Notinhas ácidas (ou não) da F1 2021 (3)

Peço desculpas pelo remoto sumiço. A Race Week de Mônaco me pegou em uma das minhas semanas mais cheias de afazeres do meu doutorado. 
Mas, para que não se esqueçam de mim, cá estou com algumas notinhas. 


Lembrando que as notas sarcásticas, podem soar contraditórias para os recém-chegados, mas na verdade eu estou tentando ao máximo explorar o meu lado sarcástico e/ou cínico.
PS: Não quer dizer que serei bem sucedida. 

Nota 1:

Se para alguém ainda não ficou claro que ter o carro melhor desenvolvido e equilibrado do grid influencia tanto (ou mais) do que imaginávamos na atual F1 para ganhar títulos, então sugiro voltar lá em meados de 2014 por aí, e se propor rever esses seus conceitos.
Pode ajudar a construir um argumento possível ao bater o olho nas últimas quatro etapas de 2021 e observar  que Max Verstappen tem muito mais voltas na liderança do que Lewis Hamilton. São 144 voltas na ponta contra 75 do piloto inglês.

É de cair o queixo que, dada as circunstâncias, Max não esteja na liderança do campeonato, já que tem o melhor carro do grid

Nota 2:

A surpreendente reviravolta muito às custas da genialidade, habilidade, destreza do Lewis é a maior sacada da nova era da categoria, desde de... 2014, também, como não?
2016 foi um caso à parte: foram quatro pontos escapados como vantagem para Nico Rosberg, mas jamais podemos usar ele e Lewis como medida comparativa. Foi sem querer que Hamilton perdeu aquele campeonato, afinal, ele é de outro mundo

Sobre isso, podemos relembrar que em 2017, Sebastian Vettel liderava o campeonato até meados daquela temporada. No entanto, em termos de voltas encabeçadas, Lewis tinha o dobro em relação à ele. Sebastian estava fazendo milagres por acaso. Talvez. No entanto, no fim daquele ano os astros se realinharam: mais um título para Lewis e Vettel começou a ganhar fama de "piloto mediano" que só vence quando um bom carro nas mãos.

Talvez devesse, mas não quero comentar 2018 e a insistência da mídia em vender que a Ferrari tinha o melhor carro do grid.

Tradução: "Esqueça isso"

Nota 3:

Peço permissão para voltar atrás logo de imediato. 

Sim, preciso falar de 2018.
Assim como em 2017, Vettel liderava o campeonato até um pouco mais da metade das corridas. No final de todas delas, uma única Mercedes ressurgente deu às caras e como num passe de mágica, Lewis esfregava na nossa cara mais um título. 

Genial, não?

É isso que vende. E isso que é repetido, majoritariamente por críticos, entusiastas e fãs de esporte à motor.
Já se começa a abafar o assunto de que a Red Bull teria o melhor carro para contar com esse fator extraordinário de que Lewis é tão, mas tão mais habilidoso que ele, que com um carro dos Flinstones, vai continuar tendo um ritmo de corrida muito superior ao Max. 

Hamilton é mais experiente e comete menos erros. Só piloto de equipe de ponta que não atende pelo seu nome, que tenha 13 para 14 anos de F1, é que é julgado como problemático por cometer erros bobos. Não existe essa de piloto que é blindado pelos erros ou consegue recuperar rapidinho quando ocorre miseráveis falhas.

Há ainda outro grande argumento para reforçar que Lewis é fantástico: o fato de Max correr sozinho e precisar de um companheiro de equipe escudeiro. Nessa, "o exalta samba" em torno de Hamilton se torna dificílimo de refutar. Ele nem precisa que Valtteri Bottas seja o perfeito segundão (embora seja); ele se vira sozinho (com aquela marota ajudinha dos rádios coach).

Tradução: "Fascinante"

Nota 4:

Acho difícil colocar uma pedra no assunto sem dizer que, estamos sendo enganados desde o princípio. Com os testes da pré-temporada, se incutiu na cabeça dos não muito espertos seres que acompanham esse esporte, a ideia de que a Mercedes não tinha mais um carro imbatível.
A jogada, que pode muito bem ser chamada de blefe, pode ter sido exatamente um teste reverso. Não testar o que funciona, mas projetar todos os possíveis problemas que poderiam surgir para então começar aos poucos a temporada como se estivesse basicamente, "em ajustes".

Com discurso de muito trabalho a fazer os "acertos certeiros", mais algumas horas de simulador para alcançar o timing certo, encaixam aí ultrapassagens nas voltas finais que causam "furor", vencem a corrida, e levantam a poeira *cof-cof* da competitividade.

Tradução livre: "Grande 'uau'"

No fim, a Red Bull está emulando a Ferrari de 2017 e 2018: assim como eles, podem até darem show com seus pilotos centrais, mas a Mercedes tem todo o desenvolvimento de carro necessário para emplacar sutilmente outro título, o oitavo. De que maneira? Oras, simples: o ritmo de corrida da Mercedes ainda é superior e isso se dá, obviamente, porque eles arrumaram a casa lá nos testes de pré-temporada. 

Nota 5

2020 foi, sem dúvida, o caso que, na grande maioria das vezes, a Red Bull não foi rápida o suficiente para vencer a Mercedes por mérito. Foram dois momentos em 17 corridas que isso não aconteceu: no GP do 70º aniversário, onde a Mercedes errou na estratégia de pneus e Verstappen aproveitou dando seu show e em Abu Dhabi, onde depois de um ano diminuindo gradativamente a diferença para os rivais, a Red Bull finalmente conseguiu vencer a Mercedes.

Este ano, o cenário é mais complicado, não porque a Red Bull estaria muito mais próxima da Mercedes, como gostaríamos que fosse. A Red Bull foi, até agora, competitiva em uma única volta rápida: Verstappen conquistou a pole no Bahrein e sem dúvida tinha condições de fazer isso em Imola e Portugal, também. Mas não fez. E apenas em uma, das quatro etapas, venceu por mérito próprio - mas não teria, se não fosse por uma obra do acaso, que travaria Hamilton na segunda posição.

Esse 3 a 1 para Hamilton é atribuído, sem nenhum rubor, à genialidade do piloto, não é? Um cara que não faz vistoria de pista quando chega no circuito e que já admitiu não gastar tempo com simuladores.  Isso é, no mínimo, curioso.  

Tradução: "Curioso... Muito curioso"

Nota 6: 

Por falar em simulador, lembrei da palavra "dissimulado". 
Desculpem o tom, mas é isso que se trata a acusação do último GP da Espanha, a partir de Hamilton, que do nada, assim como quem é muito observador, disse que a asa traseira da Red Bull é flexível ou dobrável, e sendo irregular, aparentemente ajudaria no rendimento do carro, sobretudo nas retas. 

Chamo de dissimulado o cara que não usa simulador e que nunca sabe se os seu pneus dão até o final de uma corrida e etc., mas que de repente entende de asas flexíveis! Quem diria?
É ainda mais intrigante que, a Mercedes também tenha uma "flexibilidade" nas asas dianteiras e, embora não tenha nenhum vídeo mostrando como isso funcionaria em termos de ganho e potência de forma irregular (como foi divulgado em relação à Red Bull) se coloca que a equipe dos touros vermelhos estariam "trapaceando" e a Mercedes estaria apenas mostrando os fatos.

Assim, já temos todo o ferramental para considerar a RBR a grande vilã da temporada, e bastaria apenas um toque - do tipo tooooque mesmo, de arrancar tinta ou estourar um pneu - entre Hamilton e Verstappen, para começarem a fazer do Max um protótipo do Darth Vader que já comentei por aqui.

Nota 7:

Ao que tudo indica, a FIA mudou os critérios de medição dessas asas, irão checar a irregularidade da peça e colocar Red Bull e por extensão a Alpha Tauri, a Alpine, a Ferrari e por extensão a Alfa Romeo e a Haas, para mudarem as asas a partir do GP da França. 

A chiadeira da Mercedes é feroz, pois insistiriam que essa mudança deve ser adiantada para Baku, onde acreditam que essa flexibilidade da asa daria vantagens para a rival. 
E o bicho pega pois, por conta desse mimimi desenfreado da equipe que tem mais grana, tempo e pessoal para ficarem criando intriga, fazendo uma cortinona gigantesca de fumaça e ganhar vantagem em cima dos trouxas, vão ter que rebolar para fazer algo certinho na regrinha, porque os bonitões chamaram a atenção da FIA. 

Ou vão em dizer que Mercedes não tem das suas maracutaias? 

Tradução: "Ah, ok, é. Claro."

Nota 8:

Depois de comentar tudo isso, podemos entender porque raios Hamilton e a Mercedes estão com esse papo. O piloto já deu a deixa sobre começar a achar difícil lidar respeitosamente em disputas com Max e Toto já teria liberado a deixa para fazer acusações em relação aos carro da RBR. Porque disso? Para se resguardarem das ameaças e fazerem jogo psicológico. 

A Red Bull e o Verstappen estariam muito próximos de empatarem com a Mercedes, em número de vitórias, nos próximos dois GPs - o deste fim de semana, em Mônaco, e o seguinte, em Baku. Isso, em tese. O que se pensa é o seguinte e talvez não seja nenhuma maldade entrar nessa seara: 
Temos então que as Mercedes possuem um ritmo de corrida muito melhor que os carros da Red Bull, que são rápidos nos sábados. Os ponteiros funcionam melhor com os pneus duros, e por isso, o rendimento de corrida é elevado.

Outra ideia é que a Mercedes teria melhores condições de desenvolver bem uma corrida em climas mais amenos e frios. Deste modo, qualquer composto de pneus funcionariam, sabendo que eles não costumam errar nessa estratégia - desde o momento da parada, até o composto escolhido. 
Essas parecem ser as tendências do que acontece, sobretudo por termos 2020 de espelho. A Red Bull se dava melhor com pneus macios. Tanto que venceram a segunda etapa em Silverstone, quando a Pirelli trouxe compostos que eram menos duros do que os usados ​​na corrida anterior. A Pirelli só trouxe seu composto mais macio, para duas corridas no ano passado: Verstappen venceu uma (Abu Dhabi) e terminou apenas sete segundos atrás do Bottas, o vencedor do GP da Rússia.

Por isso, entrando nessa de climas mais quentes, a Red Bull poderia começar a montar um ataque, um pulo do gato, para garantir que fique, ao fim de Baku, 3 a 3 para Max e Lewis.
Logicamente isso não vai fazer com que ganhem o campeonato, pois o fator segundo piloto é necessário nesse quesito e duvido muito que o Sérgio Pérez consiga responder às expectativas. Também é de se ter em mente que a Mercedes, depois da pausa de agosto, virá melhor, sem sombra de dúvidas.
Porém, é bem possível que esses 3 a 3 desse um pouco mais de crédito ao Max que tem, mesmo diante de tudo isso, feito a gente ficar aqui na festa mais um pouco, mesmo sabendo que não vai ter bolo. 

Tradução: "Não tem bolo?"

Nota 9:

Lewis Hamilton afirmou que a Fórmula 1 se tornou um "clube de meninos bilionários". O piloto da Mercedes relembrou as origens humildes e considerou que, se tivesse de recomeçar agora, jamais chegaria ao Mundial

Não sei o que aconteceu mas em 13-14 anos, a F1 mudou muito. Saiu de uma categoria de meninos humildes, que construíram as suas carreira de baixo, marinando em equipes de fundo de grid, isto é fracas e ruins, para alçarem postos mais altos em equipe média, se destacarem por talento, chegarem à equipes de ponta e conseguirem pinçar um ou dois títulos, no máximo...
O Lewis por exemplo, começou na McLaren, uma equipe desconhecida e pouco tradicional, de fundo de grid... 


Nota 10:

Então, vamos para a Mônaco? Que empolgação ver aqueles carros grandões fazendo curvas quadradas, esperar alguém dar aquela lambida nos muros só para gritar "seu burro!" e xingar até virar do avesso. 


Não assisti os Treinos Livres por motivos justos: estava apresentando um trabalho, durante toda manhã.

Possivelmente não perdi muita coisa, sobretudo no que se refere à informações dadas pela transmissão brasileira. O desserviço é marca registrada, não acrescenta e nem agrada (vou sugerir o slogam, por sinal).

Mas deixo aqui os tempos para vocês comentarem sobre o que assistiram e destacarem o que quiserem:

Por aí, ainda não temos a confirmação de que a Red Bull se dará bem em Mônaco. Mas amanhã e domingo, são outras histórias.
Será que a Ferrari vem mesmo forte? E será que Charles Leclerc perde a zica de casa? 

Bom fim de semana à todos, se puderem descansem muito (pois é o que preciso fazer) e cuidem-se (como sempre)!

Abraços mega afáveis!

Comentários

Mário Paz disse…
Com a devida licença da Manu, minhas notas:
1 - Sim, você foi bem sucedida, os risos que me escaparam durante a leitura são a prova
2 - Vetel liderou os campeonatos de 2017 e 2018 com um carro inferior a Mercedes, sem dúvida, e isso pesou contra ele, lobby do "carro ruim" da Mercedes jogou uma obrigação de vencer que ele Vetel não tinha
3 - Algo que escapou das análises no GP da Espanha, Lewis dizendo que não sabia que foi dado ordem a Bottas para abrir passagem...deve ter esquecido o celular nos boxes, mandaram o zap mas ele não leu
4 - Lewis já percebendo que tem levado couro no roda a roda com Max já está fazendo insinuações de que o "garoto" não tem nada a perder e etc...Sentiu !
5 - Manu foi muito malvada explicando as origens "humildes" do LH na Mclaren kkkkkkkk
6 - RBR prejudicando de novo a narrativa do "melhor carro do grid"...te cuida Leclerc e Sains, afastem essa zica porque ela é forte
Manu disse…
Vou às suas notas, Mário:
1- Obrigada! Minha intenção era arrancar risadas, mesmo rsrs
2 - Completamente. Vettel ganhou exatamente isso: uma obrigação de vencer que estava além, nem de suas limitações, mas de uma limitação de carro, sobretudo.
3 - Eu não sabia que LH disse que não sabia da ordem ao Bottas... Cara de pau, heim?
4 - Essas insinuações (infantis) de Lewis é o que mais me irrita nele. Mau perdedor desde... sempre!
5 - Minha nota ácida no ponto alto!! kkkkk
6 - Ferrari zicou o seu favorito! Sobrou apenas Sainz na corrida, sorte que deu tudo certo.
Vamos ver até qd eles não "prejudicam" o espanhol.

Abs!!

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