda na relação no decorrer do filme: estaria ele apaixonado mesmo por um "computador"?; ele está criando um mundo perfeito, gerando uma situação de escapismo, uma vez que ele não admite mais a frustração do casamento real frustrante que teve?; entre outras coisas.
É um romance de ficção científica, talvez futurista, mas que não está muito longe de ser uma realidade cotidiana. Muitas pessoas nutrem relacionamentos virtuais, hoje não da mesma forma, mas sem o contato real. Ao final, Theodore tem seu momento de "ficha caindo" (que expressão mais tosca ao falar de tecnologia, hein?) e o filme termina após longos duas horas e seis minutos. Não é tão logo quanto outros da lista aqui, mas muito arrastado o que, ao meu ver, quebrou um pouco o ritmo da trama. Uma opinião, claro.

Trapaça

Ok, confesso que esse era um dos filmes que mais queria ver. Ano passado quis saber porque amavam tanto "Os Miseráveis" e descobri: era moda. Ninguém tem coragem de falar de filme de arte cantado, chato como é, que é um filme ruim. É mais fácil dizer que amou e chorou rios, que admitir que não é para você, que não fez sua cabeça. Fazer pose de cult, dá nisso: você fica sem coragem para falar e se sentir assim excluído de um papo qualquer. 
Mas voltando, novamente queria saber qual era a de Trapaça. Não que alguém tenha dito que era bom, mas é um filme muito bem cotado, então bateu a curiosidade. Os quatro atores principais da trama concorrem as duas categorias de atrizes e atores. David O. Russell - o diretor - pegou seus atores amigos - pois já trabalhou com eles em outras produções - e contou-nos a história de ficção de algo real - uma operação do FBI para flagrar uma má conduta de congressistas americanos em 1978. Um esquema: um xeique falso que ofereceria dinheiro aos políticos em troca de favores. O cara da operação é Melvin (Christian Bale), um trapaceiro conhecido, processado pela justiça que é contratado para comandar a operação junto com sua ajudante, a personagem de Amy Adams. Bradley Cooper é o chefe da operação vindo do FBI e a personagem de Jennifer Lawrence é a esposa doida de Melvin. É um filme para americano. Afinal a história - história por trás do filme, o pano de fundo, não é abordado claramente. Não sabemos por simples fato que nesse tempo os EUA passaram pelo recente fim do Watergate, renúncia de Richard Nixon - tudo num abalo de confianças nas instituições, sejam ela políticas ou não, do país.
Todos os personagens - com intenção de ser - são caricatos: Melvin é careca, mas finge ter cabelo usando uma peruca; sua ajudante finge ser inglesa, o cara do FBI é um falso filhinho de mãe e esposa de Melvin finge ser doida, sendo doida? Não sei... Mas nas excessivas horas do filme, o que perpassa na nossa cabeça todo o tempo é as reviravoltas da trama e os visual setentista com recuperação do sonho americano meio defasado. Falta profundidade, intencionalidade, falta ambientação para o leigo, falta diálogo preciso e claro. Não há função por exemplo para a personagem de Lawrence, que faz cenas de uma pessoa louca e coloca tudo a perder em alguns momentos, sem muito mais. Parece forçada toda a relação do atores. No fim, tudo que precisa ser resolvido é rápido sem a sua desconfiança como telespectador. Eles mudam em um piscar de olhos - de bobos ferrados para espertalhões sabichões. 
Não me agradou pois a maior parte do tempo, fiquei pensando e buscando muito mais do que foi apresentado. É o pior dos que assisti, certamente.

► O Lobo de Wall Street

Você tem tempo? Três horas do seu dia? É capaz de rir com as coisas mais bizarras já pensadas? Uso exagerado de drogas e exploração total e sem pudor (algumas vezes de insinuações) de sexo não te choca?
Então manda ver!
Dá inclusive para comparar os dois filmes; esse com "Trapaça", pois ambos são obras "romanceadas" de situações que aconteceram e tratam de dinheiro em um país como os EUA. Mais ao contrário do anterior, há humor mais interessante, ainda que bizarro, e há fôlego até a conclusão - coisa que Trapaça deixa a desejar. Pode não ser nem de longe o melhor filme dos nove, mesmo que eu não tenha assistido a dois deles, mas de fato não é tão ruim. O filme conta a trajetória de sucesso e decadência de Jordan Belfort: ex corretor da Bolsa de Nove York - Jordan fez fortuna nos anos 90 explorando com todo vigor o mercado financeiro americano. Precisa entender litros de economia para não ficar muito flutuando no que diz respeito a como ele consegue ser bem sucedido com o dinheiro dos outros. (Fora que assistir com legenda péssima que traduzia muita coisa ao pé da letra e termos técnicos ficavam na forma original....)
Leonardo DiCaprio já fez papéis melhores, mas nesse ele se superou: quem puder assistir saberá que ele conseguiu um feito, afinal é um personagem altamente bizarro para se fazer convencer. E não é caricato. A melhoria de "O Lobo de Wall Street" que não há em Trapaça é o ritmo: você sabe quem é o cara, o que ele quer, o que ele gosta e etc. Você sabe no que vai dar no fim, e mesmo assim não se arrasta até ele ou questiona a função desse ou aquele personagem ou suas intenções. 
Mas como o outro tem um excesso. Se em Trapaça o excesso era a falta de naturalidade com a transmissão da história (e por vezes interpretação e expressão dos atores) e diálogos ou cenas sem importância - como a cena do Studio 54 do personagem de Cooper com Adams ou Lawrence dançando e cantando freneticamente uma música dos Beatles - em "O Lobo..." alguns diálogos e cenas de sexo são irrelevantes beirando, depois de algumas horas de repetição, ao cansaço.
Há pontos legais, como situações cômicas que arrancam risadas rápidas e inesperadas e os diálogos de DiCaprio com a câmera. É fato: excessos propositais, são ao mesmo tempo dádiva e pecado.
Martin Scorcese radicalizou também na quantidade de palavrões, certamente um recorde na sua filmografia. E pensar que o último filme dele era o meigo "A Invenção de Hugo Cabret"...

► Clube de Compras Dallas

Aqui Matthew McConaughey encarna Ron Woodroof, um caubói de rodeio e eletricista que vive o tempo da epidemia da AIDS nos anos 80. Em uma década que a doença e sua transmissão era estritamente associada a usuários de drogas injetáveis e/ou homossexuais, Ron - em relações heterossexuais - acaba contraindo o vírus. 
A trama se desenvolve em torno do preconceito, do orgulho, da visão de Ron ao comercializar remédios, da organização farmacêutica americana com o experimental AZT. 
Ao descobrir a doença, Ron é avisado que tem poucos meses de vida, mas um sujeito sem perspectiva dá a volta por cima e procura remédios ilegais nos EUA que salvam e retardam ele por mais tempo e faz disso, um negócio - vendendo e salvando outras pessoas com o vírus.
Aqui as interpretações e expressões são memoráveis, garantindo uma certa razão nas indicações de Matthew como melhor ator e Jared Leto, em um personagem travesti que se alia a Ron, como ator coadjuvante. 
Apesar de ser quase duas horas de filme, ele acaba abruptamente e não explora muito as nuances de preconceito e foca mais nas relações de crítica da FDA - órgão do governo que trata de liberar os remédios no circuito americano.
É bom, forte e impactante.

► Philomena

Interpretada por Judi Dench, Philomena teve aos 18 anos o impacto que carregou por toda sua vida: ela foi internada em um convento. Depois de um rápido romance, ela engravida e sob a rédia de freiras altamente conservadoras ela padece do "pecado" sofrendo as punições dos sermões, do trabalho, e se vê afastada do pequeno Anthony durante sua jornada de trabalho no convento. 
Em meio a isso, a trama mostra que na realidade, as jovens meninas grávidas que envergonharam suas famílias tendo filhos fora de relacionamentos estáveis como casamentos, tinham seus filhos adotados por outras famílias. É aí que Anthony desaparece do conhecimento de Philomena.
Anos mais tarde, Philomena revela a sua filha uma vontade de procurar o filho perdido a 50 anos. A filha repassa a história a um jornalista investigativo ateu, que se interessa pela história e propõe ajuda-la.
Em meio a tudo, Philomena retorna ao convento e descobre que as freiras não querem revelar paradeiros de documentos, alegando morte de muitas que lá viviam e um incêndio que acabou com documentos, menos um: o que Philomena teria assinado abrindo mão de seu filho.
Na realidade as freiras irlandesas vendiam os filhos das meninas que lá ficaram. O jornalista e ela, partem então na busca do paradeiro do filho, sozinhos, seguindo apenas algumas pistas.
Não vou contar mais pois certamente perderia a graça. É um filme simples, curto, e de grande sensibilidade. Philomena é uma senhorinha que você pode encontrar em muitos lugares, de veia sofrida, mas devota a sua religião, e principalmente, de coração nobre apesar de todas as coisas que passou.
Ele é simples, pois retrata a verdade, algo não comum na premiação. Sem romancear ou exagerar, ele é direto e simples. Embora não seja aquela obra magnífica que temos visão quando se trata de Oscar (não é um épico ou coisa semlehante), não seria de nada desperdiçado se vencesse o prêmio.

E por fim:

► Gravidade

Filme dirigido por Alfonso Cuarón, é praticamente um monólogo. O filme se passa no espaço e a Dra. Ryan Stone é a personagem encarnada por Sandra Bullock. Ela, o comandante da missão (George Clooney) e mais um grupo estão instalando peças no telescópio Hubble quando são surpreendidos por uma chuva de detritos rumo a onde estão. Aí começa a peleja, uma vez que eles perdem a segurança e começam a vagar pelo espaço. Sobram apenas os dois, a doutora e o comandante.
É alternado então, entre drama, sufoco, silêncio e respiração tão curta quanto a da personagem, que é levada à uma central para retornar a Terra. O comandante acaba se desgarrando da nave, e a doutora luta para conseguir sobreviver e retornar. 
De longe, Ryan Stone busca como personagem apenas uma coisa: mostrar a fragilidade humana e uma superação de limites, mesmo quando nem tudo compensa para voltar à terra firme.
É meio angustiante. A personagem perde oxigênio, a falta de gravidade parece ser algo muito custoso pois se agarrar aos objetos e as coisas é impossível e você acaba tomado por um desespero como se estivesse na mesma situação que ela.
E por incrível que pareça, por ser ficção científica, é o mais completo, mais bem trabalhado, lapidado...
Ganhou diversas premiações e com razão.

Peço que comentem se gostaram de algum filme que assistiram, que compartilhem opiniões. À quem viu "Nebraska" e "Capitão Phillips" também pode deixar impressões.

Abraços afáveis!

Comentários

Michelle disse…
Gostei do Post, Manu! Bom.. desses filmes, só não gostei do "Trapaça"... O "Lobo de wall street", vale pela interpretação do Leonardo di Caprio. "Ela" me fez pensar muito, pois é um futuro não longe: amores virtuais são comuns nos dias de hoje. Será que ele queria fugir da verdade/da realidade? Tecnologia ajuda ou atrapalha? Quem não tinha sentimento na historia, ele ou Samantha? Mostra que amor não é eterno, não é perfeito! e assim vai... "Philomena" é simples porem muito bom! "Gravidade": ate que enfim um filme que não "peca" nas leis da fisica!!! "12 anos" é muito bom, revoltante em saber que é baseado em historia real e tem otimos atores. "Clube dallas" - dá um aspecto de filme amador mas é muito bom, com otimos atores também! Os outros não vi.Pena!
Vc citou bem cada filme sem contar muito e deixar, quem não viu, curioso para ver! Bjos!
Manu disse…
Ainda bem, pois fiquei com medo de falar demais hehehehe...
Deu trabalho isso :D

=*
Ron Groo disse…
De todos o único que não me chama a atenção em nada é Gravidade...
Acho tão, tão... Não acho nada.
Manu disse…
Pois eu tbm achava Groo. Não é supra sumo, é bem comunzão. Mas por exemplo, o Philomena é mais simples, e é melhor em termos de história.

Abs!

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