Oscar 2018: O que achei da premiação

Este ano os indicados à Oscar bateu de forma extrema na porta do Politicamente Correto (PC), e mesmo à força, entrou.
Hollywood está meio acabada. Há algum tempo tem dado margem à vitimismos muitas vezes contraditórios. Em 2016, atores negros reclamaram da falta de indicações para seus "irmãos" e chegaram a levantar um protesto que não teve tanta força, mas teve mídia. O ponto contraditório era que Chris Rock, um comediante negro, apresentaria o evento naquele ano, e já havia sido anunciado antes mesmo dos indicados. Mesmo assim, o choro veio em forma de discurso apontando suposto preconceito da academia.
A edição de 2017 começou com o levante contra Donald Trump, plantado pelas babaquices que ele mesmo fez questão de divulgar. Hollywood comprou, claro, pois atores e atrizes são a alta patente de intelectuais da sociedade já faz um tempo graúdo e tem ao seu lado, a mídia.
Ano passado, a indústria afundou ainda mais: colocou holofotes no feminismo por meio de denúncias de assédio. Uma caça às bruxas foi feita. Carreiras de homens se desmantelaram, alguns com razão, outros por pura vingança. Envergonhados, alguns sumiram, outros foram forçados a sumir. A grande maioria apoia a causa defendida por mulheres - bonitas, diga-se (e algumas hipócritas também) - na ideia de "mudança": Cantadas, sejam elas quais forem, leves ou não, são inadmissíveis.
A indústria cinematográfica teve de engolir o sapo, cru: adequaram-se à um movimento que está acontecendo até nas escolas - aquela história de ódio à mulher mudou de lado, o ódio é contra os homens.
Essa situação - comprada por muitas de nós - não deixa claro suas contradições: é óbvio que muita atriz passou por situações desagradáveis, algumas até realmente sofreram as consequências do abuso e efeitos colaterais das ações cometidas. Mas muitas delas se envolveram com produtores, diretores e colegas de trabalho, muitas chegaram a se casar com eles. Como se deu o relacionamento?
A linha entre o assédio e o interesse mútuo entre duas pessoas é muito tênue. Ainda mais entre atores: quantos casos de relacionamentos que aconteceram exatamente no momento em que era para ser profissional, ou seja, em cena? 

Porque a Academia se prestou aos discurso que deu tônica no Globo de Ouro? Uma das causas é a sua falência: canais de streaming da internet estão voltados à produção de séries. Não à toa, se faz uma sequencia interminável de filmes de super-heróis: o povo quer acompanhar coisas, em sequencia, interligadas e quanto mais forem assim, mais ficam presos àquilo. Por isso o sucesso desse tipo de filme. As séries prendem muitos de nós por meses e até décadas porque estamos cada vez mais presos na selva de concreto e paredes que é a nossa casa. Maratonar séries já deixou de ser coisa de solteiro nerd, é coisa até do zé e maria povinho qualquer.
A outra causa é que qualquer coisa hoje é movimento de luta, discurso. Assim sendo, depois de comentário de atriz mediana no Globo de Ouro (leia-se Natalie Portman) Steven Spielberg e Ridley Scott, diretores renomados, perderam chance e espaço para enfiarem, goela abaixo, uma diretora chinfrim na indicação: a tal Greta Gerwig. 
Escreveu um roteiro alá Woody Allen - que era, até três anos atrás um grande homem, agora um bolha - só que sem mulheres histéricas, mas com um nível de paranoia e babaquices inerentes na personalidade cotidiana e contemporânea, e ganhou status de diretora cult.
Woody Allen, um tempo atrás, lançou o filme "Blue Jasmine" que rendeu Oscar a Cate Blanchett. Tive professoras da universidade e colegas feministas que vociferaram nas redes sociais o número de salas dedicadas ao filme "Vingadores 2" e ao "desprezo" ao filme de Allen. Hoje ele é um porco abusivo que merece ser banido da face da Terra, pelas mesmas pessoas que pediram seus filmes nas salas de cinema. Atores e atrizes que trabalharam com ele recentemente, doaram cachês para o movimento #TimeIsUp das mulheres que sofrem abusos. Aquelas que ganharam prêmios por isso, como Cate, não soltou um pio. Mas ai de nós em falar qualquer coisa (e olha que gosto muito de Cate).

Greta fez um filme que mais parece um capítulo da Malhação: só não teve gravidez ou AIDS para a personagem de Saiorse Roman. A Malhação Hollywoodiana "Lady Bird" é uma história insossa de uma adolescente que quer fazer faculdade fora da cidade que mora. Para isso, ela enfrenta a mãe, que discorda, não se sabe se por proteção ou por egoísmo. É muito semelhante aos casos da vida cotidiana - que nem os filmes de Allen -, só que sem motivo dramático aparente, como na vida real: a menina não tem dramas exatos, o momento epifânico dela é acordar num hospital depois de um porre na faculdade. Ninguém morre, ela não se machuca gravemente, ela não sofre algo realmente ruim. Ela é mimada, apenas. Como a geração de hoje. Por isso o filme fez sucesso. Não tem profundidade, mas retrata a geração nutella: choram e brigam por qualquer coisa. Eis que descobrem uma unha encravada, fazem tratamento e vão na Fátima Bernardes falar de superação.

Por sorte, Greta não levou nem por direção, nem por roteiro, o Oscar. Não levou nada. Infelizmente roteiro também não foi agradável: o vencedor de melhor filme ou mesmo "3 anúncios para um crime" merecia mais que "Corra!". 
"Corra!" é o típico terror psicológico, que você não sabe se ri dos diálogos irônicos ou se fica apreensivo com as mortes bizarras na reviravolta final. Mas é com negros, e abriu espaço para uma discussão que está aí: não mostrar-se preconceituoso dizendo que adora a cor deles, que gosta da força deles, e ama o fato deles serem tão ativos na luta por direitos parece a tônica de esquerdistas e razoáveis. Por isso, a academia premiou, claro e também, para não ser acusada depois de ser "preconceituosa". Não teimem, caso tivessem anunciado outro filme iriam falar isso no minuto seguinte à abertura do envelope e todo mundo esqueceria, que ano passado, venceu um filme sobre negros, sofrendo preconceitos reais e doloridos, e o personagem principal ainda era homossexual. 
Mas pensar um pouco, custa caro...

Eu sabia que, "Me Chame Pelo Seu Nome", o "Sob o Sol de Toscana" com relacionamento homoafetivo, não levaria prêmios contundentes, como melhor filme - a temática já foi abordada no ano anterior. O Oscar pode ser tudo, mas se repete temáticas dos roteiros para ser premiados, eles não entregam a estatueta. Esqueçam. Mas "Me Chame Pelo Seu Nome" ganhou de roteiro adaptado. Até mesmo "Logan", que todo mundo está criticando muito, seja pela violência extrema e envolvendo crianças (olha o PC aí, de novo!), seja por não ser filme de "super-herói" tradicional e cheios de clichês.  Exatamente por não ser o que se espera dele e ultrapassar limites conceituais, teve um valor. 

Se era então para dar valor à filmes de negros, que dessem para "Mudbound" um filme deveras mais impactante que "Corra!" e além disso, bem construído. O "Artista do Desastre" foi o desastre de James Franco. Nessa categoria, uma das poucas em que apareceu, Franco carregou o título do filme para a sua vida. No Globo de Ouro, ele venceu como Melhor Comédia, e no minuto seguinte, atrizes conhecidas (que apagaram seus posts logo em seguida) e desconhecidas, aproveitaram a deixa para acusá-lo de abusos e de ser hipócrita ao usar os pins da campanha #MeToo (no caso dele, #TimeIsUp). A denúncia por parte de algumas, foi apagada, e a de outras, mesmo depois da retratação do ator, causou o "desastre" da carreira do ator: ele nem sequer foi mostrado no evento.

E por falar em sumidos, Casey Affleck, depois de uma denúncia antiga de abuso ter vindo à tona, não iria ao Oscar esse ano. Substituído por duas atrizes para entregar o prêmio de melhor ator (Jennifer Lawrence e Jane Fonda) ele é uma das vítimas que teve seu banimento forçado pelo movimento feminista. Alguns dirão que é vergonha, outros, como eu, podem acreditar que o afastamento é para não complicar uma situação que, além de ser impossível ser provada, nunca vão acreditar na sua inocência. 

Finalmente, tivemos um quarteto de atores, atrizes, e coadjuvantes decente: sempre, tenho ressalvas com as escolhas das mulheres. Não é machismo, mas a maioria recebe o prêmio pela beleza e não pelo talento. Esse ano, a coisa foi certeira e correta. Embora goste de Gary Oldman, teria sido divino ver Daniel Day-Lewis com o quarto Oscar. O homem é espetacular. Creiam, os dois, tanto Lewis quanto Oldman, tem momentos estranhos de conduta, mas eu não dou a mínima para esse papo, caso alguém venha fazer "mimimi" sobre: são atores absurdamente talentosos. Foi excelente que Gary levasse a estatueta. Um terceiro era Denzel Washington, também sempre muito bom e não diferente este ano. Mas queiram ficar atentos: Daniel Kaluuya e Timothée Chalamet foi para preencher espaço... Ainda bem que ficou só nisso.
Atriz, Frances McDormand parece meio amalucada, parece que ainda não saiu do personagem... Eu teria dado para Sally Hawkins ou Margot Robbie. Não para Meryl Streep. Apesar de todos amarem ela, eu já cansei de suas caras de choro - para ela, não é mais esforço, convenhamos. Se ela fizer um tronco de árvore, ela é indicada. Saiorse Roman é boa, mas pecou pela primeira vez escolhendo estrelar um trabalho completamente bobo. 
Mas Frances mereceu, afinal ela e Sam Rockwell são os destaques do longa "3 Anúncios para um Crime".
E sim, Sam mereceu ter o prêmio: ele é um excelente ator, e parece que o Oscar tem dado pelo conjunto da obra (algo que aconteceu com Leonardo DiCaprio dois anos atrás). Sam foi estupendo em "À Espera de Um Milagre", entre outros longas. Em ator coadjuvante todos mereciam, mesmo Christopher Plumber que ainda não pude conferir, mas tem um baita histórico, ou Willem Dafoe, que no caso, teve uma parcela no filme "Projeto Flórida", mas que não caracterizou-se como excepcional. 
Atriz coadjuvante teria sido complicado escolher. Amei que tivesse sido Allison Janney - ela é ótima, está ótima, o filme é ótimo. Mas teria ficado dividida em Mary J. Blidge e Octavia Spencer. As outras, também mereciam, Lesley por ter feito filme com Daniel Day-Lewis o que já é um desafio tentar se equiparar à esse cara, mas Laurie Metcalf perderia fácil por mim, por estar num filme fraquíssimo.

Melhor Animação: óbvio. Filme da Pixar, Disney, gente que nunca vai ao cinema foi, viu a amiga comentando que chorou e copiou e coou o resultado, e chorou também. Teria sido chocante se fosse diferente.
Melhor filme estrangeiro, a esquerda delirou: todos os filmes são polêmicos e tratam de assuntos pertinentes. O meu favorito: "The Square" porque pega pesado na arte e a cultura pop e a falta de limites das coisas que envolvem a cultura como um todo. Ganhou "Uma Mulher Fantástica", um filme chileno, simples e roteiro direto, mas que aborda a luta de direitos da namorada transgênero de um divorciado, que morre com ela e a família dele, a humilha. Claro que a mídia ia adorar. Aposto com vocês que seus amigos de esquerda não falaram nada nas redes sociais sobre o Melhor filme, falaram da vitória da cantora e atriz que nasceu, biologicamente, homem e foi a primeira transgênero a vencer Oscar. Estou certa?

Claro que discursos entoaram momentos, mas não foram as melhores coisas. A melhor coisa da 90ª edição do Oscar foi a surpresa de Eddie Vedder homenageando Tom Petty com as lembranças dos que já se foram. 
E então estávamos próximos ao que interessa, com a decisão de filme e diretor: Guilhermo Del Toro e sua "A Forma da Água". Merecido. Embora seja esquisito e não seja para qualquer um, o filme é uma fantasia interessante. Desde "O Senhor dos Anéis e o Retorno do Rei" uma fantasia não vence a categoria de melhor filme. Se estava na hora? Creio que sim. Se era o momento? Com certeza. Não à toa o apresentador Jimmy Kimmel brincou que o ano foi tão ruim que as mulheres começaram a sair com peixes, fazendo alusão ao roteiro de "A Forma da Água". Faz tempo que não ganha um filme de guerra. Neste caso, Dunkirk, era propenso à isso. Porém, veio no momento errado: Tem muitos homens no elenco, isso seria espinhento para a Academia lidar.
Eu não teria indicado "Corra!", teria indicado "Mudbound". Não gastaria tempo com "Lady Bird" mas teria substituído por "Eu, Tonya".
Mas cinema e o Oscar é assim: não é o que você escolhe, é o que te toca. E mais e mais, vou seguindo meus instintos em não dar a mínima para o que falam dos longas. Sempre que se presta muito atenção na critica, a decepção é grande quando vamos conferir. Não dá para não culpar a porcaria do Politicamente Correto. Não, mesmo.

E vocês, o que acharam?

Abraços afáveis!

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