O fim de uma era na F1: a "despedida" da Williams - por Marcos Antônio

A corrida sensacional do GP da Itália, que culminou com a vitória de Pierre Gasly, acabou deixando em segundo plano a despedida da família Williams do comando da equipe, encerrando o envolvimento de 51 anos de Frank e Claire com a Fórmula 1.  A dor acabou sendo menor do que eu imaginei quando a corrida acabou ainda assim, fica difícil imaginar a Williams não sendo mais a última dos garagistas, passando a ser uma marca. Um corte na carne para que o sonho de Frank não morra, mesmo estando em outras mãos. 

Lembro de quando eu lá moleque pirava com o carro que tinha o patrocínio do Sonic. O patrocínio pontual da SEGA que durou apenas um ano foi fundamental para chamar a atenção do moleque de 8 anos que eu era. O Jogo "Nigel Mansell World’s Championship" para mega drive completou o resto da minha paixão pela equipe Williams, que cresceu ainda mais com o passar do tempo, conforme as vitórias, os títulos e principalmente a compreensão de como Frank Williams criou uma das maiores equipes da história da Fórmula 1 do nada, ficou paraplégico e continuou a levar a equipe ao topo.

FW14 no GP de Mônaco 1991

A alcunha de último dos garagistas era um grande orgulho para Frank, que começou lá em 1969 junto ao amigo Piers Courage na Frank Williams Racing Cars, equipe que durou até 76, com direito a usar o orelhão de frente de casa para ligar para fornecedores, quando ele associou a Walter Wolf para criar a Wolf-Williams, ser limado da liderança da equipe e ir na justiça pra sair da equipe e fazer a equipe Williams que conhecemos ao lado do engenheiro e amigo, Patrick Head.

Williams FW03 Ford 1975

Entre 1979 e 1997 foram os anos de ouro dessa equipe. Sete títulos mundiais de pilotos, nove de construtores e o erro que considero fatal – Frank Williams também: Não aceitar a proposta de dar uma porcentagem da equipe para Adrian Newey e deixa-lo ir embora. Depois disso, a equipe nunca mais se acertou e teve alguns bons momentos com a BMW – montadora que proporcionou a Williams disputar o título pela última vez em 2003. A mesma BMW que tentou comprar a equipe e causou um rompimento traumático – muito mais pra Williams, que despencou e nunca mais se reergueu totalmente. Uma parca vitória de Pastor Maldonado em 2012, duas poles em 2010 com Nico Hulkenberg e 2014 com Felipe Massa.

Última vitória da Williams, em 2012, no GP da Malásia

Em 2013, Claire Williams, filha de Frank, assumiu a equipe já que a idade avançada de Frank não permitia que ele viajasse pelo mundo na sua condição de cadeirante e a morte da esposa e mãe de Claire, Ginny, para o câncer, foi um golpe muito duro para ele. Apesar do bom momento que a equipe teve entre 2014 e 2016, com pódios – que poderia ser uma vitória apenas se Rob Smedley não fosse tão conservador nas estratégias – foi muito criticada.

Ela cometeu erros? Sim, mas ela teve que lidar com uma equipe que infelizmente parou no tempo. A alcunha de último garagista da equipe foi ostentada por muito anos com orgulho, como se fosse uma bênção, mas acabou virando uma maldição, um norte que fez Frank e Patrick serem teimosos e cometerem erros crassos para o sucesso da equipe dos anos 2000 pra cá (exemplos: bico prestobarba de 2004, briga com BMW, motor fraquíssimo da cosworth em 2006...entre outros).
Claire também não poderia prever que nomes de notável sucesso na Fórmula 1 fossem fracassar totalmente na equipe, como Paddy Lowe, que foi um dos comandantes do projeto de sucesso da Mercedes no início da sua hegemonia na era híbrida que veio para equipe e comandou um projeto de carro tão ruim que tirou o status de equipe médio em 2017 para a rabeira do grid em 2018, de onde nunca mais saiu.

Último pódio da Williams: um terceiro lugar de Valtteri Bottas, no GP do México em... 2015

Com certeza, para Frank e Claire chegarem a decisão de vender a equipe, algo que pai e filha deram tanto de si para que tivesse sucesso, para que a Williams não tivesse o mesmo destino de outras equipes tradicionais como Lotus, Brabham e Tyrrell deve ter sido muito difícil. Mas o destino era inevitável se a Williams continuasse nesse caminho de parcos resultados e longe de patrocínio e da grana necessária para investir nessa fórmula 1 cada vez mais profissional. Mas foi uma decisão acertada, principalmente se eles tiveram todas as garantias possíveis que este grupo de investimentos Dorilton consiga manter o legado da equipe. A McLaren está aí como exemplo de marca bem sucedida no automobilismo que se manteve forte depois de a morte do seu criador e da saída de Ron Dennis que manteve a equipe no auge por anos, e a Williams pode seguir por este caminho com os novos donos.

Não vou negar que é triste ver que a Williams que acompanhei por 27 anos não existe mais. Mas ao mesmo tempo entendo e vejo com esperança essa nova era para equipe. Continuar a vê-la no grid sem a família Williams envolvida é mil vezes melhor do que ela ser extinta e eu nunca mais vê-los alinhar para mais uma corrida. Minha torcida continuará e espero que este grupo seja realmente sério e leve a equipe para onde ela merece estar, no patamar das grandes equipes da história da Fórmula 1 como Ferrari e McLaren. Como eu dizia no meu antigo blog: Go Williams Go! Sempre...

* Marcos Antônio é um dos editores do Surto Olímpico e administrador da página F1 Fanático, no Twitter, Facebook e Instagram

***

Obrigada Marcos pelo tempo disposto e pelas colocações como fã dessa grande equipe, tradissionalíssima, que vai perder esse gostinho de "canônica" na Fórmula 1 por  não ter mais a direção da família que ergueu todo o precioso alicerce que está escrito, e é deixado como legado ao esporte.

Há alguns dias tinha convidado o Marcos para escrever algo para esse espaço e prontamente ele aceitou o convite, o que me deixou muito feliz. O que faltava para a concretude do texto era um tema. Essa "despedida" da família Williams acabou sendo o gatilho necessário para ele, providencial, porém, um tanto triste. Mesmo assim, o texto foi ótimo, e espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei. (Sou mesmo afortunada por poder contar com parcerias aqui no blog e poder compartilhar com vocês).

Em breve, a gente se fala - pois tem o GP em Mugello, logo mais. Piscou, chegou rsrsrsrs...
Abraços afáveis e se cuidem!

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