Dica de leitura: Pimentas

Na semana que passou perdemos duas pessoas importantes na literatura: João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves.
Rubem Alves particularmente me deixou muito triste. Gosto muito de seus livros, comentei inclusive em outras oportunidades por aqui, sempre tive vontade de conhecê-lo... Mas ele se foi. Ficou muito doente, com insuficiência respiratória, o quadro acabou se agravando e "o homem que gosta de Ipês Amarelos" nos deixou. 
Uma prima e um tio espíritas comentaram que estes que partiram estão indo produzir seus textos em outro plano. Ao mesmo tempo, disseram que outros estão chegando para produzir aqui. Essa semana, mais uma notícia de apertar o coração: Ariano Suassuna está doente e internado... 
Podem me chamar de cética, mas a minha tristeza é tal que não consigo me ater a essa ideia de que os que estão aqui possam propiciar uma remota substituição destes que partiram ou estão na eminência.

Em meados de maio ganhei "Pimentas" de minha irmã e estava programado para publicar no blog assim que eu tivesse mais tempo para escrever um postagem digna para o conteúdo do livro e da pessoa Rubem Alves. E então me deparei em um estado de falta de palavras. Há talentos para a comunicação através do conhecimento das coisas, e isso, depois de ler tantas coisa que Rubem escreveu, percebi que jamais estaria  (e jamais estarei) a altura. Mesmo tendo terminado de ler o livro em dois dias, busquei outro exemplar para presentear uma tia, e me encantado com as interessantes crônicas que de fato apimentaram meu pensamento, fiquei com a sensação de que Rubem meio que se preparava para aquilo que não podemos fugir e que é a nossa única certeza na vida: a morte. Vários de seus contos falam de dor, tristeza, médicos, remédios, saúde e sim, de partida, de morte. Me senti triste desde então. Queria ter podido ter feito a postagem antes, mas de certa forma, acabou que só agora é a chance, poucos dias depois de sua morte. 


E eu até que ia escolher qualquer uma das crônicas que ele falasse dessas tristezas, mas decidi que não. Escolhi uma curta, de apenas uma página, simples, que fala sobre a beleza, deixando então o fim do post de forma mais leve. 
Leiam esse livro. Recomendo mesmo e peço que assim que fizerem a leitura, que me contem o que acharam. Há uma passagem sobre livros em "Sobre a função cultural das privadas" que achei o máximo. As três "Conversas com o Diabo" também são interessantíssimas, relatando coisas da humanidade... 
Rubem Alves era realmente incrível. Deixa saudade e um grande legado.

Abraços afáveis!

Sobre a Beleza *

Alma não come pão. Alma come beleza. O pão engorda, faz o corpo ficar pesado. A beleza, ao contrário, faz a gente ficar cada vez mais leve. Não é raro que os comedores de beleza se tornem criaturas aladas e desapareçam no azul céu, onde moram os deuses, os anjos e os pássaros. A beleza é coisa da leveza. 
Há dois tipos de beleza.
O primeiro é a beleza que os deuses oferecem aos homens como dádiva. Ela cai dos céus, à semelhança do maná. A segunda é a beleza que os homens oferecem aos deuses como dádiva. Ela sobe da terra aos céus, como fumaça ou bolhas de sabão. 
Conhece-se a beleza dádiva dos deuses por aquilo que ela produz na alma do homens. Quem é possuído por ela entra em êxtase: cessa o riso, cessa o choro, o pensamento para, a fala emudece. É mística. A alma está tomada pela felicidade da tranquilidade absoluta. Era assim que se sentia o Criador ao contemplar, ao final de cada dia de trabalho, o resultado da sua obra: "Está muito bom" Do jeito como deveria ser! Nada há de ser modificado! Amém!"

*ALVES, Rubem. Pimentas: para provocar um incêndio, não é preciso fogo. 1 ed, São Paulo: Planeta, 2012, página 54.

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