Minha ignorância

Com as mudanças políticas no Brasil ontem refleti muito nos meus intervalos de estudos. 
Nas vezes que verifiquei as minhas redes sociais, percebi colegas de área e amigos virtuais discorrendo suas opiniões a respeito de tudo que já aconteceu. Muitos ocultaram algumas situações que deviam estar as claras, outros previram tempos tão sombrios quanto os da Idade Média. Alguns ameaçavam, no afã de detentores de alguma verdade, que nem eu e nem ninguém sabe qual é. 

Não tenho nada com a vida dos outros. Mal cuido das minhas próprias futilidades, e acho, com toda sinceridade, que nós precisamos das nossas bobagens para termos uma vida sã. Levar tudo muito a sério e se ocupar só do trabalho ou das responsabilidades pode fazer você virar uma pessoa amarga e desagradável. 
Porém não vou ser hipócrita e dizer que não julgo as pessoas. Sou humana, afinal. Julgaria uma pessoa que, ao dizer abertamente que se não fosse obrigada, não votaria nas eleições, se a mesma passa a participar de uma campanha de um vereador afim de ganhar cargos, caso ele seja eleito. Julgaria uma pessoa que passa o dia todo falando de sorvete, de brigadeiro, e doces e de repente, passa trabalhar numa clínica auxiliando um médico de hipertensos, ou nutricionistas e dizendo que, na verdade nunca gostou de doces. Em ambos, as pessoas anulam suas convicções, por interesses.
São exemplos aleatórios sem nomeação. Todos nós podemos conhecer um punhado que se encaixa em um dos exemplos. 
Em algum caso mais corriqueiro: Uma pessoa, ofende a outra, uma terceira sai na defesa e desrespeita mais ainda a primeira.
A premissa do: "faça com os outros o que você gostaria que fizessem com você" é constantemente ignorada por muitos, sem precedentes. Se a primeira, por mais que tenha feito declarações infelizes, o faz por um motivo pessoal, não nobre, mas inteligível; a outra, toma as dores e consegue ser ainda mais baixa que a primeira.

Vivemos tempos bizarros. Quando entrei na faculdade, demorei a perceber a presença de seguranças. Dado uns tempos depois os frequentadores pediram limites para os seguranças de campus. Não sei se por isso, mas um incidente envolvendo uma aluna que fazia uso de drogas dentro de um bloco, foi abordada por um segurança de forma rude deixou pairar que seguranças não poderiam mais "importunar" passantes. Depois disso, os seguranças eram dados a não garantir mais segurança alguma que não fosse de patrimônio. Diversas vezes ouvi alguém reclamou de ter sido seguido ou ter sofrido assaltos dentro do campus e que os seguranças, nada fizeram.
As drogas estão por toda parte. Dentro do campus já virou corriqueiro. Quando passei ao curso de humanas, é que não só vi os usuários como senti o aroma de seus produtos. Os alunos protestam constantemente a intervenção da Polícia Militar, pois, queiramos ou não, o uso ainda é proibido. 
Ano passado, houver um caso grave, que veio a público, de tentativa de estupro em um dos banheiros do um bloco. Os movimentos feministas passaram a ter voz mais alta e reclamavam que - devido a desculpa da crise - não havia mais tantos seguranças no campus. Esse grupo, assim como os outros, cometeram erros que complicam toda o fundamento de suas lutas. Um deles é não permitir que homens participem das manifestações, alegando que eles não tem conhecimento de causa e são opressores desde o nascimento.
Já me deparei também com discussões sobre questões raciais que levaram à trocas de emails tensos por conta de uma festa com bandas de samba. O tema seria sobre uma espécie de confraternização do orgulho em ser negro ou a herança que os povos africanos trouxe a nossa cultura. Os negros militantes se sentiram ofendidos como se eles só tivesse trago o samba e acharam preconceito por parte dos organizadores. Outros militantes abordaram outras questões que concernem o preconceito racial. Quando uma colega cega, falou que nunca teve festas para deficientes um dos militantes negros soltou a pérola: "cada um com a sua luta". 
E assim, os movimentos de direitos segregam à olhos vistos. Separar um de outro nem deveria ser cogitado por eles, já que a premissa maior é que são minorias num mundo opressor. Pagar na mesma moeda, me parece um tanto raso para militantes de universidade - cuja palavra vem do universal. Irônico, no mínimo. 
Ontem, havia muito mais seguranças na universidade. Soube de casos de ameças contra gays dentro da biblioteca. Não tenho certeza de como foi a movimentação, mas ao que parece um homossexual foi abordado pelo indivíduo abertamente homofóbico. Houve reclamações sobre as atitudes dos seguranças que foram reticentes e não autuaram o "criminoso" por falta de provas da abordagem violenta. Ontem mesmo, um segurança rondava os banheiros masculinos na biblioteca. Nunca vi um segurança na biblioteca nem quando tinha caixa eletrônico á dentro. 
De braços cruzados e encarando um por um, essas caras intimidam. No caminho de ida à lanchonete encontrei muitos que me olhavam e colocavam as mãos no cassetete. Me senti incomodada. Não acho que devem abrandar, eles devem desconfiar de tudo e todos, já que pelo visto, a situação parece extrema.
A ideia que tenho, no fundo, é que esses atos violentos estão surgindo afim de suspender grupos que desejam fazer a chamada "opressão" que sofrem, contra aqueles que "olharem atravessado" à eles. Espero que não seja isso, pois então enfrentaremos uma guerra de guerrilha. 
A academia, o lugar de discussão, de debate, de consciência, está dando lugar à aceitação forçada das coisas por meio da violência. Coexistir já é difícil. Não exercer a alteridade, passa a ter lugar e vez.

A situação política do nosso país é gritante. Mas tenho para mim que até agora, muitos se fizeram de surdos. Ela é gritante à tempo, e só nos últimos 2 anos é que passaram o "cotonete" nos ouvidos.
Os simpatizantes do PT arrumam argumentos de tudo (inclusive de suas atitudes de má fé) para seus "pares" dos cargos públicos. Os membros do partido dos trabalhadores não podem ser enquadrados de criminosos. Mas os membros dos outros partidos, podem tanto que nem precisam de provas. A oposição carrega nas costas a elite da direita, que é tão rasa em argumentos quanto o governo em voga (pelo menos, até antes de ontem). 
As entranhas chegar a dar nó, tamanha a hipocrisia dos dois extremos. 
O sofrimento é grande. Apelidam os atos das coisas à "golpe", "rasgando a Constituição", "ferindo a democracia". 
Vocês aí, sabem me explicar aonde é golpe, se o ato de irresponsabilidade jurídica e fiscal foi feito? Pode ter sido traição, isso não nego: se ligaram às pessoas que deram com a língua nos dentes e ainda mais, escancararam a podridão que não era surpreendente. Ainda mais: grandes empresas - que tocam esse país - também puxaram o tapete da dona Dilma. Não era um partido de esquerda? Não era um partido dos pobres e micro empreendedores? Não seria a pátria educadora - que ao mesmo tempo que dá bolsa, tira carga horária de disciplinas imprescindíveis para construção do intelecto e do sujeito político? Se ligaram à grandes empresas, se ligaram à partidos de centro oportunistas e se ligaram à ideia de imbecilizar os jovens. 
A Dilma foi eleita e a eleição foi legítima até que se prove o contrário. Eu ainda acho que não vivemos mais o voto cabresto então, certamente, legítimo. Mas acho não só absurdo como impossível separar a eleição dela da aliança com Temer e com o partido PMDB. E ela, por acaso, teria sido eleita sem esse partido? Teria sido eleita, se os doadores vinculados a políticos do próprio PMDB não injetassem seus dinheiros em campanhas? Acham ainda que ela e o ex presidente Lula subiriam em palanques das famílias Sarney ou Calheiros, se não fossem famílias importantes na estratégia de vencer essas ditas eleições, pegando o seu preciosinho voto que você dedicou à figura petista? Teria a Dilma esses felizes e os aclamados 54 milhões de votos que teve se o seu tempo programa eleitoral fosse menor? Justo esses 54 mi que ela insiste em dizer que sofreram o golpe com ela? Ela não cometeu erros de escolha Dilma, até porque ela é um fantoche nas mãos do partido. O PT não foi ingênio ao se aliar ao PMDB. Os pares se conhecem nas suas falcatruas. Eles sabem em qual parte do tapete pisar na casa dos seus aliados, que não tem um morrinho de sujeira que os façam tropeçar. A aliança com o PMDB e com Temer foi estratégia muito bem feita visando vencer as eleições. Ou seja: INTERESSES. 
Sabem o melhor disso: os 54 milhões são traídos duas vezes. Votaram no partido que manipulou essa aliança e agora eles jogam nas suas cabeças, o nome "golpe" que é comido com farinha. Eles sabiam que não poderiam confiar, mesmo assim, o fizeram.
Isso, e podem me chamar de ignorante, mas não tem meu apoio. Nunca terá. Foram movidos por interesses para chegarem ao poder. E o que é pior: as nossas custas! Tenho asco dessa hipocrisia toda nos discursos de cada um no afã de defender esse tipo de gente desagradável (na falta de um termo mais pesado). Eu não votei na Dilma porque a legenda 13 não fez bem a universidade federal que eu estudo. Não votei nela porque nunca achei ela esclarecida dos seus planos de governo. Não votei nela porque seu plano de previdência era assustador. Não votei nela, por medo de um dia acontecer algo que a fizesse partir dessa para melhor, e tivéssemos Temer como presidente.

Pergunto mais: Alguém aí de fato leu a Constituição a ponto de saber quais os itens foram infringidos? 
Eu não faço ideia. Engraçado que agora, todo mundo é esclarecido sobre esse livrinho. Admito minha ignorância, e não tenho vergonha. Teria se ficasse falando sobre isso, sem conhecê-la.
"Feriram a democracia"? Ô coitada, juro que nem sabia que ela existia fora do dicionário e dos textos filosóficos. Tudo foi articulado por interesses. Sempre foi. Não há espaço para ela e há muito ela definhou até ser apenas um fantasma. Um fantasma sim, porque um fantoche quem é, é quem ainda escolhe votar em algum destes bizarros e medíocres seres humanos (seja eles de que partido for).

Quando as pessoas ainda falam nessa balbúrdia e sofrem por antecipação pela vergonha que é isso ir parar nos livros de história do futuro, eu dou gargalhadas. Não porque sou sádica ou louca. Dou risada pois não consigo forças para perguntar o quê dos livros de história do Brasil a gente pode ser orgulhar, bater no peito e ficar emocionado.

Eu me questionei se eu talvez não fosse a errada da situação. Olhei alguns poucos relatos por aí e percebi que eles até compactuam com o que falo vez ou outra, ou mesmo, li e percebi em muitos o quão mais razoáveis são frente aos demais. Mas o fato de eu encontrar alguém que pensa como eu também não pode ser ponto para que ache que somos, enquanto iguais, os donos da verdade.
Os que ponderam - e sei que muitos são os que estão lendo esse post agora - são os que mais "apanham" ao dizer certas coisas. No meu caso - e ainda bem - não sofro retaliações ou comentários de pseudo intelectuais que usam autores para soarem inteligentes. Parece que ainda respeitam minhas opiniões. Ou simplesmente me acham tão obtusa que ignoram. O ego me faz pedir que não exista ninguém que pense isso. Mas se existe, penso que seja melhor que eu saiba quem são. Tenho minhas desconfianças e fico triste. São pessoas amigas, que infelizmente só posso lamentar que pensem assim. Infelizmente, um curso superior não as faz melhores que os outros, como suas ações e opiniões deixa transparecer. Uma pena.

Não posso esperar dias melhores, nem rezar para que as coisas melhorem. Esperar sem fazer o meu melhor, que é me afastar das coisas e não me levar pelas paixões sem fundamento (porque essas defesas de partido X ou Y não é razão). Também não vou rezar para que o país melhore, para que o povo pare de bobagens e trabalhe. Deus deu o livre-arbítrio. A partir do momento que estamos aqui , vivendo, eu acredito que ele já deu os caminhos. Cabe a gente a escolher qual é melhor. 
E se a maioria escolheu olhar e cuidar do próprio umbigo... Quem só eu para apontar o dedo?

Abraços afáveis!

PS: Rezo sim, para que eu tenha forças para não me exaltar nunca mais sobre esse tema de política.

Comentários

Mário Paz disse…
Bem ,não sobrou nada pra acrescentar, faço minhas a suas palavras...muito legal o teu relato !
Mario Paz
Manu disse…
Obrigada Mário, de verdade! As vezes precisamos admitir a nossa própria ignorância, e achei o momento propício.

;)

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