Novelinha da F1 - Capítulo 13: GP da Bélgica

O texto mais complicado do ano está para ser passado à vocês hoje.
O fim de semana do automobilismo com o retorno das "férias" da categoria máxima, num dos melhores circuitos do calendário teve um sabor agridoce. Era para ser um momento de muita festa e satisfação. Estávamos ansiosos pela volta. Mesmo eu, à saber que a Mercedes, se não vencesse com dobradinha, teria pelo menos um de seus carros no pódio de domingo, estava alegre por ter a possibilidade de assistir uma corrida no meu circuito favorito.

No FP3 do sábado, algo saltou aos olhos: Lewis Hamilton havia errado e batido sozinho, avariando o carro de número 44. Frustrado, fez ceninha e não falou com jornalistas. A equipe, se colocou a resolver os danos causados. 
Quantas equipes, pergunto eu, colocariam o carro em ordem "em tempo hábil" para a classificação?  Só uma. 
Assim que puderam, já estava claro que conseguiriam estar disputando a pole position, um pouco mais tarde. 
Logo na Classificação, tivemos problemas das Williams de George Russell, em seguida muita fumaça no motor do carro de Robert Kubica. Um bom momento para a Mercedes ganhar tempo. 
Era claro que, se no Q1, Hamilton fazia o quarto tempo, no Q2 ele ainda apareceria em terceiro, forte como nunca, nem parecendo estar com carro reajustado às pressas. No Q3 ele ainda era segundo, quando eu, de pé, cruzei os dedos para Sebastian Vettel - mais rápido - decidir pela segunda colocação. A torcida era em vão. Logo, relaxei os ombros e pensei que na corrida, era capaz ainda de ter dobradinha da Mercedes.

Charles Leclerc fez a sua terceira pole position no ano. Vettel foi segundo colocado, tendo desbancado Lewis poucos segundos antes. Sabendo disso, já comecei a me revoltar um pouco. Em tempo, era um deslize simples da equipe italiana, e teríamos a vitória nas mãos de Hamilton, "de-novo"...

Só que aí tudo esfriou. Lá na Bélgica mesmo, no mesmo circuito, houve uma prova da F2. 
Houve um acidente gravíssimo envolvendo cinco carros na Eau Rouge, uma das curvas mais famosas do automobilismo mundial. Giuliano Alesi perdeu o controle de seu carro e desencadeou o acidente. O seu compatriota francês Anthoine Hubert acabou batendo e se chocou contra a barreira de pneus.
Sem tempo de reação, Juan Manuel Correa acertou o carro de Hubert em cheio em um acidente em "T".

Acessei o Twitter nos minutos em que o acidente aconteceu. Cheguei a arrepiar. Revi o vídeo, várias vezes. Fechava os olhos e gesticulava a cabeça negativamente. 
Mais tarde, perguntei por notícias dos envolvidos, na rede. Quando soube que pouco estava sendo divulgado, temi pelo pior. A corrida estava suspensa. Alguns minutos depois, havia a notícia de que Hubert e Correa estavam em hospitais e Hubert tinha sido encaminhado por helicóptero. 
Eu vi uma imagem da batida de frente. Só não chorei, pois havia alguém por perto. Vi uma foto do estado do carro. É aí que nosso coração reduz à um pontinho, ficando bem pequenininho. 

Em torno de uma hora depois foi noticiado que o francês não havia resistido aos ferimentos.
O choque de receber uma notícia dessas não é facilmente explicável. É como se estivéssemos flutuando, à gravidade zero, e de repente, somos jogados ao chão sem aviso prévio. 
Fãs de automobilismo sabem, sempre souberam dos riscos que é ser piloto. Não somos bobos (embora, comentamos umas coisas sobre as categorias que coloca em xeque essa possibilidade). Sabemos que, a partir do momento em que se veste o macacão, o capacete e entram dentro do carro, existe risco. Por mais que, a cada ano, a segurança tenha se tornado a prioridade inquestionável, especialmente na F1, a morte ainda caminha ao lado, muito de perto, e o tempo todo. 
E isso, pessoal, concordamos (espero!), é muito duro de aceitar.

Em cada um de nós, houve uma reação. Eu não parei de pensar no que vi e no que aconteceu. Lia as reportagens que foram saindo a respeito de Hubert e sua carreira. Lia as colunas de quem estava de plantão tentando botar para fora a angústia que sentia. Procurava por notícias do Correa.
Anthoine tinha 22 anos. Era uma das promessas para correr na categoria máxima do automobilismo. Ele não entrava todo domingo no carro para ter essa conclusão. Nenhum deles entre no carro esperando por isso. E nenhum de nós queremos isso para eles. 
Quando alguém se vai assim, em meio à busca de um sonho, coloca todo o resto em perspectiva. 

Para muitos de nós, não haveria espaço para a corrida da F1, embora o acidente tivesse acontecido na F2. Mesmo assim, mantiveram a corrida. Fomos para frente da Tv com a cabeça cheia de pensamentos. Tudo que queríamos era que corresse tudo em paz. Já havíamos, a nosso modo, sofrido o suficiente nessa década. 

Mantive o título mencionando a "novelinha". Outras circunstâncias mais amistosas, já começaria assim: "E infelizmente a F1 voltou a ser uma grande novela, com partes do elenco fazendo belas cenas e outras tão óbvias que dá até vergonha de termos caído nessa..."

Houveram bons momentos: quinto lugar de Alexander Albon, o oitavo e nono dos desprezados Nico Hulkenberg e Pierre Gasly, mostrando que talvez, não estão abalados pelas recentes imposições à eles. E claro, não menos importante, a primeira vitória de Leclerc. 

Houveram situações que, nem vale tanto a pena protestar. Um dos reis de Spa fazer o penúltimo tempo, não foi agradável de se ver.

Com um erro, brotaram das moitas os contrários à presença de Max Verstappen. Um erro, nem tão grave assim, foi o suficiente para voltar à tona quem nem mesmo mais assistia corridas. Sairam prontos para falar algo depreciativo sobre o holandês.

Atrás dos esconderijos surgiram os grandes detratores de Sebastian Vettel. As vezes, eles encostam as portas, deixando apenas um espacinho para olhar o que ele pode fazer. Esperam ansiosos por uma rodada, uma patinada, uma batida para escancararem a porta com a força de suas risadas. 

Diante de uma escolha nada correta da equipe Ferrari, decidiram colocar Vettel como escudeiro, lhe tirando não só o pódio, mas tirando também toda o resto de sua dignidade.
Leclerc era melhor na pista? Com certeza. A troca de posições era necessária depois do pitstop prematuro de Vettel? Aparentemente...
A primazia era a vitória do menino Leclerc? Era, e ficou bem claro nesse último domingo. Funcionou? Sim, mas foi por pouco.

Porque estou dizendo então que a decisão da Ferrari tirou a dignidade de Vettel?
Bem, após a chamada do alemão para os boxes, cometeram o grande erro estratégico, só que dessa vez, "proposital". "Caíram" no blefe da Mercedes. Se precipitaram. Diante da possibilidade de erro, escolheram o plano B para aliviar com a equipe rival.
Era necessário deixar Leclerc passar Vettel, caso contrário, Hamilton passaria ambos em um espaço de duas ou três voltas?
Ele faria isso, caso o circuito belga fosse 45 voltas totais e não 44. Como explicar a perda de rendimento para Bottas, que "male-male" se ouviu falar durante toda a corrida? Vettel não estava tão ruim assim, a ponto de merecer uma parada prematura, que acabou lhe garantindo uma abertura de espaço que selou de vez a sua humilhação diante da premissa "pela equipe".

A Ferrari é equipe de um piloto só. Sempre foi. Anteriormente, se pautavam em pontos que poderiam ser cruciais. Aí rolava os "faster than you" que todo mundo revira de raiva até hoje. O piloto que ouviu essa, foi melhor que do que o que ouvia algo semelhante antes dele. Se vitimizou por isso e todo mundo sentia pena. O que vivia sendo mandado, virou sinônimo de segundão, mesmo quando disse que sofria com isso. 
Ultimamente a Ferrari mandou até campeões mundiais fazer isso. Vou dar endereço: Kimi Räikkönen teve de fazer isso por Vettel. Eu saí na defesa da atitude, procurando a razão: "são pontos importantes contra os rivais", pensava. Troca das ordens, seguraria e afastaria quem pudesse roubar pontos.
"Não é humilhante quando é na Mercedes", sempre questionei.

Por mais que se deteste Vettel, que se justifique através de seus erros durante o ano (das quais, Leclerc teve sua cota também) nada justificava a parada prematura de Vettel e a troca de posições, especialmente da forma como foi. As Mercedes foram para o pódio, e iriam de toda a forma, pelo menos com Hamilton. 18 pontos, era garantido para ele. Mais um pouco e ele ganhava a corrida e seriam 25. Tudo na Mercedes, era lucro, desde o começo. Principalmente quando o mais próximo a ameaçar o SEGUNDO piloto da equipe de prata, era Verstappen que na primeira volta da corrida, havia zerado os pontos.
O "pela equipe" foi para garantir 25 pontos ao Leclerc e que não tem nenhuma outra função a não ser estabelecer quem é o primeiro e quem é o segundo daqui para frente, na Ferrari. Acompanhem comigo os pontos após o GP húngaro, antes das férias:

Hamilton - 250 pontos;
Bottas - 188 pontos;
Verstappen - 181 pontos;
Vettel - 156 pontos;
Leclerc - 132 pontos.

Agora vem comigo reconhecer o que aconteceu depois que a corrida acabou:

Lewis Hamilton - 268 pontos;
Valtteri Bottas - 203 pontos; 
 Max Verstappen - 181 pontos;
Sebastian Vettel - 169 pontos; 
Charles Leclerc - 157  pontos.

A Ferrari tinha escolha. Escolheu cair no blefe da Mercedes - que eu já havia dito ser uma grande palhaçada. 
Pararam muito cedo. A Mercedes ditou o ritmo, jogou as cartas, sabendo o que tinham e o que poderiam fazer. Mais meia volta, sem retardatários e eles teriam tomado até a vitória tão esperada de Charles.
Não valeu o sacrifício da casa, não houve nada de "pela equipe". Em Monza, é perigoso fazerem algo semelhante e dessa vez, a Mercedes estará muito esperta. Vem dobradinha aí da Mercedes e vai ser vergonhoso.

Ontem foi o dia D da Ferrari. Selaram de vez a passagem de Sebastian Vettel na equipe. Daqui a diante, não é mais prioridade. As causas, vocês conhecem todas, de cor. Basta que eu pergunte. Mas não são as justas. 
Também foi o dia D pois agora, consumado o "matrimônio" com Leclerc, ele teve a sua vitória merecida, ensaiada pelo menos umas 2 vezes este ano. Foi nobre e grandioso, pela conquista e a dedicação à Anthoine Hubert. 

Não há como brincar com o texto. Pensei muito ontem e hoje até finalizar a escrita. Não há espaço para isso. Nem mesmo para protestar contra a Mercedes e a sua mania de fazer todos à volta, de gato e sapato. 
Esperamos por Monza, agora já no próximo fim de semana. 
Comentem e complementem com o que quiserem!

Abraços afáveis à todos!

Comentários

Carol Reis disse…
Concordo em gênero, número e grau. Essa prova marcou o rebaixamento do Vettel e só de ver a reação dele, sinceramente, é melhor se aposentar. Até o Massa teve mais dignidade. Talvez ele já esteja como o Kimi, cansado de politicagem e por isso prefere ceder porque não tem paciência para lidar com essas coisas.
Eu realmente acho que o erro da Ferrari foi sincero e eles jogaram fora uma chance de fazer dobradinha mandando o Vettel ir ao pit tão cedo. A corrida dele acabou ali. Tá na hora de tirar o Vettel/2010 da cartola e tentar dar um jeito nisso.

Acho engraçado que se a ordem fosse p Vettel passar o Leclerc, tava todo mundo xingando o alemão e a Ferrari. A torcida do Leclerc é obviamente maior que a do Vettel, até mesmo entre a imprensa, os caras nem disfarçam mais.

Outra coisa que acho curiosa são os fãs do Hamilton, desmerecendo a vitória do Leclerc pq o ídolo deles o ultrapassaria se a corrida tivesse mais 2 voltas. Ora, a corrida tinha 44 voltas, pq o ídolo não ultrapassou o Leclerc nessas 44? Agora toda corrida que o Hamilton não levar, os fanboys vão ficar "ah mas se fosse isso, ele teria ganhado", "se a corrida tivesse mais 50 voltas, Miltão ia ganhar". Fanboy adora passar uma vergonha.

E outra, voltando ao Leclerc, não vejo essa superioridade toda em relação ao Vettel. Vi um hater dizer que o Leclerc estaria na frente do Vettel se não fosse os dois DNFs do monegasco. Se estaria na frente do Vettel eu não sei, é uma possibilidade, mas o hater se esquece de um detalhe: Ambos os DNFs do Leclerc foram por culpa do próprio e ele teria 2 vitórias se não tivesse vacilado na Áustria.
diogo felipe disse…
Calma , Manu. A vitória em Monza tá garantida pro Tião. 😉
A Ferrari é superiora que a Mercedes em retao, só não podem fazer muita besteira, não pera... 😛
Manu disse…
É Carol, é difícil dizer. Posso até dar de Galvão Bueno aqui e escrever que sim, Vettel está claramente cansado dessa politicagem e entregou os pontos. Mas não sei, sinceramente. A questão que me leva a acreditar que, ele pode até estar cansado, porém estará dando um tiro no pé agindo assim, pois Kimi é simpático à maioria dos fãs do automobilismo pela sua extrema sinceridade. Vettel tem carisma, mas poucos reconhecem. Já vejo os pedidos de aposentadoria aos berros dos "fãs de automobilismo".
Sobre isso, vc deve ter visto o que Rosberg falou no seu vídeo pós Bélgica, né? (Ai, ai...)

Ao mesmo tempo que achei que o erro da Ferrari foi sincero, eu já acho que foi burrice proposital.

Costumo dizer que "fã" é a pior parte da figura pública, seja ela qual for. No caso do Hamilton, é exemplo do quão estou certa em dizer isso.
Mas ele ia passar Carol, ia mesmo. E a Ferrari ia passar o maior carão. Só adiaram essa situação. Temo que em Monza, teremos uma corrida com dobradinha da Mercedes.

Eu gosto do Leclerc, mas ainda não arrisquei a mencionar os DNFs dele quando alguém discute a tal premissa: Leclerc supera "de novo" Vettel... Mas deve ser a próxima ideia que vou ficar reforçando nos meus textos, até cansar...

Abs!!
Manu disse…
Diogo, eis o medão: fazerem besteira, rsrsrsrsrs...

;)

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