Novelinha da F1 - Capítulo 21: GP de Abu Dhabi

Com um campeonato previamente resolvido ainda na metade e matematicamente decidido faltando duas corridas para o fim da temporada, era de se esperar que as circunstâncias de corrida fossem verdadeiras perdas de tempo. Desde que Lewis Hamilton venceu com sobras o somatório geral do campeonato no GP das Américas, pairou a sensação de que as corridas finais poderiam ser verdadeiros fiascos.

Por talvez uma razão de patriotismo, consideramos o GP do Brasil um dos melhores GPs do ano, mesmo que tivesse sido mais eletrizante nas voltas finais. Repetir o resultado eufórico em Abu Dhabi era otimismo demais.
As possibilidades do último GP do ano conter todas as nossas insatisfações com a F1 como um todo era muito propício. Abu Dhabi, desde que entrou no calendário oferece nada mais que deslumbramento apenas no que se refere à estética. Em termos competitivos é um circuito simplório. Oferece pouca possibilidade de mudanças de posições, a porcentagem de ultrapassagens é baixa e seria certamente uma procissão de carros, com os melhores ganhando muita vantagem. 

Essa expectativa de que Abu Dhabi seria perda de tempo total veio já no primeiro momento "valendo" do fim de semana: a classificação. Nela, Hamilton retornou ao "mundo das poles" e com ela resumiu a temporada - ele que, sempre que viu oportunidade, discursou sobre a dificuldade em ter pegado o jeito do carro acabou ajudando na crença de que havia certo "equilíbrio" nas disputas deste ano. Coitado, ele estava sofrendo com o carro. Que dó!

A questão certa é que as Mercedes sobraram, a Ferrari tomou os holofotes não pelo desempenho, mas pelos feitos (e "desfeitos") seus pilotos, as burrices estratégicas e a má gerência de Mattia Binotto. Essas duas últimas circunstâncias na Ferrari reacendeu uma força na Red Bull de forma bem incisiva, como justo em Abu Dhabi pudemos comprovar.
No que podemos reavaliar é que a Mercedes esteve o ano todo fazendo o básico e ainda passando um rolo compressor em todos, sem deixar sequer uma chance para as demais tentarem colocar uma pressão mínima que fosse na equipe prateada.

A Ferrari, como ressaltei, se destacou pela sua incapacidade de gerir classificações, corridas, pilotos e o próprio nome, ouso acrescentar. Foi vítima de chacota (e com razão) em todas atrapalhadas que produziram. Salvo o triunfo no quintal de casa (Monza), houveram poucos casos para os "tifosi" se orgulharem de serem, "tifosi".
Para Abu Dhabi as coisas estavam especialmente complicadas para a dupla de pilotos da Scuderia. Depois de protagonizarem uma desnecessária disputa em Interlagos, Charles Leclerc e Sebastian Vettel perderam a chance de se aproximarem de Max Verstappen para uma das únicas coisas que ainda precisava ser decidida na temporada: a terceira colocação da tabela.

A causa independe, afinal o resultado acabou se tornando fato: o acidente entre eles tirou os dois da corrida. Lá na frente, Verstappen conquistava a vitória e sua missão estava praticamente cumprida.
Apostos para a terceira colocação, assim que o GP em Austin terminou, Leclerc possuía vantagem para a conquista: ele estava em terceiro, com 249 pontos, enquanto o holandês da Red Bull somava 235 e Vettel 230 pontos no geral. Em Interlagos, o que mais precisava trabalhar era o último dos três, pois estava na quinta colocação. Devido ao que já tomamos de conhecimento (uma equipe que não se interessa mais por ele e a grande pressão por resultados "fabulosos") o mais prejudicado pelo toque com companheiro acabou sendo Vettel, que ficou muito mais distante da conquista pela terceira colocação geral do que antes.
Leclerc se mostrou um tanto irracional no avanço contra o companheiro no GP anterior. Sabendo que Max venceria a corrida, a sua quinta colocação lhe renderia 10 pontos a mais no somatório. Max terminaria a corrida com 260 e ele, 259 pontos. Em Abu Dhabi a coisa poderia ser interessante, poderia ferver. Mas ele não dedicou tempo de contar esses pontos,  ou não teria feito o que fez.
Já Vettel, mesmo com 12 pontos a mais, somaria 242 e estaria ainda longe de seus "rivais". Suponho que, quando tentou retomar a quarta colocação em Interlagos, ele estava pensando no mínimo de pontos que poderia guardar no bolso, por isso tentou recuperar. 12 pontos era melhor que 10, no seu caso.
Colocado nesses termos aquela disputa em Interlagos pareceu ilógica, mas não foi nada do que o pessoal da Ferrari pudesse reclamar. Erraram o ano todo tanto com Vettel quanto com Leclerc. Tinham que engolir essa, e caladinhos.
Em Abu Dhabi a chance de engolirem à seco a derrota, dessa vez para a Red Bull, estava próximo dos 90%. Tudo começou com o atraso em mandar os pilotos para a última volta rápida no Q3. Resultado: P4 para Charles, P5 para Sebastian. Quem era o P3? Isso mesmo, Verstappen. A Ferrari "cavou" todas derrotas que tiveram no ano. Seus pilotos, e especialmente o mais criticado deles, Vettel,  não são o problema da equipe.
Se não fosse a troca de motor de Valtteri Bottas, Leclerc não poderia ter a chances de pódio, uma vez que estaria em quarto e as Mercedes viriam (como sempre) fortes e Max não entregaria nada sem lutar em Abu Dhabi.

De cara para o vento, Hamilton não teria intromissões de seu passeio dominical. 
Verstappen só precisaria de um bom ritmo para manter o P2 e fechar seu ano na terceira - ainda que ele seja um tanto petulante - merecida colocação na tabela.
Vettel, que desejava estar em casa com o recém nascido filho, parecia ter entregado os pontos logo depois da classificação. E com razão. Mais um erro da equipe, mais uma virada de costas, mais um balde de água fria, mais um caminhão de críticas. Estar desgostoso era o mínimo.
E Leclerc estava sob investigação por conta de uma irregularidade no peso do combustível. Pairou a informação antes da largada que ele poderia ser desclassificado. Os comissários decidiram analisar o caso depois da corrida. Isso já era um tanto tendencioso: para mim, ficou claro que só decidiriam dependendo totalmente do resultado. Caso Leclerc fizesse milagres ou Verstappen abandonasse, imaginei que a punição seria perder posições e/ou uma multa - claro, para evitarem que dissessem estar "protegendo" o garoto e a Ferrari.
No entanto, ele largou em terceiro e terminou em terceiro. Verstappen ainda era segundo. Nessa configuração, logo que a corrida acabou, mantiveram o resultado e decidiram apenas por um multa à Ferrari pela irregularidade.
A equipe salvou a corrida de Charles uma vez que não errou a estratégia com ele. Preferiram destruir a possibilidade de Vettel competir por um lugar ao pódio. Como fizeram? Chamando ambos para uma parada dupla e muito cedo. Não conseguiram fazer uma única parada descente para os dois numa mesma corrida o ano inteiro. Acharam de bom grado fazer as duas paradas, seguidas e com compostos de pneus diferentes para um e para o outro. Resultado: se afobaram com a parada de Sebastian e ele perdeu ritmo. Assim também, ele terminou no P5 tanto na corrida quanto na tabela.

Vettel teve um ano para esquecer. Obviamente ele não admitirá isso e colocará panos quentes caso alguém venha a perguntar. Mas é fato que 2020 será um martírio, dadas as "estatísticas" que a mídia  (inclusive grandes portais de notícias) esportiva tem esfregado na cara dos fãs da F1 sem pudor ou ética. Não há nenhuma preocupação de BBCs ou de comentaristas renomados em evitarem ser tendenciosos, arrebentando de vez com a carreira de Sebastian Vettel em termos de falatório e opinião (invejosa).

Para Leclerc será outro ano duro, mas não tanto. A pressão de ser piloto da Ferrari já está com ele faz tempo. No seu segundo ano com a equipe, ele precisará se forçar a cometer menos erros para poder cobrar e exigir que a equipe não erre com ele em 2020. Ainda há muito para aprender com Vettel, e ele deve aproveitar a chance de tê-lo como companheiro de equipe. Nenhum outro, sendo campeão mundial QUATRO vezes, o respeitaria mais do que Sebastian parece (a meu ver) respeitar.

Para Max as coisas começam a caminhar melhor, finalmente. Ele obteve um ano bem mais consistente. Seus erros foram bem menores que nos anos anteriores. Está certo que ele não enfrentou disputa interna na RBR, mas foi por pouco que Alexander Albon não começou a causar incômodo. Se estivesse com ele, como estará em 2020, desde o começo da temporada, pode ser que até que houvesse algum tipo de atrito entre eles.
Essa será uma dupla que já criou boa expectativa e que poderá colocar pressão na Mercedes ano que vem. Caso os planos de Bottas em superar Hamilton dê errado, é bem possível que Verstappen e até mesmo Albon possam deixar Hamilton um pouco (talvez só um pouquinho) preocupado em não conseguir o sétimo título mundial.

Sim, Hamilton deve concluir 2020 conquistando o sétimo título. Não será fácil como 2018 ou 2017. Talvez seja um pouco parecido com 2019. Ele pode experimentar um pouco mais de dificuldade. Pode ser que conquiste o título em Interlagos, como muitos fãs brasileiros da F1 torceram. Quem sabe até, conquiste em Abu Dhabi, para dar um sentido para essa pista ruim. E é aí que ele experimentará a dificuldade: Ganhar o campeonato nas últimas corridas é o máximo de sofrimento que ele e a Mercedes poderão ter em 2020.
Enquanto isso ele chorará muito a respeito desses probleminhas que surgirão e no fim, será exaltado como tem sido nos últimos 5 anos.

Para fechar, os destaques além do já mencionado sobre a tabela e outros assuntos:
► Excelente sexta colocação de Carlos Sainz e a Mclaren, com seus 96 pontos. Interessantíssimo ver a Mclaren minimamente competitiva de volta e ainda, com uma das duplas de pilotos mais legais do grid, com Saiz e Lando Norris. O garoto ficou em 11º em seu ano de estréia e com 49 pontos bem maneiros para um começo como piloto titular.

► Pierre Gasly e Alexander Albon ficaram com 95 e 92 pontos respectivamente e trocaram de lugar no meio da temporada. Apenas Albon não teve o seu pódio, mas Gasly, depois de rebaixado, pode experimentar essa ideia no Brasil, algo bacana de se ver.

► Daniel Ricciardo na nona colocação com 54 pontos comprova uma expectativa que eu temia que fosse realidade no começo do ano: a Renault não é equipe (ainda) para oferecer algo a altura de Ricciardo.
Com a demissão de Nico Hulkenberg, uma das coisas mais chatas (e porque não, idiotas) da temporada, a Renault receberá em 2020, Esteban Ocon (de volta à F1). Fica difícil não torcer contra, ainda mais sabendo que Hulk acabou por ficar sem vaga em 2020 - e por ser "pessimista" (oi?!?) demais.. Em tese, sua carreira acabou na F1 (embora ele não descarte o retorno) sem contar pelo menos com um pódio. Terminou seu último ano em 14º, e 37 pontos. Uma colocação ruim e poucos pontos revelariam uma "justificativa" para o seu desemprego. Porém, estou segura em dizer que tais números não condizem com a realidade.

► Sergio Pérez fecha o top 10 de 2019, com  52 pontos. Seu companheiro e filho do dono da Racing Point, Lance Stroll fechou o ano em 15º, e marcou 21 pontos. Sua vaga seria - sem sombras de dúvidas - muito melhor aproveitada por um piloto como Hulk. O garoto rico é um desperdício de cockpit.

► Kimi Räikkönen fez o que pode com a Alfa Romeo e terminou o ano em 12º com 43 pontos. Já seu companheiro novato, Antonio Giovinazzi não produziu legal, mas o suficiente para o ano de estréia, numa equipe que nem mesmo pode ser considerada de meio de grid: fez 14 pontos e o 17º lugar.

► Daniil Kvyat obteve miseráveis 37 pontos na Toro Rosso e viu os dois companheiros, tanto Albon quanto Gasly ficarem muito mais à frente dele. Seguirá com Gasly na equipe que agora se chamará Alfa Tauri e não mais Toro Rosso. 

► Por fim, as tristezas: a Haas, com Kevin Magnussen e Romains Grosjean tiveram participações bem ruins. O primeiro fez 20 pontos e ficou com o 16º lugar. O segundo marcou miseráveis 8 pontos, ficando em 18º. A Haas era um dos possíveis destinos de Hulk e eles optaram por manter a dupla atual. Embora eu tenha tomado partido em favor à Grosjean esse ano, não irei dizer que uma das vagas - a dele - deveria ser de Hulk, pois a Haas é uma péssima equipe. Eu tenho é pena dos pilotos, isso sim.
Outra equipe ruim (mas não pelos seus pilotos, novamente) foi a Williams. Apenas Robert Kubica marcou um ponto, ficando em penúltimo. Criticado aos montes, voltou à F1 e está de saída novamente. Não é mais aquele Kubica que conhecíamos. 
George Russell o outro novato, acabou zerado. Terá, em 2020, um piloto pagante como companheiro: Nicholas Lafiti, vice campeão da F2. O futuro dirá, mas poderá ser mais um desperdício de cockpit - ainda que seja na "em ruínas" Williams.

E assim terminamos 2019. Não foi excelente. A gente clama por mudanças. Quem sabe até março de 2020 a gente não começa alimentar as ilusões de novo?

Cá está e os palpites de vocês estão abertos. Se esqueci de algo, basta comentarem.


Abraços afáveis!

PS: Peço desculpas pela demora da última coluna pós corrida do ano. Havia um texto ponto para ser publicado ontem, mas o site não salvou. Garanto a todos que o texto era bem melhor que esse.

Comentários

Carol Reis disse…
Eu ainda acho que o Ricciardo fez a pior escolha da vida dele, pq duvido que a Renault se recupere. Aliás, acho mesmo que a Renault vaza depois de 2020. A única esperança do Ricciardo seria se ele fosse p Ferrari (esperança na Ferrari kkkk essa é boa), onde vai ter que bater cabeça com o Leclerc p ver quem vai ser o campeão do mundo (isso se as outras equipes fizerem mais cagada do que eles né, o que é improvável).

Vettel, coitado, é aquele piloto que todo mundo gosta de chutar. Tem matérias q eu leio que deixaram de ser matérias p serem ataques pessoais mesmo. Teve um imbecil da BBC que fez um comparativo do Vettel com outros pilotos e colocou Hamilton como um piloto que nunca agiu com agressividade na pista...sem comentários, né.

Ano que vem Hamilton será campeão com o pé nas costas mais uma vez. Esse quadro aí que vc pintou, como disse, é uma previsão extremamente otimista. Toto Wolff vai entrar p história como um dos melhores chefes de equipe, o que é merecido. Agora, eu acho q o próximo domínio vai ser do Verstappen.
diogo felipe disse…
Manu, é compreensível uma defesa do Vettel,pelo histórico, pelo talento. mas querer q Hulk tome uma vaga na F1 de um ocon, aí é fanfarronice! 😛
O cara não conseguiu um único pódio, sendo q em casa teve toda a chance da carreira. O lugar dele e no wec, pra ganhar o vi em Le mans.😉
Manu disse…
Oi Carol!
Concordo com vc que Ricciardo fez um péssima escolha indo para a Renault. E o recém chegado (pomposo) Ocon parece que declarou (não sei se é especulação barata da mídia) que o carro de 2020 não será competitivo. Se disse isso mesmo, mandaram Hulk embora por ser pessimista, mas na real ele era simplesmente realista e não um lambe botas. Ocon já chega com a mesma "motivação". ¬¬'
Assim, confirmo a minha ideia de que Hulk só ficou sem emprego e não pode mostrar o seu talento de fato porque ele quis apenas correr de F1 e não ficar de frescurinhas com os chefes de equipe.

De fato, Vettel é um coitado. Eu vi essa matéria da BBC... E pensar que é uma mídia conceituada dessa, fazendo trabalho mais chulo que youtuber.
2020 vai ser bem feio para ele.

Verdade. Pintei um quadro otimista em relação ao Hamilton. Projetei uma mínima dificuldade do inglês em vencer o sétimo campeonato, pois acredito que ele entendeu a lei do mínimo esforço. Toto e cia fazem tudo o mais pesado por ele, por isso, ele usa dos mesmos discursos todo fim de classificação e de corrida. Muito chato.
Gostaria que o Verstappen entrasse 2020 pensando sempre que precisa ser mais combativo ainda, pois se depender da Ferrari para fazer dos seus pilotos bem sucedidos, a categoria estará perdida.

Obrigada pelos comentários, sempre.
Manu disse…
Oi Diogo!

Discordo totalmente, claro. Não ter pódio é um meme que, até 3 anos atrás, era comentado por quem gosta de criar intrigas. Virou chacota, agora. Até rimos, mas, na hora de falar sério é hora de dizer que esse fato é uma pena. Mas vamos lá: se isso é parâmetro para colocar Hulk na lista dos péssimos, o que dizer daqueles que tiveram pódios, oportunidades em equipes médias/grandes, e simplesmente viraram fumaça?
Mas, essa é a minha perspectiva. Se vc acha o Ocon mais talentoso, tudo bem. Acho complexo comparar as carreiras que são diferentes. Pontuei ser difícil não torcer contra, uma vez que o cara ficou sem posto em 2019 e eu, particularmente deixei de achar ele assim tão bacana depois do lance com Verstappen em Interlagos 2018. Mas desperdício de cockpit para mim é o de Lance Stroll (e talvez, ainda seja cedo afirmar, o de Nicholas Lafiti).
No entanto, proponho colocar Ocon como um dos que ficarei atenta para saber como ele se portará em 2020, com Ricciardo de companheiro e com a inconstância da Renault. Assim fica melhor? Espero que sim.

"Inté"!

Postagens mais visitadas deste blog

Aquaman post

Corrente Musical de A a Z: ZZ Top

Boas festas 2021!