Dica de Leitura: Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo

A foto não favorece muito a capa e o livro em si, mas o lance é que eu quis exibir meu marcador lindão que minha irmã fez pra mim, do mascote do Denver Broncos (hehehehehe...).  Thanks, Mi! \o/

Já à algum tempo (o último foi em julho*) não faço postagens sobre livros que li e que recomendo a leitura a quem interessar por eles. É um exercício muito bom, já que guardo algumas impressões sobre os livros que por ventura, se eu decidir voltar a ler algum, posso ter visões diferentes, mais profundas, mais interessantes sobre eles. Ou não, o que pode ser perfeitamente possível também. 
Além disso, tive de dar uma pausa nas leituras mais corriqueiras, já que estava estudando para um processo seletivo. Eu consegui conciliar, em alguns momentos, alguns livros mais leves e não técnicos, para não estressar a cabeça. Mas chegou um ponto, que a memória em si precisou de um dedicação exclusiva. 
Sim, eu li muitos livros para fazer a tal prova, mas sinceramente, não me senti a vontade para escrever sobre nenhum deles - tendo em vista que já teria que fazer um trabalho mais exaustivo na própria prova (o que, pelo menos, rendeu bons frutos todo esforço que empenhei. Fica a dica pessoal: se há algo que vocês realmente querem, sentar e esperar cair do céu pode ser o caminho para muitos, mas não é o mais agradável, pois pode levar tempo. Se quer o caminho do "espertinho", bem, eu só lamento, pois quem é o enganado na realidade é só você. Tudo o que fiz para a tal prova foi adquirido sozinha, e com pensamento positivo e tranquilidade, me surpreendi com o bom resultado, mas sem me gabar, entendi apenas que fiz o que foi pedido e não procurei o caminho menos espinhoso - como procurar alguém que soubesse todos os livros de cor, para me passar resumos ou resenhas facilitando o entendimento. Até tentei, mas descobri muito egoísmo nesse ponto. De certa forma, me ensinou coisas. E fiquei grata por isso.)

Mas chega desse assunto, vamos ao livro. O livro é o Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo, de Leandro Narloch. Um jornalista, que, se soubesse (e talvez saiba melhor que eu) o tanto que odiado pelos historiadores... Já encontrei professores da minha universidade (A Universidade Federal de Uberlândia - não eu não vivo lá, eu moro e nasci em Araguari, sim com muito orgulho - não menospreze minha cidade, apesar dela muitas vezes fazer por merecer) que disseram que não via porque de um livro assim fazia sucesso. Bem, Narloch escreveu o mesmo guia, desmistificando alguns pontos da História do Brasil e também foi co-autor do mesmo exercício a respeito da História da América Latina. Eu li o da História do Brasil, e dei gargalhadas longas de coisas, que apesar de saber, afinal sou historiadora - apesar de não parecer, pois não sou militante, não uso camisetas do Che, nem vou à protestos, diga-se de passagem - não se comentas nas salas de aula facilmente, muitas vezes por falta de tempo - já que "olha que bonito", as aulas de história no governo PT diminuiriam bastante - ou por falta de conhecimento do professor, limitado pelo livro didático. Pois não se iludam, livro didático é também manipulado e quando saímos dos cursos de História - pelo menos esse foi o meu caso - temos uma dificuldade tremenda em se adequar ao sistema de ensino que é exigido para os jovens, hoje. Ficamos debruçados de muitos livros, mas nenhum deles nos dá passo a passo os acontecimentos da forma linear que é numa escola. Para preparar uma aula em uma 9ª série por exemplo, requer muita abstração, e claro, uma ajudinha do tal livro didático, que como o nome diz, busca ser didático, prático, mas nem sempre totalmente eficiente - por isso, existe o professor de História, para guiar as informações e fazer chegar nas respostas, ou nas possibilidades de respostas. Caso contrário, se você falar dos livros da faculdade, você se perde na aula, os alunos vão voltar para casa com muitas informações sendo que poucas delas serão absorvidas. E os jovens de hoje, na era da internet querem praticidade. Se quiser fazer do conteúdo amplo, seu sucesso será limitado a 5 alunos em 30. E eu estou sendo positiva. 
Um exemplo gritante do livro da História do Brasil, que me lembro e rio muito é sobre o Santos Dumont. O mundo aprende que os inventores do avião foram os irmãos Wright, right? Aqui não. "Foi Santos Dumont", diria qualquer brasileiro, estufando o peito, como um pombo imperial. Talvez Narloch seja detestado pelos historiadores pela postura do 'incorreto'. Mesmo que os profissionais da área busquem a verdade, eles vão se doer quando um jornalista faz isso melhor que eles. Só inveja? talvez não. Medo de perder trabalho? Possivelmente. Mas mais que isso: o historiador perde aquela visão antiga, lá de Tucídides, que poderia ser o único capaz de contar e explicar eventos históricos, fazendo refletir sobre eles. Com Dumont, aparentemente Leandro Narloch parece maldoso, ao indicar documentos (sejam livros, relatos ou patentes) que comprovariam que o cara não passava de um ambicioso a inventor, quando não muito um charlatão. Fere mesmo, o orgulho que brasileiro tanto tem, muitas vezes, sem motivo e sem medidas. Esse é o caso, o 14 Bis na real, dava alguns pulinhos, sequer era efetivo a alçar voo. Quando algum protótipo fez, os Wright eram os bem sucedidos. O que vale é a intenção? Se você acha que sim, o livro deixa em aberto para que você pense assim. Mesmo sabendo, você se posiciona a favor de Dumont, que tentou, pelo menos. 

O autor não diz nenhum absurdo, pois, assim como nós historiadores, ele separou bibliografias para poder dizer tudo que diz nas páginas. O 'desmistificar' não é apontar os defeitos puros e simples, como maldade, que alguns poderiam interpretar, jogar os feitos na lata do lixo. Ou maldade, ou preconceito, como a praga do politicamente correto sempre trás a tona. Eu o compreendi da seguinte forma: não existe perfeição nas coisas. Não existe apenas um lado heroico e bonito dos fatos. Existe também a parte que muitos, podem ter chutado para debaixo do tapete. Ele faz o que na realidade todo historiador deveria fazer: defendemos uma visão - a nossa - mas devemos mostrar todas as possibilidades possíveis, a partir do que encontramos nossa pesquisa. Se ocultarmos qualquer coisa, pois não gostamos do que lemos, por pura ideologia ou opção - não fomos profissionais imparciais.
Claro, é absurdo ser imparcial sempre, ou mesmo ético. Uma hora, erraremos feio. Estamos cientes disso. E é bom preparar-se para reconhecer ou reverter o erro. Por isso, é um ramo que pertence à chamada Humanas. Se fosse fácil, rápido, e tivesse uma fórmula única a seguir, estaria na Exatas. E olha que até na Exatas acontece os comentários acadêmicos do tipo "mas você usou esse autor, porque não o fulano?"... Em todo lugar haverá disputas de ego, de convicções, afinal, ninguém pensa exatamente igual a outro. 

No Guia da História do Mundo, Narloch busca novamente desmistificar certas figuras e até mostrar muito mais positivismo em atrocidades como a 2ª Guerra Mundial, o Nazismo ou o Apartheid na África. Ele mostra até - para muitos uma heresia certamente - que nem Gandhi ou Dalai Lama eram perfeitos - mesmo que todo o tempo, ele indica que os feitos desses homens para a humanidade não justifica ignorar só porque não eram completamente santos. Até a Madre Tereza tem seus "erros" apontados. Acima de tudo, estes foram humanos. E mesmo que ele, de forma descontraída, mostre o outro lado não muito bonito dessas pessoas perfeitas, ele sabe o que eles representam, da parte que realmente toca e importa para a maioria. 
O outro lado das coisas, sempre escondidas, garantem raciocínio, ou o primeiro passo para abrir a mente. Em duas oportunidades, Narloch critica a visão sempre simplista de Eric Hobsbawn para definir as causas de certos eventos. Quem, estando na História, teria coragem de dizer que Hobsbawn não responde a todos os seus anseios em uma pesquisa? Se alguém tiver,  é bom preparar pois vai tomar pedradas. 
Ri alto muitas vezes, especialmente quando Leandro fez um pesquisa apontando que figurões do PSTU ou mesmo do PT, "os esquerdas" brasileira são, ao contrário do que se pensa, o que mais aprovaram frases escritas por ninguém menos que Benito Mussolini (os políticos leram algumas frases do ditador sem saber que era dele e apontaram em números, se aprovavam ou não as frases-pilares fascistas). Então, é mesmo a direita conservadora que é a fascista? Talvez esse pensamento esteja mais presente em várias mãos, inclusive aqueles que possuem o poder, que a gente imagina...
Esse assunto cai como uma luva nesses tempos de intolerância política e intelectual que vivemos nesse paisinho. O último capítulo por exemplo, rendeu-me 32 duas excelentes gargalhadas. Narloch dedicou o capítulo final a apontar 32 duas razões para não levar o "comunismo" a sério. Ah, como eu ri! Principalmente porque visualizei os militantes de Facebook lendo e buscando sua mais linda desculpa: "Esse cara é um coxinha, já foi repórter da Veja!" ... 
É, pois é. Deixa eu rir só mais um pouco, posso?

Leiam e comentem - se puderem - sobre o que acharam dessa obra.
Fico por aqui. Abraços afáveis!

* Outros livros que já comentei:

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