A edição no todo é belíssima, como sempre tem sido nas edições da Wish. Exalto novamente, assim como fiz na postagem passada que a a tradução é muitíssimo acertada e fluida. A revisão nesse sentido me parece muito bem feita também.
Com o perdão da repetição, destaco: um livro não deve ser somente bonito, com capa dura, arte exclusiva, lombada padronizada e blablablá... Livros são artigo de luxo no nosso país, os impostos são altíssimos e a gente sabe que o alto preço dos insumos são justificativas das editoras para cobrarem pequenas fortunas de suas edições - mesmo quando não são "especiais" ou as chamadas "de colecionador'.
A gente aceita e compreende tudo isso, desde que a qualidade seja condizente com o valor pago. Por isso, um critério apurado na diagramação e na tradução é o carro-chefe das editoras grandes. Mas a revisão, tão desprezada, tão desvalorizada e com prazos tão curtos (como ouvi dizer), não pode ser desculpa um trabalho displicente ou omisso. Só porque é uma etapa ingrata do editorial (e mal remunerada) o profissional dessa área não pode se fazer de vítima (e eu sei que muitos revisores não são), nem a equipe editorial deve fazer da etapa, sugestivamente (ou não), a de menor importância. Uma revisão bem feita é importante, sobretudo em se tratando de uma obra de autores renomados, ou obras raras, é o mínimo que se pode ter com respeito ao legado literário dos mesmos, é esse tipo de postura descente. De novo: porque não pagamos barato por isso.
Não se trata de nenhum caso da Wish, ou pelo menos, de nenhum livro que possuo da editora. Embora seja relativamente pequena e jovem - a equipe, encabeçada pela Marina Ávila começou no mercado editorial há apenas 10 anos, trazendo conto de fadas e depois histórias raras para os leitores por meio de projetos de "crowdfunding" - financiamentos coletivos - para a publicação de seus títulos.
Agora, a editora faz parte do grupo Darkside, outra editora com títulos no catálogo bem bacanas aqui no Brasil e inclusive, já tem título novo que marca a abertura da parceria: Norte e Sul de Elizabeth Gaskell, romance industrial que pode ser adquirido tanto no site da Wish quanto no da Darkside.
Agora, por fim, falo da minha experiência de leitura.
Como já contei, "Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco de Fleet Street" não estava na lista inicial. Calhou de ser lido logo após "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Outros Contos", ainda em outubro, por ser de um tema favorável ao mês das Bruxas. 🎃
E foi uma excelente escolha!
Ao contrário da leitura anterior - em que eu facilmente diria que a adaptação cinematográfica de Tim Burton é muito mais atraente que o conto original - Sweeney Todd é um texto igualmente diferente do filme, porém, a leitura me agradou muito mais.
Esse fato se dá por motivos diversos. Um deles é que as histórias são afins, porém, enquanto o filme sobre o Cavaleiro Sem Cabeça é um dos meus favoritos do diretor, muito mais sinistra que o conto de Washington Irving (que é curto demais para "empolgarmos" e praticamente não passa medo nenhum), no caso de Sweeney Todd não teve o mesmo efeito, porque musicais não me atraem, salvo poucas exceções (os únicos musicais que gosto muito são: "Moulin Rouge - Amor em Vermelho"[2001], "Rock Of Ages" [2012], "Rock Star" [2001] e "Rocketman" [2019].)
Isso não significa que o adaptação para o cinema do barbeiro assassino seja ruim. Muito pelo contrário. Inclusive o filme tem um plot mais intrigante, um tom de vingança mais dramático e menos trivial - assemelhando-se à peça da Broadway, ao que parece - e com um elenco que gosto bastante (algo que não é novidade para ninguém que me conheça).
O livro tem mais pontos a favor: além de ser mais sinistro, poder conhecer melhor uma das escritas vitorianas mais populares - os Penny Dreadfuls e Penny Bloods - que não costuma ser o tipo de coisa que leio bastante, foi uma ótima chance. Também ter os detalhes de cada ação má de Todd, sem pausas para música (risos) favorece o nosso exercício de imaginação e é bem mais bacana, convenhamos, por mais que a trilha seja boa.
Por fim, o livro contribuiu para o fim preciso da meta de ler mais em 2023: me entreter! Mesmo sabendo do final, foi possível me envolver com a trama e isso é uma coisa que depõe bastante à favor.
No geral, a linguagem é de fácil assimilação e os diálogos são diretos, pelo menos até o capítulo XII. Até aí, os personagens pensam e tramam em voz alta, quando sozinhos, para que os leitores saibam suas próximas ações. Depois desse capítulo percebi uma mudança: os pensamentos "altos" continuam, mas há uma interação com de narrador e leitor, e trechos são mais reflexivos. A partir do capítulo XII, algumas partes são muito bem detalhadas, outras, em momentos cruciais, as situações são ocultadas propositalmente, de modo a deixar a resolução de fato, para o final.
Essa mudança de clima na escrita pode ser pelo fato de haver dois autores creditados a história, mas como é dito no prefácio da edição brasileira, não se sabe quem de fato a escreveu, já que, por ser uma história em capítulos, não há uma precisão nesse sentido.
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DVD de Sweeney Todd, dirigido por Tim Burton e estrelado por Johnny Depp, Helena Bonham Carter, e grande elenco. |
Uma notória diferença para a adaptação é o destaque bem grande na relação de Todd com a Sra. Lovett, a dona do estabelecimento que vende deliciosas tortas de carne. A história do livro foca exclusivamente no barbeiro e, ainda que muitas histórias se envolvam - por acidente, na maioria dos casos - com Sweeney Todd, o fim do mesmo soa bem brusco.
Essa talvez é minha única insatisfação com a história, não conseguindo dar uma nota maior: a rapidez na conclusão e os fins do jovem Tobias, ou do Coronel Jeffery. Os detalhes da Sra. Lovett são poucos, e somente na segunda metade da história é que observamos algo estranho no seu estabelecimento e somente no capítulo XXXVI é que temos a real ideia do conchavo de Sweeney Todd e Sra. Lovett.
Segue então, a nota para Sweeney Todd, no padrão 5 pergaminhos:
Faltou muito pouco para os 5 pergaminhos (risos).
Para quem gosta de terror e suspense, e quem não conhece nada sobre a história pode gostar muito mais da experiência de leitura.
Bem recomendado por essa que voz escreve, me despeço avisando que não demorarei a voltar a escrever aqui sobre as leituras de 2023. É possível que antes de entrarmos em dezembro, trago o "Leitura da Vez" com a primeira história que li nesse 2023. Não prometerei pois, o tempo é ingrato e as vezes, nos prega peças... A frase seguinte do Ben, o guardião dos Oakley, na página 132, se encaixa perfeitamente no contexto:
[...] É preciso tolerar o que não se pode evitar. É um bom nome para dizer que é preciso sorrir e aguentar.
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Espero que tenham gostado da nova resenha, e que sintam-se interessados no livro. Se já leram, compartilhem suas impressões nos comentários, que darei um feedback rapidamente.
Aproveito o ensejo para convidá-los(as) para o meu clube de leitura, que terá encontro em dezembro:
Faremos a leitura do primeiro volume do Ciclo Terramar, e no dia 14 de dezembro, nos encontraremos virtualmente para comentarmos as nossas percepções desse o romance de fantasia da escritora estadunidense Ursula k. Le Guin.
Interessados(as) bastam entrar no grupo do WhatsApp (clicando
aqui) do
Pônei Saltitante para ter acesso a todas as informações, bem como o link da reunião no 14. Aguardo vocês lá!!
Até a próxima "Leitura da Vez"!
Abraços afáveis!
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