Sobre Fórmula 1 e sobre a categoria na Tv aberta - Marcio Kohara

Semana passada tivemos as confirmações sobre a transmissão da F1 em nosso querido (?) Brasil. 
Sim, será na Bandeirantes, e o esquema é bem semelhante ao da antiga casa: treinos livres e classificação no canal fechado BandSports e a corrida no canal aberto. E outra coisa: F2 e F3 também serão transmitidas, além da Stock Car que já estava confirmada, se não me engano, desde o ano passado. Contando com (por enquanto) Reginaldo Leme e Mariana Becker na equipe, há possibilidades de outras contratações para breve e de trazerem mais alguém do grupo da Globo. (Nesse último caso, realmente me deixa com os cabelos em pé...)

Para hoje, faço outra pausa aos balanços da temporada 2020, por um motivo nobre: um baita texto, pragmático do Marcio Kohara sobre as transmissões em Tv aberta e também sobre o "estado" da F1 nesses últimos anos.
Depois de uns comentários que ele fez a respeito no Twitter, pedi que ele escrevesse para o blog. E eu acho que vocês devem colocar a preguiça de lado nessa segunda-feira (que deveria ser recesso de Carnaval), ler o texto que ele preparou, pois contém tanta verdade que acrescentar mais ao conteúdo, é chover no molhado. 
Já deixo meus agradecimentos ao Marcio, pelo tempo dedicado e pelo texto.
É fantástico! Um dos assuntos que venho martelando aqui há um bom tempo - o fato da F1 ter perdido o seu sabor - pois  acúmulo de vitórias de um piloto só tem deixado a coisa toda mortalmente enfadonha, aparece no texto com uma melhor argumentação do que a minha anterior ranhetice. 

Estou dando spoilers... Fiquem com o texto do Kohara: não irão se arrepender!

***

Vou começar o texto dizendo que sou fã de Fórmula 1. Porém, também conheço gente que não é fã e procuro enxergar fora da minha bolha. Deixando isso claro, vamos lá.

Usando o termo que está na moda atualmente, acho que a narrativa de que ‘a Globo, madrasta, tratava mal o produto Fórmula 1 e graças a Deus a Bandeirantes veio resgatar a história e a paixão por esta modalidade’ é exagerada. Penso que a Fórmula 1 mudou pra pior nos últimos anos e recebia um bom tratamento dentro da Globo. Existem os problemas de anos de convivência, que talvez sejam melhor resolvidos com o remédio para isso, o tempo. Esse bom trabalho era insuficiente pros fãs mais fanáticos? Sim. Mas, pra um produto de nicho que é a Fórmula 1, imagino que o tratamento era bem digno.

Claro que a Globo poderia tratar melhor a maior categoria do automobilismo mundial. Poderia mostrar treinos livres, classificação e pódio na TV aberta., fazer um programa pré-corrida de uma hora, fazer entrevistas no grid nesse meio tempo (atrapalhando a concentração dos pilotos), fazer um programa pós-corrida mais elaborado, mostrar entrevista coletiva, o Paddock Pass, o Drive for Survive, mais matérias especiais, etc. 

Mas isso daria audiência? Um canal de televisão vive fazendo pesquisas para analisar a recepção das atrações para o público. Imagino que a recepção de matérias mais profundas, por mais que agradem os fanáticos pela categoria (ou de entusiastas de engenharia automotiva em geral), não tenha sido tão positiva na análise geral do público. Por outro lado, no último ano a Globo melhorou bem a qualidade das matérias sobre a categoria (a série dos 70 anos da Formula 1 no Esporte Espetacular foi muito boa). 

Por isso eu discordo da história (ok, narrativa) de que a promoção poderia ser muito melhor. Acho que a Globo fez um bom trabalho e isso podia ser mais bem reconhecido. A verdade é que a Fórmula 1 sempre recebeu boa audiência do Globo Rural (por mais que o Auto Esporte derrubasse um pouco, mas isso é recente, e tudo bem). A promoção feita nos telejornais, inclusive em Jornal Nacional, chegava a ser desproporcional a importância real de um produto esportivo que não é o futebol. E creio que tudo isso era uma promoção bem digna. 

A Globo fazia tudo isso de graça? Obvio que não. A Fórmula 1 era o segundo maior faturamento comercial da emissora. E colocar marcas deste porte em comerciais valorizados da emissora ajudam a vender mais espaços. Tudo isso faz parte do jogo.

Haviam problemas? Claro. Cobravam exclusividade? Sim. Viam a F1TV como concorrente para a GloboPlay? Parece que sim. O espaço era insuficiente? Certamente. Podiam aprofundar a cobertura? Obvio. Não mostrava corrida no Canadá, México, EUA?. Sim, é verdade. 

Mas, nesse último caso, se veja na pele do diretor de programação. Você coloca o jogo de futebol -que da 20 pontos de audiência no Ibope- ou a Formula 1 -que entrega 9 ou 10 pontos- no lugar? “Ain, mas nos, fãs, ficamos desamparados”. Calma amigo melodramático. A mesma corrida passava no Sportv e no site deles. E vida que segue. 

Tenho uma opinião impopular sobre tudo isso: o que não gera audiência tem que ser cortado de TV aberta. Não sou contra cortarem pódio. Nem pódio, nem classificação. A verdade é que, pra quem vive fora da bolha (o grosso da audiência de um canal de televisão aberto), esse é o tipo de coisa que não gera engajamento -as pessoas não param para ver. Até o meio das corridas tem sido fraco com frequência. Na parte da largada acontece alguma coisa, mas depois a coisa amorna por uma hora, até a corrida acabar. 

Se eu fosse um dono da emissora -ou um diretor de programação- pensaria até em cortar o meio da corrida. Mostra a largada e as 10 primeiras voltas, que acontece alguma coisa. Interrompe. Coloca um Mais Você de 40 minutos no meio. Dá tempo de preparar uma lasanha. Volta com um compacto de 5 minutos com o que aconteceu e voltava ao vivo com as 5 últimas voltas. Se o Mais Você do meio da corrida entregar 12 pontos e a corrida entrega 10, pra que eu vou ficar com a corrida? Pra não falar que nunca pensaram nisso, faziam exatamente isso com a Stock quando a categoria nacional começou a perder do Pica Pau. 

“Ain, nossa. Mas e a tradição?”. Tradição não gera maior engajamento e audiência. Se não gera mais engajamento, audiência e nem patrocinadores, eu vou fazer o que com o produto? 

“Ah, mas você tá falando isso porque gosta de futebol”. Olha, gosto de futebol. Mas dependendo de qual jogo passa, dependendo da audiência que isso gera, podiam deixar mais duas horas de Mais Você ali no lugar, que poderia ser mais interessante para a audiência. Dava pra fazer um assado e tanto. 

Sai mais barato fazer uma cozinha e contratar a Ana Maria Braga pra fazer mais 5 horas semanais de programa do que comprar direitos de Brasileirão e ou Fórmula 1. Ok, um Faustão. Um The Voice Kids, porque "quianchas" são fofas. The Voice +, porque gostamos de velhinhos. The Voice Pets, porque todos que tem coração gostam de cachorros ou gatos. Big Brother, porque todos gostamos de barraco e fofoca. Ratinho, pelos mesmos motivos. Qualquer um deles sairia mais barato que futebol e Fórmula 1.

Não é só a Globo

Ah, sim. Importante. A Formula 1 também piorou no geral. Houveram evoluções nos últimos… sei lá, 30 anos? Sim, houveram evoluções. Não tem morrido gente com tanta frequência, o que é muito bom e prova a evolução da segurança. Imagine ver um piloto virando churrasco no meio da preparação do seu churrasco? Aconteceu. Bastante. Mas o espetáculo mudou, e piorou.

Se compararmos a Fórmula 1 de 30 anos atrás com a de hoje, hoje os carros parecem mais colados no chão. Antigamente o piloto parecia tentar colocar um foguete descontrolado sob controle. Hoje os carros parecem trens de alta velocidade sobre trilhos magnéticos. Mal derrapam. Também por essa eficiência e velocidade, a coisa ficou mais monótona. Assim, com uns dez minutos de corrida, você tem a noção do que vai acontecer na corrida se nada de mais acontece. E em uns 70% das vezes vc acerta. Não acontece nada de especial ali. Tudo bem, em uma novela, com 5/6 capítulos, vc imagina o que vai acontecer nos próximos 250. E também acerta. 

Mas antigamente a coisa mudava com mais frequência na Fórmula 1. Lembrando uma corrida que aconteceu na última temporada: Silverstone 1, 2020 (Grande Prêmio da Grã Bretanha). Foi a corrida que acabou com o Hamilton se arrastando, com 3 pneus e tal. E os níveis de tensão para a audiência foram as alturas, tentando ver se Hamilton chegaria a frente de Bottas naquela ultima volta. 

Foi um feito inédito. De fato, um piloto vencer uma corrida com um pneu estourada, se arrastando por mais de meia volta, é inédito. Mas, nos anos 1980, isso acontecia com frequência com outros itens do carro. Imagine a cena: um piloto liderava a corrida com 2 dias de vantagem sobre o 2º, andando com todo o cuidado e… quebrava o motor, sendo obrigado a abandonar o carro. O 2° passava o 1º e o diretor de imagem, de forma sádica, colocava na tela um close no piloto que abandonou a corrida, com a cara amuada, no momento que isso acontecia. Tinha um corte de imagem pro 2º, que sorria e mostrava a língua pro antigo líder e... Seu carro ficava sem gasolina na curva seguinte. O outro, que vinha em terceiro, com uma semana de desvantagem, ganhava. 

Pode parecer absurdo, roteiro de final de desenho animado e tal, mas na época em que limitaram os tanques de gasolina e os carros eram construídos para durar os 300 quilômetros da corrida isso aconteceu com frequência. Foi ótimo, e esta cena se repetia por toda a temporada. “Puxa, mas o fulano está forçando demais o carro”. Por isso os anos 1980 são lembrados com saudades, e o final de Silverstone também será lembrado por algum tempo. 

Pena que o final de Silverstone não deve se repetir. O que vai acontecer agora é que vão deixar os pneus mais resistentes para evitar um “vexame” destes. “Que absurdo o pneu estourar”. “Nossa, que publicidade ruim os pneus estourarem no final”. Bom, a Pirelli estipulou 30 voltas como limite de resistência. As equipes andaram 35, 40. Claro, seria melhor o pneu não gerar mais aderência quando acabasse, ao invés de estourar. Mas eles estouraram, os carros sofreram para acabar a corrida, e tudo bem.

Só que deixar os pneus mais resistentes é a abordagem errada para a solução do problema. Quebras de componentes de carros de Fórmula 1 era algo que trazia uma certa indefinição no andamento das corridas. Hoje isso acabou. Os motores e transmissões são desenhados para durar sete corridas. Então o sujeito abre 10 segundos sobre o segundo e vc tem certeza que a corrida vai acabar assim se nada muito fora do normal acontecer.

Claro que hoje os carros andam mais colados, então a diferença entre o primeiro e o décimo por volta está na casa de um segundo. Naquela época, a diferença ficava em dois ou três segundos. Porém, naquela época mais pilotos e carros poderiam vencer, mais erros eram cometidos pela pilotagem ser mais difícil, havia briga entre duas equipes ou mais por vitórias e você ficava imaginando quem poderia ser campeão no fim do ano. Hoje a pergunta não é “quem”, nem ”se” um piloto vai ser campeão, mas “quando” ele será coroado campeão.

Por isso eu gosto da ideia da “nascarização” da Formula 1. Bandeira amarela força entrada de Safety Car? Gostamos. Pneu que explode a 2 voltas do fim? Tudo bem também. Os pneus são iguais para todos. DRS? Ótimo. Balance of Performance (igualar performances de unidades de potência)? Beleza também.

Meritocracia? Desculpa. Isso significa previsibilidade. O melhor sempre vai largar na frente e sempre vai ganhar, o segundo melhor sempre vai largar em segundo e sempre vai chegar em segundo. O gráfico de posições dos carros volta-a-volta (o “lap chart”) fica parecendo uma pauta musical (aliás, vale o merchand, leia o Musique-se, da Manu e do Ron Groo). 

Se é pra ver uma corrida que vc sabe o resultado depois da largada (ou até antes da largada) você pensa se vai ver. Caso a largada aconteça as 4:00 da manhã, então, você cogita a necessidade de colocar o despertador para tocar, já que você não tem nem certeza que vai ver. E, se eu que sou fã -um tanto velho, mas ainda fã- penso assim, imagine quem não gosta. Em TV aberta vc precisa atrair o pessoal que não gosta pra ter um nível de audiência decente.

E ainda se ouve de alguns fãs falando que é fantástico ver um piloto ganhar a 18ª corrida do ano em 16 possíveis. Empilhar a centésima vitória em 85 corridas. Até é fantástico. Pra ele. Pros Zé Planilha, que acham que o mundo se resume a uma planilha de Excel. Mas, com todo o respeito, pro público leigo isso não é interessante. Imprevisibilidade é a alma do negócio. 

Se é possível explicar uma corrida de 2 horas pra alguém que não está vendo com uma palavra, como se pretende que se ache isso interessante pra quem não vê? Como assim? Certamente o amigo leitor que aguentou este tratado até aqui já teve o seguinte diálogo com alguém que chega ao seu lado no sofá/cadeira/caixa de cerveja na frente da TV em que acompanha a corrida: “E aí, o Hamilton tá ganhando?” “Tá”. “Ok, tenho mais o que fazer da vida”. Se a primeira pergunta teve uma resposta negativa, o diálogo se estende, a pessoa ao lado pergunta para você como isso aconteceu e talvez até tenha perdido alguns minutos ao seu lado, vendo a corrida. E, de repente, na corrida seguinte, este seu interlocutor ligou uma outra televisão pra ver a corrida ao mesmo tempo que você. Imagine isso multiplicado por milhares. Milhões. É exatamente isso o que move as caixas registradoras da TV aberta.

No fim das contas, existe o detalhe que o melhor vai ganhar o campeonato. Até porque ele chegou na frente em diversos Grandes Prêmios e conseguiu mais pontos do que os seus adversários. E mesmo que não ganhe os quinze campeonatos que disputou, ótimo, outro ganhou, mas todo mundo sabe quem é o melhor. Funciona assim na Nascar. Eu não me importo nem um pouco em dificultar um pouco mais a vida dos caras que são melhores. Até pra ser sádico em algum momento e poder dar risadas deste melhor, vendo o que não é tão melhor ganhar uma ou outra corrida ou campeonato.

O que grande parte das pessoas normais procura não é simplesmente saudar o melhor e ver uma confirmação disso toda semana. Mesmo que tentem fazer parecer que está difícil, que a equipe não tem o melhor carro, que o melhor piloto está correndo em outra equipe... Se o resultado é sempre o mesmo, então nada disso que foi falado é verdade. 

Mesmo que você adore lasanha (a com a receita da Ana Maria Braga), comer lasanha todo dia enjoa. Faz mal. Mesmo que (e ainda mais caso) seja de berinjela. Sempre é bom variar. Estamos caminhando para o oitavo título seguido de uma equipe e quinto título seguido de um piloto só.

Marcio (fã de Fórmula 1, gosta de cachorros e lasanhas, mas odeia berinjelas)

***

Não avisei que não se arrependeriam?

Comentem (se quiserem) e divulguem o texto para que alcance, principalmente, os fãs "enfermamente" jovens da F1. Talvez ele ajude à construírem uma ideia melhor sobre as duas coisas em questão aqui:

A) A categoria em si, pois as paixões e o vislumbramento podem estar exagerados demais, gerando um desconforto no chamado "fandom" que é absurdo de se presenciar.
E isso, não é só particularidade do fã jovem! Tem jornalista e comentarista perdendo a razão do afã de fazer-se entusiasta de pilotos como  "Maiores e Melhores da História", ignorando as circunstâncias e o calendário inchado das temporadas. É como disse o Marcio e reforço: podemos adorar lasanha, mas comer todo dia, enjoa. 

B) As transmissões nos próximos dois anos com a Band. Acho que não custa ponderar o sobre o que é de fato importante e o que não é para a emissora, e provocar um entendimento sobre os limites razoáveis para o público leigo, sobretudo. Não levar em conta que as transmissões devem estar submetidas ao seu critério de gosto seria a chave de toda a discussão. "A Globo não passava o pódio..." Me desculpem, mas isso é perfumaria. Nos últimos anos, assistiu um pódio, assistiu todos. No máximo, a ordem era mudada. E se havia alguma coisa de diferente, bastava recorrer ao site, se isso te interessa tanto.
Hamilton nem comemora mais, pois nem ele tem paciência (ou seria, superioridade?) para essa "formalidade" - embora ele garanta e insista no discurso do "pure joy" toda vez.

Pensem sobre e depois, se quiserem, me contem ;) 

Abraços afáveis!

Comentários

Belo texto. Concordo com muita coisa escrita nele, principalmente sobre a chatice que se tornou essa previsibilidade toda. Mas não vem de agora. Foi assim com o Senna, mas a geral amava, pois o brasileiro já era o Semideus Daquelas Corridas de Domingo de Manhã, o motivo para muitos acordarem cedo num dia que seria de descanso. Com a morte dele, ou de sua imortalidade assegurada, foi a vez da endemonizada supremacia ferrarista com o queixudo 7 Estrelas, que todo mundo passou a odiar por estar pulverizando os recordes do Santo Ayrton. Quando surgiu um certo astuciano, digo, asturiano, o povo meio que dividiu seu ódio. Mas quando surgiu o principe de ébano, o afroSenna, a pachecada logo ligou o modo Capitão América e viu as referências verde e amarelas no capacete deste, fazendo seus olhos brilharem e órgãos sexuais voltarem à ativa. E daí se só ele ganhava, e daí se o seu carro era de outro universo, superior às Williams de outro planeta? O que conta é o seu queridinho ganhar tudo e de todos. Ele milita? Olha um novo nicho a ser explorado aí!

Mesmo apesar disso tudo, eu ainda insito em acompanhar a categoria. Mesmo torcendo pro Piquet e vendo este ser esquecido, odiado e trocado pelo novo brasileiro. Disse na época que era chato ver a McLaren ganhar tudo e fui taxado por minha mãe. irmãos e tios como anti brasileiro, do contra, ser do mal. Perguntaram até se eu fiquei feliz com a morte do Senna. Pra você ver a que ponto chega a idiotice do brasileiro. Segui acompanhando a hegemonia ferrarista, mesmo não tendo o queixudo como piloto preferido. Também nunca fui fá do outro queixudo, o astuciano que não sabia da trapaça de Singapura, mesmo sendo o maior beneficidado. O próprio Lula da F1. Do blesed, também nunca fui fã. Tornei-me menos ainda quando fui chamado de racista por causa disso. Foram os primeiros sinais de que o público da categoria estava se tornando chato, mala. Minhas maiores alegrias eram quando ele se dava mal, confesso. Tornei-me uma pessoa amargaurada, torcendo pro insucesso alheio, frustrada com as vistas grossas ao comportamento e palavras hipócritas do queridinho da unanimidade. Chorei de raiva quando o Vettel esqueceu a roupa no varal e bateu o carro na Alemanha, quando começou a chover. Ali vi que não iria mais arrumar nada na Ferrari. Voltei a torcer, como sempre fizera, pelos coadjuvantes. Minhas alegrias se resumiam a ver as trapalhadas dos Kobayashis, Maldonados, Grosjeans e Strolls da vida. Passei a sentir saudade do Barrichello e raiva do Massa, principalmente quando jogou a culpa da perda do título na imbecilidade passiva do Nelsinho Piquet. Esse, aliás, minha maior decepção nesses 40 anos em que sigo a F1.
Sempre gostei das transmissões da Globo. Sempre relevei certas coisas, mesmo com raiva, como ficarmos sem um ou outro GP em detrimento a um jogo entre Sport e Corinthians, ser obrigado a ouvir narrações ufanistas elevadas à enésima potência, comentários bobos e puxa sacos ou perder um pódio interessante. Vou acompanhar essa temporada na Bandeirantes (pois dou desse tempo), certo de que no final do ano ouvirei e lerei as mesmas críticas que hoje são dirigidas á Vênus Platinada. Brasileiro só sabe reclamar mesmo, nada está bom para ele...

Desculpe o longo texto e a desordem. Estou na rua e não queria deixar pra comentar depois, sob o risco de me perder e acabar não deixando aqui minha opinião. Como fiz (ou não fiz) em diversas outras vezes...rsrsrs
Manu disse…
Eduardo, essas questões são muito bem colocadas por vc. Já sei da sua frustração com a falta de imparcialidade jornalística e fanática em relação a F1. Mais do que muitos, vc me entende qd digo que me irrita a exploração da imagem do LH como um cara sobrenatural.
Eu nunca torço por esportistas que são assim tratados pela mídia. Engraçado que nunca nem sequer me aproximei disso... Não torci pelo Tom Brady, nem muito menos pelo Neymar, por exemplo... Antes mesmo de conhecê-los, eu fico com os dois pés atrás. O pensamento "Esse aí, não sei não..." acaba ficando, ficando... E se eu permaneço observando, acabo indo contra a maré do falatório.
É instintivo. Será que Freud explicaria? Rsrsrs...

Abração!

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