Oscar 2019: Uma grande decepção

Desde 2001, eu e minhas irmãs sentamos, uns dias antes do Oscar e "apostamos" nos vencedores. O Bolão, era totalmente palpiteiro e puramente voltado para o achismo. A nossa base eram as sinopses de cada filme e críticas de uma revista de cinema chamada SET. A gente nem se dava o trabalho de "votar" nas categorias de documentários ou edição de som, por exemplo, pois a gente mal sabia do que se tratava alguns deles e obviamente, agíamos como a Glória Pires: "Não sou capaz de opinar". Das 24 categorias, a gente chutava, basicamente tudo, sem muito critério.

Nos anos iniciais da brincadeira, a gente escrevia numa folha os votos das categorias principais, e no máximo tínhamos assistido um dos filmes concorrentes (geralmente, uma animação). Com o passar dos anos a gente modernizou o processo. Passamos a fazer festinha, com lanches e bebidas, sessão de fotos. Passamos a ver um pouco mais dos filmes, desde que tornassem disponíveis na internet e a gente pegava emprestado de quem (quase sempre ilegalmente) baixava os arquivos em formato para ver na TV. Criamos regulamento de pontuação. Regras de aposta: plaquinhas, bloquinhos para anotar as informações de cada categoria. Depois do Oscar, quem fica em último, organiza o evento no ano seguinte. Assim, a coisa foi se aprimorando.
As reuniões tornaram-se eventos, tão demorados quanto o Oscar, quase tão cheio de coisas para fazer quanto ele. Passamos a assistir a maioria dos filmes, dando prioridade aos das categorias principais. Com isso, as discussões ficaram aprimoradas. O tempo de aposta começou a durar tarde inteiras e um bom pedaço da noite, para o desespero dos pais e vizinhos. Passamos a ter slides dinâmicos, abertura de envelopes (como no Oscar), fichas de votação, quiz temático, vídeos de chacota e até memes. 
Com o passar dos anos, nossos gostos ficaram apurados. Não é qualquer filme que a gente gosta. Não é qualquer roteiro bobinho que a gente engole, nem mesmo, qualquer atriz frouxa que a gente bate palma. Os filmes estrangeiros, antes deixados de lado por falta de interesse ou gosto, passaram a ser os que mais queremos ver, e os que mais entretém. Nos dois últimos anos, assistimos todos da categoria e todos eles tinham algo de muito mais especial do que aqueles que concorriam a melhor, na categoria principal.

Esse é o primeiro ano, cujo evento vai ser empolgante, apenas, talvez, pelos lanchinhos e lembranças das besteiras que surgiram nos anos anteriores. (Num deles, levei uma bolinha de plástico na cabeça, depois de ficar contando vantagem que eu ia ganhar naquele ano. E isso, foi filmado. Até hoje, dão risada do meu atentado). Tudo porque agora, a premissa seguida pelos filmes não é contar uma bos história original, mas adaptar histórias recheadas de discursos. 
Comentarei cada um a seguir, e darei a cara a tapa para toda crítica negativa que fizer.

Pantera Negra

- Sinopse: O filme do Pantera Negra segue os acontecimentos de Capitão América: Guerra Civil, onde T’Challa regressa à nação isolada, mas tecnologicamente super avançada de Wakanda. Contudo um antigo inimigo surge e T’Challa é testado enquanto Rei e Pantera Negra, tentando salvar a nação de Wankanda e o restante Planeta Terra.

- Crítica: 18º filme da Marvel. O roteiro é fraco, recheado de clichês óbvios de muitos filmes baseados em quadrinhos. 
Foi considerado o melhor filme da MCU, mas não passa de palanque: tem destaque pela representatividade negra pois coloca todos como ricos, bem apessoados, fortes e poderosos. As mulheres, além de guerreiras, são inteligentes e superiores aos homens. Os  personagens desprezados/secundários são os personagens masculinos e brancos (interpretados pelos excelentes atores, que por coincidência são ingleses também, Andy Serkis e Martin Freeman).
Apesar de considerado o melhor filme da Marvel, ele acrescenta muito pouco (para mim, quase nada) para as histórias que estão sendo amarradas entre si no Universo.

↑ Prós: É muito bem feito em efeitos visuais, figurinos e cenários. As cenas de luta também são bem sincronizadas, e você quase acredita que Wakanda existe, tanto é que fica com uma baita vontade de viver lá. O uniforme do Pantera é um espetáculo. De longe o mais bonito, sem dúvidas. 
↓ Contras: O T'Challa de Chadwick Boseman não é carismático, nem cativante. Ele não acendeu a vontade de "quero mais" sobre o personagem quando apareceu em "Capitão América: Guerra Civil", mas poderia ter a chance de cativar o público com um longa só seu. O vilão, Killmonger, interpretado pelo Michael B. Jordan, além de bem mais forte e apessoado, conseguiu o feito rápido a ponto de fazer a gente querer ele como rei de Wakanda em poucos segundos na tela. Mas logo que aparece a luta por poder nos minutos de conclusão do filme - em que é rapidamente derrotado pelo T'Challa - o ato de se redimir dos "pecados" antes de "bater as botas" foi tosco e piegas. 
A irmã de T'Challa, super inteligente, é mais uma toada da representatividade da mulher negra forte e independente, que já está exaustivo, não só neste filme, como em qualquer um. 

Se vencer, já sabem que não é qualidade, não é arte. É lobby.


Infiltrado na Klan

- Sinopse: Em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo por meio de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.

- Crítica: Se é para falar de representatividade negra, que faça com propriedade e que seja cirúrgico. E chame o Spike Lee, pois vai enfiar o dedo na ferida deixando escorrer álcool puro dentro dela. Para aliviar, ele vai secar com esponja de aço. 
Oras, acho que é só assim que a sociedade (hipócrita) americana (e porque não, a nossa também) vai "sacar" as coisas. 
Por alguma razão, (idiota, talvez) a academia não gosta do Spike Lee...

↑ Prós: O filme, além de tocar no assunto de uma grande vergonha dos EUA que é a existência da KKK em vários estados, seleciona apenas quem é o vilão ferrenho, quem é em cima do muro, quem diz o quê e não vitimiza os negros, como se todos fossem perfeitos. Ao fim, ainda mostra uma sequencia de imagens atuais sobre a violência que os negros sofrem no país e que não é brincadeira.
↓ Contra: O fato de ser furioso, pode ser encarado como uma abordagem extremista. Também, pelo ponto de vista de quem fez o trabalho pesado em termos de interpretação é o policial branco, interpretado por Adam Driver, pode fazer algum militante/simpatizante das causas negras torcerem o nariz já que não exalta o personagem negro de forma incisiva. Mas nem acho isso um problema

Se vencer, será agradável. É sim, um excelente filme, apesar da postura de crítica social ser o destaque, mais que a arte pela arte.

Bohemian Rhapsody

- Sinopse: Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon formam a banda de rock Queen em 1970. Quando o estilo de vida agitado de Mercury começa a sair de controle, o grupo precisa encontrar uma forma de lidar com o sucesso e os excessos de seu líder.

- Crítica: Começaram errado já pela sinopse. Mas, não me levem a mal, apenas é uma questão de fazer justiça às coisas. Do jeito que se fala, era como se o Queen fosse uma banda "barril de pólvora", prestes à explodir  a qualquer minuto. Talvez não seja bem isso, mas a licença poética para roteiros de filmes biográficos, sempre faz a gente torcer o nariz e não agrada a todos. 
Longe de ser um péssimo filme, ele aposta em situações da trajetória da banda, com mudanças que doem nos fãs, são irrelevantes para quem conhece uns pedacinhos dela, e faz com quem chama o filme de "filme do cara do Queen", querer baixar as músicas em mp3 e ouvir alto no som do carro. Isso tudo é problemático para mim, que está ficando de cabelos brancos e ranzinza antes da hora.

↑ Prós: A narrativa é ligeira, apresenta as melhores e mais conhecidas canções do Queen e conta com um elenco apurado. Rami Malek conseguiu encarnar Freddie Mercury, apesar de quase beirar o caricato. Por pouco, não foi. Para os demais membros da banda, talvez a semelhança tenha ficado apenas em traços da fisionomia ou jeitos de falar, o que requer um pouco mais de observação, algo que ficaria devendo.
↓ Contras: São alguns, talvez mais graves que os já citados, já que depõe contra o filme à questões mais relacionadas à fatos. A imprecisão temporal dos marcos na trajetória do Queen compromete a história a ponto de te deixar um pouco perdido, duvidoso ou revoltado (caso conheça as biografias). 
O homossexualismo de Freddie foi destacado, não de forma explícita (o que é muito bom, diga-se), mas acabou tendo um recorte muito grande, soando forçado já que o assunto está na moda. Encaixado da forma correta, e com as menções de cada disco e fase da banda, talvez, nem tivesse incomodado.
O ponto pior é uma questão externa. O diretor Brian Singer, enfrentou problemas de denúncias de assédio, justo numa época em que o tal "#MeToo" está em voga e as mulheres, acusando até um periquito macho que olha de lado para elas. Mesmo o diretor tendo se afastado da produção e não aparecendo em nenhuma apresentação ou premiação, apareceram mais denúncias e Rami Malek já teve de se posicionar contra o diretor, nem que seja por aparência ou para continuar a ser elogiado e com chances de ganhar mais prêmios.

Se vencer, eu vou rir da cara do Bradley Cooper e da Lady Gaga (embora essa "senhora" vá dizer - de novo! - que o nome artístico dela é em homenagem a banda... #Affff)


A Favorita

- Sinopse: Na Inglaterra do século 18, Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough, exerce sua influência na corte como confidente, conselheira e amante secreta da Rainha Ana. Seu posto privilegiado, no entanto, é ameaçado pela chegada de Abigail, nova criada que logo se torna a queridinha da majestade e agarra com unhas e dentes essa oportunidade única.

- Crítica: um trio de mulheres, se pegando nas horas de ócio, e disputando poder entre elas? Parecia chato. Depois de algumas horas de filme, pareceu chato e também super bizarro, a dar conta de que os diálogos não combinam com as vestimentas e a forma de filmar é bem moderna para um filme de época.
A cada ano, o Oscar tem trago um filme que causa estranheza em excesso para competir com outros, relativamente normais. Esse é o esquisitão da lista. Loucaço. Eu fiquei reagindo de duas formas enquanto assistia: com cara de nojo ou com a testa franzida. Nas duas, eu dizia: "meu Deus..."

↑ Prós: Elenco feminino tem enchido o saquinho, mesmo quando a gente não tem um? Sim. Mas se tem algo que salva esse filme são as interpretações do trio principal. Até a dona Emma Stone está bem, e olha que eu não vejo graça nela. De fato, as mulheres seguraram o roteiro aqui. Mostram-se não como fortes e empoderadas. Mas como mesquinhas, manipuladoras, histéricas e desonestas. Acho mais justo assim.
Ah, e os figurinos, são de babar!

↓ Contras: É super esquisito. Mas, para quem tem a mente aberta, é um prato cheíssimo. Eu sou tradicional. Se tivesse linguagem culta, de época e deixasse muita coisa pornográfica apenas subentendida, talvez eu gostasse mais. Mas só talvez.

Pode ser que seja a pedida do Oscar. Esquisito, moderno, elenco feminino que não gosta de homem... Capaz... Diga-se de passagem, é "the favorite" junto com Roma.


Roma

- Sinopse: Cidade do México, 1970. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

- Crítica: Simples, direto, conta uma história de cotidiano, com começo, meio, porém um fim meio aberto. Todo em preto e branco o que pode dar um soninho caso esteja com ele atrasado, ou caso esteja disposto a dar uma cochilada. Não há nada de especial, mas é o filme mais cara de Oscar que todos os outros, pois todos os elementos estão lá: fotografia, uma crítica social como pano de fundo, dramas pessoais, dramas familiares, conflitos, choros e resoluções. 

↑ Prós: Sem apelar para vitimismos, Cuarón conta uma história pessoal, que se passa no México na década de 70, mas que, com o passar do tempo, ela se torna relevante e a tendência é que não envelheça com o passar dos anos. É artístico, pois tem um cuidado em tomadas, cenários e montagem que muitos diretores mais novos tem simplesmente dado de ombros para isso. 

↓ Contras: É simples, conta uma história que pode acontecer com a empregada da sua vizinha, por exemplo. Além disso, o diretor é mexicano, imigrante, fazendo muito sucesso em Hollywood. O que depõe contra ele, é que pode ser medida da academia lhe dar o prêmio para rivalizar o muro do Donald Trump. Então, qualquer ato que dê palanque, é contra as minhas vontades, já que isso torna a arte feita por eles, chata.

Se ganhar, muita gente vai dar razão ao Trump, já que os diretores latinos se não levam estatueta de melhor filme, levam de direção: em 2014, o próprio Alfonso Cuarón ganhou a melhor direção por "Gravidade", Alejandro Gonzales Iñarritu em 2015 por "Birdman", em 2016 ele ganhou de novo, por "O Regresso", e em 2018, Guillermo Del Toro foi o melhor diretor e também levou o Melhor Filme por "A Forma da Água"...
Ah, detalhe, esses citados são todos falados em inglês. "Roma" é falado em espanhol e concorre também à categoria de filme estrangeiro. Se leva as duas estatuetas...

Para não ficar um post muito grande, continuarei amanhã as minhas críticas. Já aguardo os comentários, caso tenham assistido algum.

Abraços afáveis!

PS: comentarei sobre os carros da F1 assim que todos forem apresentados para a nova temporada.

Comentários

diogo felipe disse…
Bela resenha, Manu. Este ano não vi nenhum Desses concorrentes ao Oscar. 😥

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