Sobre a mentalidade da educação

Peço espaço para fazer um desabafo. Peço também aos que trabalham com educação ou que tenham filhos e se preocupam com a educação deles, que se manifestem, se puderem e quiserem.

Não é de hoje que venho descontente com o ensino em nosso país. 
Fiz cinco disciplinas de estágio supervisionado. Tive outras tantas de licenciatura para me preparar para essa etapa de estágios. Tenho então dois diplomas em História: um bacharelado e outro de licenciatura. Deste último, pouco me orgulho.
Para ser sincera, me orgulho pouco de ter um diploma de uma federal. O curso foi raso, pouco desafiador. O jogo acadêmico é formado de batalhas. Não são batalhas do conhecimento, mas sim aquelas que se encara com espadas em mãos tentando vencer os egos dos seus professores. Foi meu caso e talvez não tenham percebido, mas foi de outros colegas também.
Antes de começar, em 2008, a graduação de História, eu tinha a maturidade (hoje, raríssima) de uma universitária. Passei em quarto lugar em um vestibular (em 2006) que não era "facilitado" por medidas como o ENEM. O nível era um pouco mais alto e específico em duas fases para cada área e departamentos. Não estudei nada. Passei um ano (por conta de uma greve das federais) só assistindo à aulas em um cursinho. Achei que arrasaria no novo curso: era Matemática.
Lá tomei um banho de água fria. Durante toda minha vida de escola, nunca fui ensinada a entender as coisas. Não me ensinaram a pensar. O pouco que pensei me garantiu um colegial super tranquilo: nunca cheguei perto de não passar em química, física, matemática ou qualquer outra matéria. Era trouxa o suficiente para ensinar colegas que dormia nas aulas e se desesperavam no fim do segundo semestre com reprovação batendo à porta. Naquela época ainda estudei com filhos de pais que ameaçavam a colocar os tais em escolas públicas à noite e forçar a arrumar um trabalho, caso seus filhos não passassem de ano. Hoje, a onda é outra.
O curso de Matemática era dividido em dois tipos de professores: os que queriam que você pensasse e respirasse números e cálculos, e os que absurdamente rolavam de rir ao "ferrar" seus discípulos, como foram quando eram estudantes. 
Saí do curso porque não concordava com a didática de uns e não conseguia me fazer entender com outros. Mas assumo: fracassei.
Fui para a História, novamente sem estudar no vestibular, sem contato com matérias de cursinho à 1 ano e meio. Fiquei melhor colocada que muitos,  em uma sala que tinha um bom número de segunda e terceira chamadas.
Ri de muitos professores que passavam colegas quando alertados pelos chorões da nota que "não se pode reprovar mais de 10% da turma". Não sei da onde tiraram essa ideia, pois certamente na matemática era os 10% que passavam... 
Durante uma graduação, sofri com o "assédio" de uma professora de índole duvidosa e ética inexistente. Por respeito a mim, declinei trabalhar para ela por não me identificar com a temática proposta. Lucrei em um ponto: por uma bolsa, ao menos não era a escrava que carregava livros e buscava seus cafés sem açúcar...
Optei por fazer o que gostava e fui subordinada a uma professora que até tinha respeito pela minha responsabilidade como aluna, mas não teve pela minha saúde. Fiquei uma pilha de nervos quando ela foi embora para outra cidade e me deixou sozinha para me virar na minha monografia.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. 

Nos estágios, achei as escolas boas, os alunos legais. Meu desconforto era com o descompromisso e bizarrices das coordenações e também, dos professores. Despreparo dos mais jovens e preguiça dos mais velhos. Tenho cada história que se eu contasse, daria fácil um texto de stand-up comedy. Mas se você parar para pensar mesmo, não teria nada de engraçado.

Esses dias um professor da minha universidade queixou-se dos alunos da graduação. A maior insatisfação dele era que nenhum causava empolgação e a falta de interesse o desmotivava como professor de tal forma que ele se via cansado.
Ontem, li um depoimento de um professor também do meu curso, na rede social Facebook em que ele justificava que deixaria a pós graduação. O instituto de História meio que podou suas produções "diferentes" na região (que só falam das mesmas coisas e dos mesmos autores). Quem propõe coisa "nova" ali está fadado a tomar chicotada de A a Z. 
Eu fui e sou uma delas. Apesar de elogiarem que eu pertenço ao que trabalho, que minha pesquisa sou eu, há os soberbos e egocêntricos que se acham em tal nível que gostam de me empurrar morro abaixo. Sacudi a poeira uma, duas e se tiver saúde farei isso 10 vezes se for preciso. Mas entendo que esse professor queira liberdade para ser aquilo que ele almeja, sem se prender às bobagens institucionais (são bobagens, a academia hoje é para inglês ver).

Engraçado que no mesmo momento que li a declaração do professor sobre seu abandono para ser livre e bem sucedido (e apoio completamente, embora um cara que pense assim só deixa poucos que prestam no instituto), deixei a internet para ler um livro (coisa rara, não é?) e recebi um telefonema da minha professora de italiano. Ela foi procurada por uma mãe de um aluno de escola particular cara da minha cidade com 4 trabalhos de recuperação para serem feitos mediante pagamento. A professora pegou um trabalho de espanhol. A mim veio um de História. Sobraram um de biologia e uma redação! (pasmem, bastava ler o texto em anexo sobre lixo e fazer uma redação sobre... qual a dificuldade nisso? Se chegou até ali, era capaz...)
Nunca fiz esse tipo de trabalho. Fiz uma cena em casa: reclamei, vociferei absurdos sobre a mãe e o aluno e a escola. Recebi a mulher que estava afobada. Ela pechinchou meu preço. Fiquei engasgada: queria dizer tudo sobre a má conduta dela como mãe, dele como aluno e da instituição que não deixaria o filho dela reprovar se o boleto estivesse em dia. "Que tipo de filho a senhora está criando? Um mimado que vai pagar trabalhos até na faculdade? Ah, vai pagar até o diploma não é? Rezo para não ser um profissional que eu vá precisar..." Mas a educação que minha mãe e meu pai me deram, me deixaram contemplando a cara dela, no silêncio. A cabeça à mil.

O trabalho era ridiculamente fácil. Não sei escrever como um garoto de 1º  colegial. Ainda mais se eu lembrar dos jovens de hoje. Fiz o que sei, do meu jeito. Se o professor perceber, não ligo. Simplesmente uma reprovação poderá ser uma lição. Se é que o aluno tem algum tipo de vergonha, o que duvido... Sei bem, dei aulas e não só de história. A aula é dada e de repente não se dá o trabalho de chegar em casa e estudar. Quanto volto a repetir o assunto e digo "Lembra?" vem sempre um displicente frase depois: "Ah, tá!" Eu sei, mesmo na pouca experiência que tenho, que não lembra coisíssima nenhuma! Mas se alunos são carentes, em uma escola é fácil contornar: se você se predispõe a estimulá-los, você descobre potenciais. Dá trabalho, mas se você quiser, só você pode fazer dar certo.
Tive esse choque em umas aulas que ministrei recentemente, aulas particulares. Doeu porque é parente próximo. Fiquei triste por não ser capaz de motivar a chegar longe, de caminhar com as próprias pernas. Do jeito que vai (e no descompromisso que tem de não chegar no horário marcado, não fazer tarefa e não estudar em casa) será eternamente dependente de alguém para ajudar a estudar. Um pouco é lerdeza, que corre nas veias. Quem nunca teve preguiça de estudar algo? Minha derrota era biologia. Mas dói mais ainda é o gasto que os pais tem em escola particular (que não é fácil) naquela ilusão de que o ensino é melhor que a pública. Sempre concordei que quem faz o lugar é a pessoa: se você se dedica, a escola é só um veículo. Mas decididamente o ensino está fraco, para todo lado. A capacitação foi para o lixo, qualquer um com diploma pode ensinar e é contratado. Na prática isso é um engano. Se a pessoa não tiver vontade, ela faz o nível cair. Por isso, hoje, as escolas e o ensino está assustador assim.

Quem é pai e mãe eu tenho um alerta: acompanhe seus filhos no que eles fazem na escola, e da escola para casa. Não tenha medo, cobre do professor (mas cobre conteúdo e não educação - educação se dá em casa). Rola uma bobagem cômoda na profissão professor: muitas pessoas correm para dar aulas pelo simples fato que é simples: férias duas vezes ao ano, só trabalha um turno geralmente. Acha-se um trabalho fácil. Não é. E dá trabalho. O grande lance é esse: ninguém se dá o trabalho de montar aula, de estar atento a todos alunos. Em dois anos assim, esgota-se e faz provas repetidas ano após ano, trabalhinhos para ajudar na nota, passa filmes e documentários só para poder ficar sentados e não se dá o trabalho de discutir, de debater... Chega no fim da vida, aposenta amargurados.
Tudo que eu ouvia nas salas de professores das 3 escolas que fui estagiária era reclamações que não tinham tempo, que não iam viajar porque o dinheiro estava curto e o governo não remunerava aumento à tempos e que o "fulano" deu trabalho, que o "ciclano" me tira do sério...

Minha irmã é professora de universidade particular. As provas dela, até eu as faço - não porque são simples, mas porque são lógicas. Com a aula dela (e a criatura fala pra danar) as provas não precisam mais do que uma olhada no caderno. Ela faz o trabalho dela. Ainda tem gente que fica de recuperação, reprova. E os que não reprovam, escrevem um português venusiano ou textos mais absurdos que de meninos do primário.
E o governo PT se vangloria de formar mais pessoas no ensino superior. Desculpa, mas eu olho em volta e não vejo vantagem nenhuma. Veja bem, tenho dois diplomas, um de bacharelado e um de licenciatura. Qualquer um tem. Tanto é que a 1 ano estou sem emprego, porque: a. optei por estudar e dar o meu melhor para passar no mestrado e b. não conheço ninguém que pode ser benevolente e me indicar a um cargo. 
Não puxei saco. Tudo que deu machucados profundos na minha vida e deixaram feridas abertas é porque não fiz aquilo que as pessoas queriam que eu fizesse, ou seja, "carregá-las no colo". Consegui o mestrado, com louvor: projeto de pesquisa nota máxima e prova, faltando 3,25 pontos para a nota integral. Acabei mal colocada porque uma pessoa estúpida teve medo que eu tirasse o lugar dos protegidos dela e perdi nota em uma entrevista. O medo e a soberba me atingiram porque eu estava sem escudo e desarmada. 
Agora posso perder a bolsa, pois minha situação socio-econômica não reflete bem como uma merecedora dela. Se eu me fizesse de coitadinha e esfomeada, poderia burlar uns documentos. Mas não farei porque não é certo. O certo tem que prevalecer, mesmo na sociedade que o errado é que triunfa. Pelo menos durmo tranquila: sou fiel à minha consciência.

A escola não me ensinou ser o que sou e pensar o que penso. Se dependesse dela, eu seria amarga como minhas "tias" do primário, cuja a raiva me fez esquecer boa parte delas. Seira estressada como as professoras do fundamental, que por ser escola de freiras, realçavam a moral, mais do que qualquer outra coisa). E seria descomprometida como meus professores de colegial que curtiam aulas porque era fácil, porque eram palhaços de circo e claro, nas festinhas soltavam suas asas e esqueciam das suas idades.
Não vou falar da maioria de meus professores de universidades. As vaidades deles ofendem.

E olha, não sei como terminar esse post. Talvez só afirmando que estou desgostosa com tudo isso? Que de forma pessimista, só acho que tende a piorar? ...
Fico no aguardo para saber o que pensam sobre.

Abraços afáveis!

Comentários

Ron Groo disse…
Seu texto tá perfeito.
E no que tange ao governo dizer que mais gente tem acesso a educação superior, bem...
Venho batendo nesta tecla faz tempo: estamos formando profissionais cada vez piores pela falta de uma educação de base forte.
E estes profissionais ruins que estão sendo formado agora, acabarão por formar outros ainda piores que eles.
Manu disse…
Obrigada Groo. Por conta dessa má formação superior, formarão outros piores, e eu choro por dentro só de imaginar no que nos aguarda.

Abs!

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