Balanço da Temporada da F1 2020 (parte XVI)

Depois do assustador acidente de Romain Grosjean voltar ao circuito barenita para mais uma corrida poderia ser estranho. Ainda que fosse no anel externo da pista e isso possibilitar uma corrida nova e mais rápida, com menos de um minuto para dar uma volta completa, outros assuntos borboletavam nos portais especializados. Haviam duas possibilidades previsíveis:

a) Ninguém pararia um segundo sequer de relembrar o acidente da corrida passada, uma vez que a atal poderia estar bem morna e não teria o que comentarem;
b) O assunto teria esfriado, afinal, deveria ser mais importante retomar a narrativa de toda a temporada: "o quão maravilhoso era o trabalho de Lewis Hamilton na Mercedes, na F1 e no mundo". 

Para o nosso caso específico, os brasileirinhos, tínhamos a primeira opção como a mais possível: Pietro Fittipaldi substituiria Grosjean na Haas. Criava-se uma enorme hype e os jornalistas andavam trás dele como moscas em bolo recém saído do forno. 

Nem uma coisa, nem outra. Exaltaram o Grosjean, que apareceu no Bahrein para agradecer a todo mundo que cuidou dele e abraçar o pessoal - mesmo com o impedimento por conta da Covid-19. Foi tanto abracinho bom que deu até vontade de sair abraçando o pessoal por aí.
Todo mundo ficou feliz em entrevistá-lo, alguns em poder ver os seus olhinhos sorrido (já que usava máscara) e  beleza: Que bom que o cara estava vivo como nunca! Os colegas ficaram mais aliviados.  Comentaram sobre o substituto menos do que aqui e ...

... Lewis testou positivo para Covid. Aí, a maré do papo, mudou.

Quando  Charles Leclerc e Valtteri Bottas abandonaram a bolha para voltarem para casa, não faltou críticas.
Sérgio Pérez testou positivo lá no GP da Inglaterra, não demorou muito para sair umas fotos do mexicano em passeios turísticos com a esposa. Choveu comentários - cruéis mesmo - sobre a sua irresponsabilidade, por ter rompido a bolha.
Com Lewis infectado, não houve um "pio" nesse sentido. Só muito desejo de melhoras. 
Aparentemente, ele já vinha se sentindo indisposto no fim de semana da corrida e, embora estivesse com sintomas leves, ninguém comentava como ele poderia ter contraído a doença nem como de fato, ele estava se sentindo. Ele sinalizou que estava um pouco mal, mas não sabíamos em que medida.
A única certeza era que levantar a questão da irresponsabilidade, como aconteceu com Pérez, estava fora da de cogitação. 
Não que devesse ser uma questão debatida. Não tínhamos muito o que ficar palpitando sobre isso. Esse negócio de fiscal da vida dos outros é desgastante e não leva a nada.
Mas fica aí, a lição: quando foi com o latino americano, não houve bom senso e empatia para seu caso.

E comparada à situação do Grosjean, a mídia demorou um pouco mais para especularem quem era o substituto do Lewis. Estranho, né?
A lógica manda que no caso, a Mercedes tinha um piloto reserva que seria acionado, como foi na Haas com o Pietro. No caso da equipe alemã, eles deviam chamar Stoffel Vandoorne - que já estava a caminha do circuito, inclusive.

Quando ele chegou deu, praticamente, com a cara na porta. A Mercedes havia decido dar a vaga para George Russell - que era (e é) da Williams.
Era um tanto, ilógico: ter um piloto reserva, já disponível e escolher outro, de outra equipe. Ainda que fosse da "escola", foi uma decisão "esquisita".
A esquisitice então foi catalizador para a galera do encantamento: acreditar que essa decisão tinha sido tomada para pressionar o Lewis Hamilton a decidir se renovava ou não o contrato.

Sinceramente? O contrato estava na gaveta principal do Lewis, só "decantando" para assinar. Se é que não estava assinado, e o seu ego mandava fazer um drama até pouco tempo antes da pré temporada. Além disso, haviam muitas exigências que o inglês queria estabelecer e, depois do atípico ano de 2020, não seriam assim, tão entregues de mãos beijadas.
Falei sobre isso, longamente, num só texto sobre o GP nomeado de Sahkir (releiam, aqui).

Se isso era uma tática da equipe, achava pouco provável que fizesse Lewis mudar de ideia e decidir por exemplo, aposentar-se.Além disso, o resultado da corrida, em relação à Russell (é fácil falar agora que já passou) deu a letra de que a Mercedes não estava muito afim de fazer Lewis se sentir pressionado, não. Foi só um "cirquinho" montado. 

Antes da corrida acontecer e com Russell com piloto oficial (na Williams, escalaram o Jack Aitken para ocupar sua vaga), especulava-se mais coisas dentro dessa ideia da "pressão" ao Hamilton:

a) Se Russell se saísse pior que Valtteri Bottas, justificava a renovação com o finlandês para continuar sendo segundo piloto, só "incomodando" outros adversários, mas nunca o Hamilton.
b) Se saísse muito pior que Bottas, deixava Lewis muito, mas muito bem na "fita": Afinal, cairia a teoria de que "qualquer um faria grandes corridas com um Mercedes".
c) Se ele fosse melhor que Bottas, fizesse pole e vencesse a corrida, a teoria do "qualquer um vence com a Mercedes", ganharia forças bem boas e talvez até, Lewis sentisse (só um pouquinho) a tal pressão. 

Nenhuma das três possibilidades era boa para Russell. Muita gente estava "filiz dimais da conta, sô!" pela oportunidade de estar num carro bom e poder mostrar todo o seu talento. Era, de fato, bacana mesmo. Cabia a Russell, mostrar-se não ser cordeirinho demais.
Mas tudo isso se tornou assunto secundário: a sua chance na Mercedes era mais uma razão para que todos os comentários girassem em torno de Lewis.

Era o ápice da minha tese, amigos e amigas: a Fórmula 1 em 2020 era, mais do que os outros anos, a Fórmula Hamilton. Eu estava certa, de novo!

Brincadeiras (reais) a parte, apenas essa teoria foi "comprovada". Todas as outras que listei acima, ficaram impossibilitadas de sequer serem discutidas, não sem uma "solução" possível.

De forma muito suspeita, quando já estávamos convictos que o pessoal da Mercedes tinham (e tem) tudo sob controle, tudo meticulosamente calculado, sabem exatamente o que podem dar prioridade e o que podem dar o luxo de errarem, estrategicamente quando resolvem o que é bacana para enaltecer os feitos do santo homem...
Quando a sua magnânima figura não está por perto, de repente, dão uma de Ferrari no pitstop? É amigos, a narrativa contada à exaustão  "do quão maravilhoso é o trabalho de Lewis Hamilton na Mercedes, na F1 e no mundo" permanecia até com ele fora dos holofotes. 

Lembram? Lascaram a corrida dos dois pilotos, do Bottas e do Russell, numa tacada só. E isso implicou em um monte de questões, mas nenhuma foi comentada dignamente.
Mas... Ah, sim, quem observa sabe: Russell foi muito "bichão" naquela corrida. O pit stop atrapalhado, acabou tirando dele a liderança, fazendo ser apenas quinto.
A vitória caia no colo de Sérgio Pérez, mas nas voltas finais, Russell já estava pronto para retomar a sua liderança. Só que um furo no pneu fez ele fazer outra parada e despencar de segundo para 14º, faltando 7 voltas para o fim. O fato de ter terminado a corrida em nono, com direito até a ponto extra pela volta mais rápida, fez a gente poder ter parâmetros para apostar no seu talento. 
Foi um desfecho espetacular, mas um pecado que não tivesse dado em vitória. 

Do isolamento, Lewis deve ter sacado que, a sua genialidade estava ameaçada. Nem 100% curado, ele já daria sinais de querer voltar a competir o último GP do ano. Pela fome que Russell estava pelo sucesso pleno, não adiantava acreditar muito que seria subserviente à Mercedes ser só o "tapa-buraco" no último GP do ano. O rei precisava certificar que ninguém esquentaria o seu trono... 
Para mim, também deixava uma coisa clara: a pressão em relação ao Bottas era sua pior inimiga. Ficou sem resultado favorável, e sofreu duras críticas.
E sem esse fator atrapalhando suas corridas, qualquer um podia ser genial com a Mercedes, sobretudo se estivesse no carro 44. Max Verstappen estava certo, então: 90% do grid era capaz de vencer campeonatos, na Mercedes. 

Vejam bem, não estou desmerecendo o Russell. Estou apontando para uma premissa verdadeira: piloto, todos são. Cada um tem uma facilidade que faz deles, quem são, como são e onde estão.
Existem muitos fatores inclusos no pacote? Sim, mas o maior deles é o maldito carro.
A gente coloca na pauta quem é mais ou menos talentoso, habilidoso... rápido, no dia que os carros das equipes forem idênticos e só mudarem a pintura e o nome da marca. Até lá, esse é o assunto é um só:: esse adaptou mais ao carro porque é o primeiro piloto, é mais novo, pagou para ter a vaga, e aquele não porque vai sair da equipe, é o segundo piloto, está com problemas de auto estima e etc.

Desgastante? É.
Então vamos aos resultados do GP d Sahkir 2020:


A lambança da Mercedes ofuscou todo o resto: as Red Bulls nem foram pautas. A vitória - que caiu no colo do Sérgio Pérez - foi dada como magnífica (ai, que preguiça disso... ¬¬').
Comemorou-se muito também o pódio do Esteban Ocon. Não mudava o fato dele ter sido muito, mas muito inferior a Daniel Ricciardo o ano todo. No entanto, sequer comentariam isso. Para a mídia, você é tão bom quanto a sua última corrida. (Eu permaneço ansiosa para vê-lo como companheiro de Fernando Alonso...)
Fechando o pódio, Lance Stroll. Mesmo não fazendo nada, Stroll tinha resultado. Para os tarados nos números, isso era o suficiente para falar que ele é bom. Logo, isso vai voltar à tona, na nova temporada, agora que ele passa a ser companheiro do Sebastian Vettel - que o pessoal ama em odiar.
(Já começaram, inclusive: nos testes de pré temporada, Stroll andou mais e "melhor" que Vettel com a Aston Martin. Já tem gente dizendo que Seb perdeu a mão mesmo ou nunca foi isso tudo...¬¬')

Para aquela premissa de que nem todos são talentosos - ou seja, alguns nem deveriam ser chamados de pilotos - eu tinha uma antítese: se nem todos são pilotos, pódio aleatório não podia ser atestado de qualidade. E aí?
Vou deixar vocês pensando nisso e vou contar os demais pontuadores:

► Em quarto, Carlos Sainz Jr.. No sábado, foi o 8º melhor na classificação. Lando Norris foi o 15º do grid e o décimo na corrida. 

► Daniel Ricciardo foi o quinto colocado. Largou do sétimo lugar. Era a quarta vez que Ric ficava "atrás" do companheiro, em 16 corridas. No primeiro GP, ele teve problemas no motor e Ocon foi o oitavo. No GP dos 70 anos, Ric foi o 14º e Ocon o 9º e em Portugal, Ric foi 9º  Ocon, 8º. 

► Alexander Albon foi o P12 no sábado, mas no domingo foi o P6 e estes foram os pontos da corrida para a Red Bull.
► Daniil Kvyat em sétimo também foi o único a marcar pontos para  Alpha Tauri. 
(Coincidentemente, eles se tornariam o rebaixado e o dispensado para 2021). 

► Como já mencionado, as Mercedes fizeram caquinha e o Bottas foi apenas o 8º e Russell o 9º. No Sábado, a dobradinha era praticamente certa. 

Não pontuaram:

► Pierre Gasly, em 11º (no sábado, foi o nono); 

► Sebastian Vettel, em 12º (e largou do décimo terceiro). 

► Na sequencia, as Alfas: Antonio Giovinazzi e Kimi Räikkönen. As posições de ambos no grid era, respectivamente: 14º e 19º.

► Kevin Magnussen fez o 16º tempo no sábado, na corrida não conseguiu mais do que o 15º. Pietro Fittipaldi largou do último, conseguindo o 17º lugar. 

► Em 16º o substituto de Russell - Jack Aitken foi o 18º na classificação (melhor "estreia" que Pietro...)

Abandonos/Acidentes:

► Charles Leclerc dividiu a primeira curva com Max Verstappen. O monegasco errou o traçado, bateu em Pérez (que rodou, indo para os boxes e ser o último colocado) e Leclerc foi parar na barra de pneus. Max que vinha atrás, não teve tempo de frear e também bateu na contenção. Fim de corrida para ambos sem nenhuma volta para contar a história.

► Nicholas Latifi abandonou depois de 52 voltas das 87, completadas. Um vazamento de óleo da sua Williams deixou ele na mão e à pé.

O placar da classificação com um adendo na Mercedes e na Williams:

Quem acha mesmo que placar da classificação serve para alguma coisa, aqui vai: Na Mercedes, Bottas superou Russell, fazendo a pole. Isso dava respaldo para quem quisesse dizer que Bottas tomava conta da Mercedes na ausência do Lewis e anulava a ideia de que houvesse pressão para a renovação do inglês.

Na Williams, foi a primeira vez que Latifi superou um companheiro; quando este não era Russell - assim, 1 a 0 pro canadense. Aitken chegou a ir bem sendo a sua primeira classificação e foi melhor até que o Pietro Fittipaldi, que parecia ter mais experiência e a Haas é melhor em comparação com a Williams.

Especificidades:

Piloto do dia: George Russell pela Mercedes.
Justamente os primeiros pontos de Russell na F1 não foram na Williams. Mas foi justo que tivessem escolhido ele como o nome da corrida. Além disso, ele fez a sua primeira volta mais rápida da carreira também: o tempo foi 0:55.404

► Depois de 9 anos na F1, Sérgio Pérez teve a sua primeira vitória na Fórmula 1. Ele se tornou o segundo piloto mexicano a vencer na categoria, o que não acontecia desde Pedro Rodríguez no GP da Bélgica de 1970. Foi também a primeira vitória da Racing Point. 

► Foi o primeiro pódio de Esteban Ocon, a primeira corrida de Jack Aitken e Pietro Fittipaldi. Neste último caso, ele se tornou o primeiro neto de um ex piloto de F1 a se tornar piloto oficial de uma equipe, e o quarto membro da família Fittipaldi a correr na categoria.
O Brasil voltou a ter um piloto na categoria desde o Grande Prêmio de Abu Dhabi de 2017. Naquele ano, Felipe Massa se despedia da F1 (e pela segunda vez... o.O).

► Apesar de terem dito por aí que Bottas teve uma corrida vergonhosa, ele fez o tempo de 0:53.377 e este é considerado o recorde de tempo mais curto de volta da história da Fórmula 1 desde o Grande Prêmio da França de 1974 em que Niki Lauda fez 58s790.

Por falar nele, se Max tivesse escapado do incidente na largada envolvendo o maníaco da primeira curva Leclerc e o Pérez, ele teria terminado a corrida, com reais chances de vitória.  Talvez, se isso tivesse acontecido, a Mercedes não teria arriscado aquele pitstop, e Bottas não teria ficado em 8º.
Mas se tivessem insistido mesmo neste cenário (já que tudo gira em torno de Lewis, mesmo) o finlandês teria perdido a segunda colocação na classificação geral para o holandês e o prejuízo seria grande. Marcando apenas 4 pontos, Bottas somou 205 totais e Max (se tivesse vencido) ficaria com 214. Era bem possível que isso acontecesse já que a Mercedes já tinha sido campeão nos construtores...

► Com a vitória caindo no colo, Pérez retomou a quarta colocação no campeonato, de onde não mais sairia, também, por sorte e falha dos demais. Ricciardo caiu para quinto e Leclerc não era mais o sexto e sim, o sétimo colocado na classificação geral.

Mas, no campeonato de construtores, a Racing Point voltou a ser a terceira força e a McLaren retornou ao quarto lugar.
Mesmo com o pódio de Ocon, a Renault permanecia em quinto, com 172 pontos. Reforçando a constatação dita no post anterior: mais da metade destes pontos, foram garantidos pelo Ricciardo - 112 para ser mais exata.

Estávamos chegando ao fim, finalmente. E aqui também, vamos para a penúltima postagem do balanço da temporada, sobre o GP em Abu Dhabi.

Até lá e abraços afáveis!

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