F1 2020: Narrativas ficcionais e tese

Somos mesmo, muito carentes. Qualquer cara que aparece além da mesmice, quebrando o sistema, torna-se um grande piloto e “futuro campeão” nas análises dos especialistas, a ponto de se tornar objeto e assunto totalmente repetitivo e quiçá enjoativo, pautado em vários ‘nadas’. 

Uma grande simpatia por Pierre Gasly foi adquirida rapidamente, logo após o GP de Monza esse ano. Agora, toda corrida, tem que ter um “olha, o Gasly!!!”...  Escapa de seu controle, mas a hype criada desde então, se perde nos limites do bom senso. Qual? Nesse caso, qualquer um, de qualquer jeito, vira herói. Bastava só exaltar o feito e voltar a pensar o quando a mesmice, está matando o esporte que deveria ter como primazia, a competitividade. 

Outro que tem uma torcida muito forte é George Russell, ainda que ele tenha só superado os companheiros de nomes Lance Stroll e Nicolas Latifi. Mas isso é juízo de gosto.

Uma sofrência danada foi desencadeada quando surgiu uma possibilidade de não ter mais vaga para ele em 2021. Parecia o fim do mundo, mas tudo ficou “bem”. Ele foi confirmado e o stress, acabou. Mas, assim como Gasly, Russell é um piloto jovem, e é mais um em que todos exaltam demais. Eu não sei se isso é saudável. Tanto que bastou errar, e muita gente saiu das moitas, para criticar. 

No último GP, ele recebeu apoio do Romain Grosjean no Instagram logo após rodar sozinho e se martirizar no último GP pelo erro cometido. Romain é um cara muito bacana. Imperfeito, como muitos, mas agradável de fato. É uma pena, por exemplo, que já tenha feito algumas críticas a ele. Arrependo-me de verdade. Mas não é por ele ter sido solidário com o garoto da Williams que digo essas coisas, embora se fosse, estaria justificada. O ponto é que, Grosjean sabe, mais que muitos, que errar faz parte e que as críticas não endurecem, apenas esgotam as forças de se refazer.

Por isso não é bacana levantar os caras, ainda muito jovenzinhos, como reis da parada toda. Pois bastaria um erro, e o chute na cara viria forte.

E às vezes, o erro nem precisa acontecer na pista. Basta uma frase mal colocada por jornalista oportunista e um estardalhaço danado acontece. Destacar um “eu não me importo” com a conquista de outros, taxado como “desprezo” é tão, ou mais comum do que a gente gostaria que fosse. Aconteceu com Lando Norris após a conquista de Lewis Hamilton, que bateu os recordes de vitórias do então grandioso Michael Schumacher. Dar opinião diferente do que é a da turminha do bem, é um absurdo. Mas atrocidade é condenar quem pensa diferente, e é isso que deveria ser passível de "desculpas".

Por falar em Lewis Hamilton, ele escreveu boas palavras para Russell também. Ora, o cara é fabuloso, não é mesmo? Rei da pista e da p**** toda. “Tem um coração bom, genuinamente bom. Grosjean comentou também? Ué, nem vi...” Babaca foi o Lando, que desprezou o que esse homem já fez pela história do esporte. Vai ver, tem inveja, já que Lewis é o esportista de maior destaque na Inglaterra e não ele. Sim, estou sendo irônica.

Tudo bem Lewis falar que a corrida foi  (ou será) chata e isso não repercutir negativamente na imprensa. Ele pode, tem 94 vitórias, sabe gerir pneus e tem uma “técnica que adapta a qualquer tipo de carro”. (Ouvi isso no domingo de corrida em Ímola e fiquei com cara de idiota, olhando para a TV...). Dizer o que pensa é algo que só os grandes e fortes podem. O critério usado para delimitar a hierarquia, eu desconheço. 

Tudo ótimo a Ferrari atrasar a parada nos boxes de Sebastian Vettel. Ele está numa má “faaaaaaaase” mesmo e está de saída. “Tomou e toma pau do Leclerc desde o ano passado, não sei por que toda essa chiadeira”... Pois é. É a narrativa está feita pelos grandes, quem sou para contestar, não é mesmo?

Há quem diga que o Twitter está se tornando uma rede social inóspita: mulheres estão sofrendo machismo de caras que condenam as suas falar por serem... mulheres. Pode até ser isso mesmo, não duvido. Mas peço licença para lançar um spoiler: nunca ninguém questionou as minhas opiniões por eu ser mulher. Prestem atenção: dizer bobagens independe do gênero. Quando falo besteira, falo porque não tive o suficiente para construir uma análise contundente. Ou fui emocional demais, ou me faltou informação.  Quando estou no Twitter, leio babaquice de mulheres e de homens. Não se achem imunes a esse tipo de erro. Ninguém é, tendo útero ou não. 

A mídia é capciosa. E o fato de você acreditar em algumas coisas, é algo humano, e não está ligada a gênero. E vamos parar com as guerras campais: Fórmula 1 não é Ciência. Parem de tratar como se fosse. Tudo é especulação, inclusive gostar ou não. Tudo é especulação, inclusive para achar que sabe o que se passa dentro da Ferrari, dentro da Mercedes, ou dentro da cabeça dos caras. Nem você sabe porque age de uma forma e não de outra.

Sobre Lewis dizer que não sabe o futuro, e não destacarem que ele está disposto a seguir competindo pela Mercedes, é uma das coisas mais patéticas que a mídia fez nos últimos dias. Criaram um drama (jornalista recorta falas? Claroooo, trouxas! Sempre foi assim!) e um tanto de análise brotou como se fosse realmente, uma chance de acontecer. Não sei se foi ingenuidade ou arrogância. Ingenuidade para não conhecer um piloto marqueteiro e exibicionista ou se achar que é tão inteligentão ou inteligentona, a ponto de fazer acreditarem que exista a mínima possibilidade do cara sair do que faz a fama dele, depois de se igualar ao maior campeão de toda a F1 e ter 90% de ultrapassá-lo. Ah, tá bom...!

Depois de quebrar recordes do Michael Schumacher, a festa era da Mercedes após a corrida de Ímola. Ele não pestanejou: só escreveu para Russell porque aparecer como bom samaritano massageia muito o seu ego inflado. Não a toa, o recorte do comentário do Grosjean foi ignorado por muitos fãs (fãs?). Logo mais, disse que comemorar campeonatos de construtores era quase mais emocionante que o de piloto. ... Isso quando tudo que eles fazem é para ele, claro. Ou, 2016, a gente já apagou da memória os chiliques, sobretudo em Mônaco, com a vitória do Nico Rosberg? 

Eu não. E nem me surpreendi com a “exaltação” do Valtteri Bottas por esses dias e ainda um rancor danado pelo ex-companheiro. Fernando Alonso ainda que tenha ficado empatado com Lewis, no campeonato de 2007, chegou perto porque peitou quem protegia Lewis. Pagou com a pecha de que foi “superado”. Será que foi? Ou foi isso que ficou "parecendo"? Nunca vamos saber, porque saber é coisa de ciência e não de opinião.

Nico e Jenson Button foram caras medianos que mostraram que Hamilton também é. Bastou muito pouco para desestabilizá-lo. Pena que nunca voltará a acontecer. Não condiz com a busca de uma nova F1, ainda que a narrativa falsa sempre esteja presente, desde o seu auge. 

Hamilton deu opiniões arrogantes, desmerecedoras... Deu. Mas Lewis pode. Pode tudo. Inclusive comemorar com a equipe, mas fazendo doce para a renovação que virá sem redução de salário, diga-se de passagem. O que vai mudar, diz ele são as propostas verdes e como ele pode ajudar a melhorar a equipe e ajudar companheiros. Quando se aposentar, pode virar palestrante. (E quem é contra todo esse papo, está errado e deve ser isolado – ou pior: escorraçado...)

Eu não crio drama com Lewis fora da F1, nem sequer expectativa, pois ele adora um holofote. Depois deste ano, claramente ele transparece o seu gosto por estar na mídia, algo que eu já sabia desde o seu primeiro dia na F1. A militância – ainda que com ares de legitimidade – não escapa da divulgação midiática, das lentes. Possui pontos discordantes, contraditórios, e (correndo o risco de ter usado um termo cruel) hipócritas, sim. Mas isso nunca vai ser visto com honestidade. E se for, já mencionei, vai sofrer pedradas. 

Vou pedir uma licença. Esse texto devia ter sido publicado semana passada, um pouco depois do GP em Ímola. Não fiz. Mas antes de partirmos para o mesmo resultado na expectativa de uma corrida bacana apesar da vitória de Lewis quero propor uma ideia.

Eu já usei essa frase "já deu o que tinha dar" para Felipe Massa. Ano passado, sei que usei para Sérgio Pérez quando Nico Hulkenberg ficou sem lugar no grid. Continuo achando Sérgio Pérez um desperdício de cockpit, mesmo muita gente defendendo com unhas e dentes - algo que não consigo compreender nem com muita explicação. E ele está ficando insuportável com essa de ser cotado em vagas ( que parecem imaginárias, sinceramente). 

Usaram o "já deu o que tinha dar" para Kevin Magnussen e Romain Grosjean quando foi noticiado que eles não estarão na Haas no ano que vem, e por extensão, não estarão na F1. Poxa, sacanagem. Por mais que os caras não sejam lá essas coisas, eu pensei o quão cruel é essa frase, e esse tratamento. Doeu no peito. Tive pena. 

Não deveria ser assim. Não deveríamos ser tão vis assim. Quando usei o termo para Pérez foi pois que ele teve bons carros e boas chances na carreira, e não fez por onde. Assim como já usei para o Massa. Competiu mesmo, um campeonato, com uma Ferrari. Teve muito mais chances que um Magnussen ou até, mais que um Hulkemberg. Em tempo, tiveram carros medianos, de equipes medianas ou em crise nas mãos. Se "deram o que tinham que dar" já foi muito, dada as circunstâncias. 

Talvez a frase caiba mais em uns que em outros. Mas acho que ela é mau empregada. O "já deu o que tinha que dar" deveria ser dada para aqueles que entregaram muito resultado. Deu muito sangue e história para contar. Pensando sob esse prisma, é possível que Sebastian Vettel, já tenha dado o que tinha que dar. Foram 4 títulos vencidos como nunca antes visto. Ele suava de verdade. Dois títulos, venceu só no final. Encarou tipos diferentes de adversários, inclusive SUPEROU Fernando Alonso que era o cara que fazia milagres com uma Ferrari sempre mal nascida. Mas ele pode dar mais? Pode. Ele foi o cara que mais venceu na Ferrari em crise administrativa. Imagina o que pode fazer equipe nova, sem as amarras da pressão? Pode ser bacana de acompanhar. 

O melhor exemplo do "já deu o que tinha que dar" nessa minha tese, está por vir: Lewis Hamilton - o mais vitorioso absoluto de corridas: nesse fim de semana chega a marca número 95. Além disso: é recordista em pole positions, de pódios, de pontos, de quilômetros calculados e somados na liderança... Sete títulos mundiais. Já deu o que tinha que dar? Muito, demais, bastante. Dá um livro só sobre ele. Ninguém mais tem tanto a contar. Dá para parar no auge, antes de começar a perder o brilho e as pessoas colocarem defeitos. Que tal?

Aposto que vão contestar, estou certa? Não é nada bacana colocar limites nos outros, não é? Então, da próxima, pensem antes, belê?

GP da Turquia em pleno dia de eleições municipais. Eu ia sugerir para votarem consciente, mas lembrei que por "consciente" pode implicar diversas coisas, então, peço apenas que votem em segurança: não esqueçam a máscara, respeitem a distância na fila e levem a sua caneta e um tubinho de álcool gel reserva. Verifiquem se a zona eleitoral não mudou, não esqueçam a identificação - para quem fez cadastro biométrico, há um aplicativo para a identificação que se chama e-Título. Procurem se inteirar de tudo para votarem com tranquilidade.

E boa corrida! 7:10 da matina! Meu... 

Abraços afáveis!

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