Temporada 2021: Grande Prêmio da Itália

Dificilmente, vocês não irão ler textos sobre a corrida de Monza mais certeiro que esse que trago hoje para o blog. 
Confiram!

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 "Surreal?" - por Marcio Kohara*

Talvez soe surreal pra quem vinha acompanhando a temporada ou até para quem viu o que aconteceu na sexta-feira, mas Daniel Ricciardo foi o vencedor do Grande Prêmio da Itália de 2021. O australiano fechou a sua sequencia de azares e encerrou os seus 1231 dias sem vitória (desde Mônaco 2018, ainda na Red Bull). Já a equipe criada por Bruce McLaren encerrou um jejum mais longo, de 3213 dias sem levar um piloto ao posto mais alto do pódio (Brasil 2012, Button) e outro, de 4109 dias sem dobradinhas (Canadá 2010, Hamilton e Button). 


Curiosamente, é a primeira dobradinha de uma equipe no ano, o que chama atenção, dado o domínio de Red Bull e Mercedes no ano. Mas a 48ª dobradinha da história da McLaren (em 183 vitórias) teve direito a sorrisos, formação de honra de seus carros na volta de desaceleração, ligação de felicitação dos pais no parque fechado e “shoey” no pódio. 

O final de semana foi tão feliz que até uma fã de Ricciardo conquistou o torneio feminino do US Open de tênis, Emma Raducanu. Só alegrias. 

É bom deixar claro que a vitória da McLaren em Monza até foi surpreendente, mas não foi tão atípica quanto pode parecer. Afinal, desde sexta-feira os carros laranjas mostravam que tinham um bom acerto para baixa pressão aerodinâmica -tanto que Ricciardo e Norris ficaram entre os cinco primeiros na classificação e na corrida Sprint. 

Contar com eventos de corrida que possam acontecer aos adversários, aproveitar as oportunidades e acelerar o necessário é o segredo para se vencer corridas. Daniel Ricciardo fez isso e mais, já que terminou a corrida fazendo a melhor volta da corrida. A redenção do australiano rendeu a combinação de hino australiano com hino britânico, que não eram executados em conjunto desde outubro de 1981 (com Alan Jones, pela Williams, em Las Vegas).

Uma corrida perfeita, que celebra a redenção da McLaren. Equipe reerguida muito pelo grande trabalho do norte-americano Zak Brown, que colocou o império laranja de volta ao caminho das vitórias depois de capengar na última década sob o comando de Ron Dennis e Fernando Alonso. Que conta com a batuta do alemão Andreas Seidl, diretor técnico da equipe, e maestro de celebrações nesta tarde. 

Se a questão fosse de merecimento, muito possivelmente esta vitória caberia a Lando Norris. Mas nem sempre a história premia o merecimento ou o retrospecto do piloto na equipe. É a oportunidade. E, de fato, o inglês teve outro final de semana sem erros, mas acabou superado por Daniel Ricciardo nas duas corridas (tanto a Sprint quanto o GP). De toda a forma, o segundo lugar é a melhor colocação da carreira do inglês, que está na briga por uma terceira colocação no campeonato de pilotos e é o típico resultado que, se tivesse sido oferecido no começo do final de semana, teria sido aceito sem nenhuma dúvida por Lando. 

Fechando o pódio, ficou Valtteri Bottas, naquele que possivelmente foi o melhor final de semana dele neste ano. Pode ser a redenção em uma temporada complicada, numa semana ruim, em que foi dispensado pela Mercedes para temporada que vem -vai para a Alfa Romeo. 

Claro que o pódio não veio sem contratempos. Bottas foi obrigado a trocar de motor na sexta-feira. Como é o 4º conjunto do ano, foi punido com a obrigação de largar em último. Mas, de resto, o finlandês teve um final de semana quase perfeito. Um pouco graças ao motor novo, claro, mas o 77 o melhor tempo da classificação mesmo sem desfrutar da ajuda do vácuo. E, depois de largar na posição de honra na Sprint, venceu também sem maiores sustos. Se não fosse o detalhe de ter largado em último, muito provavelmente teria vencido o GP, já que escalou o pelotão com alguma facilidade. Contou com a sorte do Safety Car aparecer para neutralizar as diferenças e assim conseguir chegar até o pódio, mas, sem estar na posição certa, não teria aproveitado esta chance. Sem sorte não se chupa nem um picolé. 

Falando em Safety Car, podemos falar um pouco sobre o acidente que obrigou a sua entrada. Foi a primeira vez que Hamilton e Verstappen abandonam a mesma prova -o que é curioso, já que parecem bater rodas todo final de semana. E, como está virando tradição em finais de semana com corridas Sprint, Lewis Hamilton e Max Verstappen se encontraram na pista em um acidente polemico. 

Hamilton largou contra Norris apostando nos pneus duros, enquanto Max brigava com Ricciardo um pouco na frente, os três na estratégia padrão. Mas a estratégia diferente não funcionou tão bem e Hamilton acabou ficando para trás. Porém, o pit-stop da Red Bull foi desastroso, o que fez com que ambos se encontrassem na pista na saída da troca dos pneus de Hamilton.

Sobre o acidente em si, vale ressaltar que a segurança na Fórmula 1 evoluiu muito e um acidente deste tipo seria potencialmente fatal há poucos anos. Cabe um estudo para investigar a resistência do santo-antonio, mas, no geral, o impacto de um pneu preso no carro sobre o capacete do piloto terminar apenas em um susto e um pouco de dores -e o piloto que sofreu o impacto tentando voltar a pista-, parece um resultado muito bom. Pode melhorar? Sempre pode melhorar, mas isso foi muito bom. 

Analisando o que aconteceu na pista, se nenhum dos dois concorrentes der espaço para o adversário, os dois irão colidir. É fisicamente impossível fazer com que os dois carros ocupem o mesmo espaço ao mesmo tempo. Por mais que ambos sejam pilotos geniais, não vão conseguir transgredir a lei física da impenetrabilidade, que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Portanto, alguém teria que ceder naquele momento. 

Em Silverstone, Hamilton não cedeu. A prerrogativa da posição era de Max, e por isso o inglês acabou punido. Em Monza, a situação foi inversa. Nas duas ocasiões, ninguém cedeu, então a colisão foi inevitável. Mas em algum momento, o holandês terá que pensar melhor se vale a pena manter o orgulho de não perder uma dividida ou abrir mão de posições para chegar, como Hamilton já fez em algumas ocasiões com o próprio Max neste ano - Ímola e Barcelona, por exemplo. Afinal pontos se conquistam com corridas completas. 

Claro que, se os dois pilotos saem da pista, a vantagem é de quem está na frente do campeonato -no caso, Max-, mas este é um cenário que pode mudar. Sete pontos é uma diferença pequena na atual situação. Por isso não dá pra usar a teoria da falta-tática, como Toto Wolff fez. Não faz sentido fazer falta-tática se quem bate sai da corrida também, mesmo em vantagem no campeonato, quando ainda tem muito campeonato pela frente. Também parece risível sugerir que Max teria sido insensível ao deixar o carro sem ao menos ver se Lewis estava bem. Considerando que o piloto da Mercedes tentava dar a ré e tirar o Red Bull de cima do carro dele, inclusive atrasando a saída do holandês do carro, parecia estar muito bem e não necessitava de maiores checagens.

Na briga pelo título, dá pra dizer que a Mercedes sai pior de Monza porque era um cenário favorável pros alemães e a Red Bull chegava falando em conter danos. Sair no zero a zero assim é vantajoso para os austríacos (ou 2 a 0, no caso de Max contra Lewis, se contarmos os pontos da Sprint). Porém, com as chances apresentadas na corrida, se faltarem pontos para Max no final do ano podemos desconfiar de onde poderiam sair. E perder posições no grid para a corrida seguinte nunca é bom. Ainda mais numa pista difícil de passar como é Sochi. 

Pela Ferrari, Charles Leclerc ficou em quarto e Carlos Sainz ficou em sexto. Ambos pareciam sem forças para enfrentar McLaren, Mercedes e Red Bulls. O resultado da corrida para a Ferrari foi ruim, já que viu os rivais pelo terceiro lugar no campeonato de construtores com uma dobradinha enquanto nenhuma dos carros vermelhos foi ao pódio. Mas poderia ter sido pior.

Em quinto, Sergio Perez, que não aproveitou uma boa chance de sair com um pódio de Monza. A punição por ter ultrapassado Stroll por fora das faixas brancas custou cinco segundos na classificação geral e a posição no pódio, já que Perez chegou a frente de Valtteri Bottas na corrida. Mas, no geral, falta um sábado sem intercorrências para o mexicano conseguir capitalizar no domingo -apesar que a volta de classificação é uma deficiência histórica de Checo.

O sétimo foi Lance Stroll, que não brilhou, porém sobreviveu a um final de semanas em que precisou de ombros fortes dadas as diversas disputas de pista em que se envolveu. Seu companheiro Sebastian Vettel, que também esteve envolvido em algumas das disputas do canadense, terminou só na 12ª posição.

A Alpine teve um final de semana honesto, pontuando com seus dois carros. Fernando Alonso foi 8º e Esteban Ocon foi o 10º. Não foi bom, já que potencialmente terminaria atrás da AlphaTauri de Pierre Gasly, mas pontuar com os dois carros nunca é um desastre. George Russell terminou com a nona posição, o que é bom para aquilo que vinha sendo a Williams até as férias de verão. Latifi também passou perto dos pontos, em 11º.

Antonio Giovinazzi teve, mais uma vez, aquilo que ilustra bem o que tem sido a temporada dele e da Alfa Romeo. Uma ótima sexta-feira e um sábado positivo encerrados por um acidente na primeira volta. Desta vez o erro foi do italiano, que escapou na variante della Roggia e voltou fechando Sainz. Com o toque inevitável, acabou no muro, estragando a asa e acabando com o final de semana que, mais uma vez, parecia promissor. Kubica não comprometeu, mas também não dava para esperar muito mais na segunda corrida em que substituia Kimi Raikkonen, que deve voltar na próxima corrida. 

Desastre completo foi para a AlphaTauri, vencedora do último GP da Itália. Tsunoda não conseguiu largar e, Gasly, depois do acidente na Biassono na Sprint, também não conseguiu completar mais do que 3 voltas. A Haas foi melhor porque terminou a corrida. Apesar do carro não ajudar, Mick Schumacher não brilhou e acabou até se chocando com Nikita Mazepin. O russo, por sua vez, ainda tomou uma punição de cinco segundos por não evitar o isopor na saída da pista na curva 1.

Sobre a corrida em si, o resultado foi inesperado e a vitória foi para um piloto e equipe diferentes, o que é sempre muito bom nessa era de 55-60% de vitórias para um único piloto e 65-70% de vitórias para uma única equipe. Mas, no fim das contas, a dinâmica das corridas (tanto Sprint quanto o Grande Prêmio) foi bem monótona. Fora as largadas, o acidente entre Hamilton e Max e a entrada do segundo Safety Car na corrida -que alterou um pouco as estratégias-, e a escalada de pelotão do Bottas, pouca ação aconteceu. 

A culpa é dos carros, que são muito sensíveis a turbulência e acabam desgastando e esfarelando os pneus dos perseguidores, tirando desempenho e impedindo que aconteçam tentativas de ultrapassagens. A esperança é que os novos carros permitam a perseguição mais próxima, permitindo que o vácuo faça o restante do trabalho e ajude nas ultrapassagens. Só nos resta rezar.


* Márcio Kohara é jornalista, responsável pelo conteúdo do Clube da Velocidade no Twitter e também o coordenador das lives de segunda-feira do Canal no YouTube

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Eu não disse? Texto certeiro, sóbrio e também, completo!
Obrigada pelo aceite, Marcio!! 

E hoje, mais tarde, a gente se vê (eu, possivelmente) na live de segunda do Clube, às 20 hs. 

Abraços afáveis e comentem suas impressões da corrida!

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