Chapter 6: GP da Espanha

A temporada da F1 2020 está muito semelhante a uma sitcom famosa ou novela reprisada no Vale a pena ver de novo. Nos dois casos, são populares, cheias de clichês e a maior parte do público, já viu todos os capítulos. 
Não é a toa que todo título de postagem pós corrida, vem o "chapter" - "capítulo" em inglês - seguido do nome do GP. (Ano passado eu usava "novelinha"...)

Posso dizer, com certa certeza, que 90% de vocês, num momento de folga, zapeando pelos canais da TV, acabam parando no canal Comedy Central quando está passando Um Maluco no Pedaço ou Todo Mundo Odeia o Chris.
Eu também faço isso. 
No primeiro caso, eu assistia os episódios quase todo dia, quando era mais nova, pelo SBT. O segundo é mais vexatório, mas admito: sei as falas de cor e algumas, eu uso no dia a dia, já passando dos 25 anos.
Que raio de comparativo é esse? Oras... A gente sabe todos os episódios das nossas sitcons favoritas, revemos novelas no canal Viva ou no Vale a pena ver de novo, sabendo o que vai acontecer com a Fulana e o Ciclano... E mesmo assim, gasta um generoso tempo, prostrada ou prostrado em frente a TV, feliz da vida. 
Minto?


Fiz uma comparação chula? Pois bem. Imaginem o episódio que o Chris vai no debate para presidente do grêmio. Todo mundo ri bastante das respostas rasas do Caruso: "uva hoje, uva amanhã, uva sempre",é a solução para suco na cantina. 
Eu já perdi as contas de quantas vezes vi esse episódio. E a gente chega a se empolgar junto com os estudantes na cena. E ri como se a piada fosse inédita, da cara de descontentamento do pobre Chris. 

É a mesma coisa na F1: "Hamilton/Mercedes hoje, Hamilton/Mercedes amanhã, Hamilton/Mercedes sempre". É a piada repetida que a gente ri como se fosse inédito. Começa outra temporada e as piadas seguem o padrão de sempre. 

O que é o GP da Espanha? Para mim é o equivalente a um episódio que teve algo que foi tratado com bom humor, mas no fundo, é triste pra caramba. É mais ou menos como o episódio de Um Maluco no Pedaço em que o Will encontra o pai dele depois de 14 anos de abandono. (Dizem que os atores de fato ficaram emocionados, na cena.) Ou, no caso da série do comediante Chris Rock, qualquer capítulo mostra o racismo latente e o sofrimento de ser um garoto negro numa escola de brancos, o tempo todo. Se formos parar para pensar, no pragmático, isso não tem graça. 

Esse é o GP da Espanha. A gente assiste de trouxa, pois qualquer migalha serve para o viciado em Fórmula 1.  O circuito proporciona pouquíssimos desafios. Porém, ultimamente, qual está sendo absolutamente excelente? Nenhum né? Então, não precisamos atacar tanto o circuito. Até os bons estão sendo bem fracos em termos de resultados.
As temporadas, são o macro do GP espanhol: A categoria máxima que prioriza o espetáculo formalizado em tecnologia de ponta, e os pilotos - que usam "máscaras" antes de serem obrigados pela pandemia - são tolidos e moldados a partir do que provavelmente, não são. 

O que quero dizer? Há quase 10 anos, não temos clareza do que é talento e técnica ou consequência de uma adaptabilidade à tecnologia de seu carro. Talvez nunca soubéssemos, mas que isso está mais evidente agora, vocês precisam concordar.
Andamos atrás do rabo. Ou, simplesmente, assistimos ao capítulo de Um Maluco no Pedaço só para ver o Carlton dançar "It's not unusual" do Tom Jones. 


Só porque foi fantástico, não quer dizer que não enjoa.

Mas havia algo que nos atraía para o GP: o fato de que a F1, em condições normais, não tem corridas em pleno verão. Supunha-se que o desgaste dos pneus dariam "emoção" para a corrida, já que estava muito quente na Espanha. Percebem o quanto é triste? Precisarmos de um só fator para poder contar com um resultado um pouco diferente do premeditado.

Eu acho triste. A F1, por ser o mais alto ponto que um profissional pode chegar, não deveria ser aquela em que o fator humano manda no campo e o resto ser apenas bônus? 
"Ah, mas o que adianta se o cara não saber poupar pneus?" Dependendo do equipamento... Amigo e amiga... Podem cruzar a linha de chegada com três rodas! 
(Melhor ficar quieta e voltar à corrida deste domingo.)


O GP da Espanha foi morno, e esse seria um bom título para a postagem. Houve uma largada limpa, sem nenhum toque ou minuto de bobeira. Verstappen largou bem, pulou para o P2 e Bottas foi muito pressionado pelas Racing Point. Nesse caso, a RP de Stroll é que deu a melhor, mas perdeu a posição para Bottas na volta 6. Lá atrás Ricciardo poderia ter pressionado mais o Vettel, mas acabou sendo atacado pelo Kvyat que passou a perseguir o alemão sem equipe, que era o décimo primeiro. 

A estrela do sábado, Räikkönen, acabou perdendo a 14° colocação para Magnussen.
Só na volta 20 era que Ocon e Albon passaram Kimi e isso foi bem triste de ver, no entanto e de qualquer modo, era inevitável. Os carros da Alfa Romeo não têm consistência. Passou para o Q2, mas é o máximo que conseguiria. Ainda teve chato falando que o Kimi ia vencer a corrida e o campeonato. 
(Vão fazendo gracinha... Estou checando aqui, vocês tem um lugar bem quentinho para vocês: chama INFERNO!)


Depois que começaram as paradas, ficamos atentos às estratégias. E um nervoso Verstappen, sobressaiu na volta 20, mais ou menos: alertou, pelo rádio, que a Red Bull estava muito preocupada com a Mercedes, deviam focar neles mesmos. E o holandês estava certo. A equipe parou Albon primeiro e depois, Verstappen fez seu pitstop na volta 22. 

Confesso que não dei muita atenção a quem estava com qual composto. Eu duvidava que ocorresse a mesma coisa na Espanha como fora há duas semanas, em Silverstone. Talvez isso fosse importante no final da corrida (que se arrastava de tão longa - e coincidentemente se torna chata quando Lewis está na frente) para sabermos quem eram os "chefões da administração de pneus" e quem não era. 
Não que servisse de algo. Aí paira muito o juízo de gosto e mesmo que os dados sejam esfregados nas carinhas dos tais, o "mimimi" de que o fulano é melhor sempre, vai teimar em aparecer. Tanto que eu já sabia que ia ter comentarista a aplaudir Hamilton no final da corrida e dizer que ele - com maestria - havia poupado os pneus como um heptacampeão.


Também duvidei que aquelas nuvens pesadas que foram filmadas desse em chuva no momento da corrida. Era só vontade de embolar a procissão de carros, e não ia dar certo. 
Nessa altura, mas ainda não ameaçando demais, no giro 39, Leclerc apareceu na imagem da TV, fora da pista e aparentemente tendo rodado. Logo passou na cabeça de todos: será que houve toque?
A possibilidade dele ter perdido o controle sozinho, não era algo que perpassou pelas mentes. O que houve foi um pouco de chacota: todo mundo, ao ver uma Ferrari atravessada fora da pista, pensou que era o Vettel e já começou a rir. É aquele momento do episódio que você aguarda a Tonia a fazer alguma coisa que irrite o Chris e já ri antes de acontecer.
A realidade foi a seguinte: o motor apagou e Leclerc perdeu o controle do carro e rodou. Sozinho. 


Se fosse o Vettel teria um grupo a pedir que a Racing Point - futura Aston Martin - que rasgasse o contrato com ele, antes que assine, para não dar vexame. Outros, afirmariam com todas as letrinhas que Vettel vai ser substituído pelo Diabo, mas não termina a temporada na Ferrari. Talvez (e só talvez), volte em 2021. 


Ainda que no primeiro caso, a gente se irrite, pelo menos estão sendo coesos: nunca gostaram do alemão, e quando ele serviu bem para a Ferrari, estavam ok. Agora que "seus serviços não são mais necessários", fazem como o de usual: desejam que desapareça o quanto antes. Torcedor da Ferrari autêntico é assim. 
Surpreende aqueles que acham que sabem tudo que acontece com o piloto ou pior, torciam contra até o ano passado e agora, do nada, defendem e até torcem a favor. E o motivo por terem "virado a casaca" é o mais tosco já visto. 


Sobre a situação da corrida do Leclerc, no desespero, a equipe não sabia o que fazia com o seu piloto, e parece que os cintos do cara estavam soltos (como assim??) 
Ele voltou em último e foi para os boxes. Tentaram arrumar (os cintos?) no cockpit, mas desistiram e o monegasco abandonou. Fez cara de desespero nos boxes, mas pergunto: o contrato vai até 2024? Bom... Nem vou desejar sorte... Com certeza, não vai adiantar.

Vettel, no entanto, era quinto. Perguntou da possibilidade de ficar com os pneus que estava até o fim, num dado momento da corrida e não teve resposta imediata. Estavam baratinados com Leclerc ou os estrategistas estavam jogando Candy Crush. Prioridades né amigos? Mas imaginem isso numa série de comédia. Ia dar muito ibope. 
Algumas voltas depois, eles perguntaram sobre os pneus e ele apelou - com razão: já havia perguntado sobre isso, afinal. Então disse, em seguida, que não tinha nada a perder e ia continuar com pneus macios.
Se desse certo: mérito da Ferrari. Se desse errado: culpa do Vettel. 


De mudança, na corrida, era que, lá pela volta 49, Bottas fez uma parada para ver se tomava a posição de Verstappen. O máximo que conseguiria era uma volta rápida, já que escolheu pneus macios. Por ali também começaram alguns problemas com as ignoradas das bandeiras azuis. Os punidos foram Pérez e Kvyat com 5 segundos somados aos seus tempos. 

Nada a perder, Vettel era quinto e perdeu a posição para Stroll e mais tarde para Sainz. Terminaria em sétimo, se nada acontecesse no caminho. A corrida ainda estava lenta para acabar e as seis últimas voltas duraram quase o dobro. 
A chuva, mais uma vez, era só uma previsão para segurar a gente até o fim do episódio.

O final, foi a junção dos clichês da sitcom - aquele que tem um dos seus personagens numa ação engraçada e icônica: Hamilton teve uma vitória fácil, de ponta a ponta, fez "ufa" como se estivesse cansado no rádio de agradecimento a equipe, e fez a vítima sobre a "dificuldade" em conservar os pneus. Ele ainda ficou como o cara que passou o maior de todos - Michael Schumacher - com a 88ª vitória e o mestre dos pneus.


Verstappen não ficou satisfeito com o segundo lugar e muito provavelmente não satisfeito com a equipe que caiu na pilha da Mercedes de fingir dificuldades com a alta temperatura. Quero saber do ibope da corrida, porque se não sair nada sobre, dá para tirar boas conclusões disso. Ainda assim, o garoto - goste ou não dele - é a nossa salvação da temporada para "surpresas". Dá gosto de ver ele "trabalhando".

Bottas foi, mais uma vez o cara que devia fazer mais e entrega pouco. Perdeu a segunda posição na largada e não foi capaz de pressionar Verstappen em nenhum momento. O terceiro lugar é muito para o piloto finlandês que já defendi bastante, mas numa dessas a gente cansa de gastar os argumentos.

Fechando o grid: Stroll em quarto e Pérez em quinto - para a alegria dos protestantes contra a Racing Point -, Sainz em sexto com a McLaren, Vettel em sétimo - ganhando a escolha de piloto do dia (justo!) - Albon em oitavo, Gasly - salvando a Alpha Tauri - em nono e Norris em décimo, fechando o top 10 longuíssimo do morno circuito da Espanha.

Próxima parada, Spa na Bélgica, no fim do mês, 28, 29 e 30 de agosto. 
Meu circuito favorito não vai nos salvar da monotonia. Podem ir assistir Friends tirar o cavalo da chuva... Ah, a chuva aguardada na Espanha, só chegou depois que a corrida já tinha terminado e o pessoal já estava recolhendo as coisas para ir embora... 

Abraços afáveis!

Comentários

Carol Reis disse…
Eu não tive saco p ver essa prova até o fim, essa procissão. O Bottas é um cópia mal feita do Rubinho, sem mais.
A Haas tá dando pena e eu gosto do Grosjean (não como piloto, claro). Sainz fez uma prova digna e Albon, coitado, o que será que tá acontecendo com ele?
Ferrari e Vettel...sem palavras né. Pqp. Eu entendo perfeitamente quem torce p eles se lascarem, dá até um gosto ver o carro do Leclerc pifado só p ficar imaginando o desespero do pit wall.
Manu disse…
Carol: Eu fui até o fim pois queria ver o que ia dar com relação ao Vettel. Mas parece que foi longa demais. O Bottas está me deixando sem jeito de defendê-lo.
A Haas de fato, dá pena, e te entendo quando fala do Grosjean. Ele de fato, é o saco de pancada dos críticos e isso chega a ser desumano.

Eu realmente não sei o que acontece com Albon. Ele me parece ser muito bom, mas precisa "desabrochar"...

Sobre a Ferrari, eles conseguiram me fazer voltar a detestá-los. Nunca achei que odiaria a equipe, mesmo sendo fã do Raikkonen, sempre achei que não havia como eles serem piores gestores e totalmente FDPs com um contratado. O que eles tem feito com Vettel, sobretudo analisando as declarações do Binotto, é de ter ódio e passar a torcer contra o tempo todo. Não tem outro sentimento mais adequado.
Pena que a gente saiba que a F1 depende muito dessa infeliz equipe...
Aí eles dão a volta por cima e todo mundo vai ficar com o discurso do "estão vendo, o problema era mesmo o Vettel"...
Complicado.

Abraços!!

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