Balanço da Temporada F1 2020 (parte VII)

Já escrevi diversas vezes que o circuito de Spa é o meu favorito.
Infelizmente, na metade das vezes que comentei sobre isso, o resultado do GP foi sem graça. 
Culpa do circuito? Não, culpa do atual sistema da F1. Agora, engolimos, todo o tempo, corridas de um só resultado possível. 
Deste modo, o evento na Bélgica em 2020 não soou diferente do que estava previsto.

Deixamos de dizer que "só os bons vencem em Spa", para passarmos a concordar com Max Verstappen. Spa foi chatíssima. Eu jamais imaginaria, lá no início dos anos 2000 que, um dia, o circuito da Bélgica seria considerado um dos mais chatos da temporada. Saudades, inclusive dessa F1 dos anos 2000 e até, do começo da década 2010. Muita saudade...

Esse foi  meu tempo, então, se acha bobo quando alguém diz que "tempo bom era o tempo do fulano", engole o choro pois, quando a gente se apaixona por um esporte, tudo é ótimo. 
Sim, existe um exagero fanático aí, com certeza. (Aposto que pensaram nos fãs do SantoSenna...) Mas ainda assim, há de se convir que, pelo menos, era bacana para um bom número de pessoas, "normais". 
Até quando o Michael Schumacher vencia muitas também era mais interessante que agora. Voltem ao texto do Marcio Kohara e lembrem do que venho dizendo aqui: Não há mais entusiasmo na categoria sabendo o resultado pré moldado antes do campeonato concluir. 
Se você vai ficar nessa de criticar quando a pessoa começou a vislumbrar a beleza da F1, eu sugiro que você pare por aqui e abandone essa página. 
Ainda que sempre houvesse hegemonias na F1, havia algo de imprevisível na temporada e não se deixava que ficassem há mais de 5 anos, uma só equipe - e um piloto - vencendo campeonatos seguidos. 

Bom para você que enxerga coisa boa hoje na categoria. Eu, infelizmente, procuro pela imprevisibilidade e não tenho encontrado. Adivinhar o resultado final antes mesmo de sair o grid de largada, é uma coisa que eu não acho divertida e tem se repetido demais para que eu aceite de bom grado. 

E assim, um dos textos mais mornos do ano, contava exatamente a busca incessante por um lado positivo das corridas de 2020, já estávamos na sétima corrida e eu não sabia dizer outra coisa se não "entreguem o prêmio para Lewis Hamilton e mandem os demais para casa". Ter poupado a gente de umas corridas que viriam a seguir, teria sido vantajoso: para quê assistir a algo cujo o resultado a gente já sabe como vai ser, antes de acontecer?
Perda de tempo? Ah, sim, com certeza!

Sobre o GP em Spa, se quiserem, podem conferir no link da postagem para pescarem o quão sem graça estava a situação. 


Só de correr os olhos por essa tabela temos a dimensão do quão desinteressante estava sendo a temporada. Se um circuito bacana não oferece o mínimo de emoção, não tem como chamar a atual F1 de competição... Eu não consigo nem expressar o quão esquisito é não identificar mais como esporte.
 
Parece coisa de gente velha, a contar que "no meu tempo era melhor", mas convenhamos: quem começou a assistir a F1 há mais tempo, não tem como considerar que os últimos 6 anos da categoria ótimos. Como disse no começo do texto, e reforço, para quem descobriu a categoria não faz três anos, talvez considere a F1 ainda a mais bacana de todas. Mas sinto certa pena de alguns destes, pois adoram rebaixar aqueles que falam do seu tempo.

Saibam que não tem graça alguma criticar a pessoa que diz "no meu tempo os caras faziam corridas no braço". Nem todo mundo é bom com as palavras, por isso, esse argumento parece passível para você, querido e querida, de chacota. Mas isso não significa que não é uma fala que contenha alguma verdade. 
Já diria Sheldon Cooper (e tantos outros personagens):


Sem saberem se expressar bem - afinal, nem todo mundo tem o dom da retórica, as vezes só se querem convencer de algo, no grito - a questão é que, até com Sebastian Vettel, tetra campeão mundial, a imprevisibilidade era mais presente que na era Lewis Hamilton e a Mercedes. 
*Spoilesr alert* para os jovens, cria da Netflix: A Red Bull do Vettel quebrava e mais que isso: foram quatro títulos disputados com rivais de outras equipes, nenhuma vez com o próprio companheiro, Mark Webber - embora, tivessem umas disputas entre eles que não vemos mais. A única vez que Lewis disputou com outro, para valer, na risca, foi com Nico Rosberg que era, de qual equipe mesmo?
... Ah... 

O fato de não gostarmos de Sennas, Schumachers, Alonsos e Vettels, não deslegitima uma ideia importante: até com eles, ainda havia algo mais minimamente mais empolgante na F1. Pelo menos, eu não via com tanto incômodo os caras ganharem corridas. Hoje permanecemos assistindo como num grande "faz de conta": fingindo surpresa, toda vez que a Mercedes faz pole e vence as corridas. Soa muito mais fácil para eles, do que nas eras destes já citados.

Voltamos dar continuidade à tabela no começo do texto. Vou colocar os três primeiros, um abaixo do outro para entenderem o "desespero":

Grid: Hamilton, Bottas, Verstappen. 
Pódio: Hamilton, Bottas, Verstappen.

Bacana! #sóquenão Deve ser interessante para quem tem transtorno obsessivo compulsivo, ver os nomes alinhadinhos assim.
Fazendo o mesmo, na sequencia, do 4º ao 10º.

Classificação: Ricciardo, Albon, Ocon, Sainz*, Pérez, Stroll, Norris.
Corrida: Ricciardo, Ocon, Albon, Norris, Gasly, Stroll, Pérez. 

Mudou ali? A ordem é quase a mesma e não temos o *Sainz, pois o espanhol não chegou a largar com problemas no escapamento. "Ah, mais aí está a mudança"... 


E do 11º ao 17º? Temos também:

Classificação: Kvyat, Gasly, Leclerc, Vettel, Russell, Räikkönen, Grosjean.
Corrida: Kvyat, Räikkönen, Vettel, Leclerc, Grosjean, Latifi, Magnussen. 

Na classificação, o P18, P19 e o P20 foram: Giovinazzi, Latifi, Magnussen.

Na corrida, dois não completaram: Giovinazzi se envolveu  em um acidente e Russell acabou prejudicado pela batida, abandonando na mesma volta. Ambos, fizeram apenas 9 voltas das 44. Por isso, eles não aparecem na linha da corrida comparada à classificação.
Sistematicamente, a largada segue igual à última volta. 
Isso é muito, muito frustrante. 

Olhem de novo, uma linha abaixo da outra. As mudanças são mínimas. E é essa a tônica que não abre brechas para qualquer outro assunto e análise. Dá até para concordar com aqueles que dizem ser "um monte de carrinhos dando voltas por aí". E é mesmo. Uma procissão em que os caras passam, dois terços da corrida, gerenciando pneus. 

Quando um Magnussen da vida, sai da F1 e experiencia competir em outra categoria, dizendo que "carros da F1 são fáceis de pilotar", que não oferece desafios, ficam muito presos ao comportamento dos pneus e etc., não falta sabichão a dizer "então porque ele não ganhava corridas?"
Pois foi exatamente isso que aconteceu. E o dinamarquês, está coberto de razão. Mas vai defender o seu ponto de vista para você ver o que é passar raiva?! Não dá pára contar que o pessoal faça sinapses sobre o que está acontecendo. É mais fácil mandar um "ah, mas o Magnussen é ruim mesmo, quem se importa?"

Nisso, os cérebros de ervilha se vangloriam de "presenciar o tempo do Hamilton", o Maior e o Melhor de todos. 
"Maior" será, em 2021; pois em termos de números, oito títulos, não temos mais ninguém. "Melhor" é juízo de gosto; variante, conforme a pessoa, e conforme o foco. Na análise pura, "melhor" não é exato e os especialistas se esquecem disso. O foco deles é o número 8 que vai passar a estar no Wikipédia do piloto. Não vai ter um dito cujo que vai contar com o calendário inchado que Schumacher não tinha a seu favor, nem a qualidade e a saúde do equipamento Mercedes - praticamente inquebrável. 
Para provocar: ainda acrescentaria - Schumi  não venceu corridas, nem títulos, com um só motor.


Para irmos caminhando para o fim dessa postagem, deixo o irrelevante placar da classificação:


Situações que surpreendem: Bottas ainda ter conseguido duas classificações à frente do Lewis - não, talvez por sua incapacidade, mas mais por suposto impedimento; e Ricciardo ser muito superior ao Ocon, que permaneceria na equipe, enquanto Ric cumpria seu último ano de contrato. Nesse último caso, a gente via como era mais normal: era o da Ferrari. Vettel perdia para o piloto da casa, por estar, justa e forçadamente, de saída. 

Lembrando que, na classificação, ainda há alguma chance de dizermos que existe o fator velocidade como prioridade no período estipulado. É a meta, não o "poupar/gerenciar pneus". 
Prestem atenção: os tempos são muito próximos uns dos outros. 
Por isso, é preciso dizer que a linha que favorece traçar a narrativa de que "fulano é mais rápido que o ciclano" é muito tênue, e além disso, pode enganar. Confia-se no postulado "os carros são iguais" e é daí que surge a (falsa) surpresa quando um deles ganha do companheiro, de muito, nas classificações. 

Acabamos por aqui, mas antes, vale lembrar que, pouco antes de acontecer o GP da Bélgica, houveram protestos de esportistas, pelos levantes violentos entre policiais e a comunidade afrodescendente pelo Estados Unidos. Alguns boicotaram partidas para serem ouvidos, cobrarem das autoridades e reivindicarem justiça.  
Lewis participou da corrida sob o pretexto de que Bélgica é um outro território... Isso não foi mais considerado por ele, ao levantar um protesto, dali duas semanas, na Itália. 
Veio à tona, uma questão: seria a sua luta por direitos humanos só quando convinha o holofote em torno de sua particular figura pública?

Mas esse é um assunto para uma outra postagem. Me despeço prometendo mais do Balanço da temporada em alguns dias. O oitavo GP do ano trouxe um pódio inédito. Devia ser o primeiro em uns dois anos, ou em, no mínimo, 40 corridas. 
A conferir.

Abraços afáveis e cuidem-se!

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