Legendando Fotos do GP da Alemanha 2018
Há um tempo atrás eu tinha algumas redes sociais de adolescentes. Existia um treco chamado "Fotolog" em que a galera infanto-juvenil postava fotos de má qualidade, de máquina digital à pilha que foi comprada à parcelas nas Casas Bahia. Eu via uma turminha de meninos magrelos de boné e óculos escuros, meninas com decotinhos discretos com recheios miúdos e os achava "toscos" e "inconsequentes", nesta mesma ordem. Se hoje, eu, com aquela idade, visse os caras bombados e suas veias de braço e pescoço estufadas, as fotos das colegas e amigas das colegas de calcinha e sutiã transparentes no Instagram, mudaria o termos para "assustador" e "carentes".
Nunca postei foto minha nesse fotolog. Eu usava ele para postar uma foto aleatória e comentar sobre ela. Eu digitava uma citação de livro combinadas com uma paisagem. Ou colocava foto de um músico que gosto e comentava sobre como o descobri e o que estava ouvindo naquele momento.
Nunca gostei de foto. Sou contraditória e admito, pois muitos de nós somos: tenho Instagram e Facebook, mesmo não achando certo esse exibicionismo, mesmo não achando que alguém se importe onde estou, com quem estou ou o que estou fazendo.
Mesmo pensando assim, eu não fecho as contas.
Certa vez, nesse extinto fotolog meu, coloquei uma foto de Lewis Hamilton e Felipe Massa e escrevi sobre o último GP do campeonato da F1 2008. No título, saquei a pergunta: O Sujo ou o Mal Lavado?
Eu não lembro o que escrevi, mas acredito que fiquei dividida e tentei - certamente sem sucesso - argumentar quem era o Sujo e quem era o Mal Lavado. Naquele ano, assisti ao GP de Interlagos e fiquei triste por Massa perder o campeonato em poucos segundos. Um ano mais tarde eu fazia piada com a situação. Anos mais tarde eu o chamaria de ridículo toda vez que diziam que Timo Glock sabotou a corrida do brasileiro, sendo que ele próprio havia errado em corridas como o GP inglês, e ninguém dizia nada sobre isso.
Arrependi de ter compadecido com Massa. Mas seguramente, nunca disse que Hamilton mereceu vencer. Acho que em mais de duas circunstâncias deixei claro que tal disputa entre os dois foi só possível pois, Alonso e Raikkonen estavam basicamente anulados naquele ano. Não era talento do inglês, era um carro, uma aparente garra de começo de carreita, e muita pompa que o levou à campeão mundial.
Já faz 10 anos isso. Muita coisa mudou. Aprendi a ver a F1 sem ter um piloto preferido, dois anos depois desse evento. Passei dois anos, achando que de fato, Vettel era um bom piloto, sério candidato à top 5 de sua geração. Quando ele foi tetra, tive a certeza disso.
Nisso, minha raiva pelas atitudes pequenas de Massa, como culpar os outros de suas próprias falhas e ser, no mínimo, pedante sobre sua função em muitas entrevistas, só foi algo que me ocupei, durante sua "carreira".
Me ocupei sim, de forma muitas vezes exageradas, mas por algum tempo, eu não tive amarras para criticá-lo. Pois por aqui, até mesmo em portais de notícias, o que deveria ter era isenção em noticiar as coisas do esporte. Tudo que víamos era notícias tendenciosas a defender um dos lados. E isso reflete, inclusive nos fãs da F1: ninguém critica um piloto, a não ser que ele tenha pisado no calo do seu piloto favorito. Está certo, são fãs, não profissionais. Mesmo que não tenha um piloto que ame de paixão, é fácil encontrar alguém que na primeira corrida empolgante do ano, escolhe um herói/genial e um vilão/mimado.
Estranhamente, mesmo que alguns tenham sido o ápice da arrogância, podridão e mentira, são aceitos de bom grado, como se fosse "normal". Em alguns destes quase 20 anos que assisto todas as corridas, e acompanho campeonatos inteiros, todo ano ocorreu isso: um Chapeuzinho Vermelho e um Lobo Mal. E divididos em grupos, quase iguais, lá no começo dos anos 2000. Às vezes o Chapeuzinho era aquele que venceu o campeonato e o Lobo, foi a pedra no sapato do vencedor. As vezes, o Lobo era o segundo melhor na pista e só porque o que venceu, era um apaixonado, tornou-se antipático.
Nunca houve padrão. Hoje, há a turma que detesta o Alonso, pelo "Faster than you", e em meio à eles, pode encontrar quem goste de Vettel, que ontem, praticamente exigiu uma frase assim, para Raikkonen.
Há quem deteste o Vettel por ele ser mimado, ou "chorão" como dizem. Como se o seu piloto favorito, nunca tivesse choramingado migalhas, acusado equipe de pouco empenho, exigido passar o companheiro mais lento. Acontece isso até na quase fracassada Force India.
Talvez os únicos fãs que possam acusar Vettel de ser mimado, Hamilton de ser arrogante, e Alonso de ser chorão, seja os fãs do Raikkonen. Velho de guerra - literalmente - sempre disse, quando as coisas não davam certo, que o que aconteceu, aconteceu, e "vamos ver o que acontece". Isso dito, com um "bwoah", dando de ombos e finalizando com "let's wait and see", soa frio, mas soa certo.
Mas poucos serão como Kimi. E no fundo, não se iludam, ele também é arrogante. Algumas vezes ele disse que segundo lugar não é como o primeiro. Quando ele retornou à F1 pela Lotus, ao ser perguntado sobre recordes que ele atingiu, ele mandou a real: recordes não ajudam a vencer campeonatos.
Como eu disse, desde 2008, desde o Sujo x Mal Lavado, muita coisa mudou. Minha percepção sobre F1 alterou-se. Hoje, não me irrito com mandos de equipe. Para mim é lógico: se tem disputa interna, pode custar caro no fim do campeonato para o que tinha mais condição de vencer. Eu teria dado ordem ao Kimi ontem? Teria. É errado? Sim, mas envolve muito dinheiro e não há igualdade, não há competitividade que nos dê a chance de deixar a coisa correr livre. Na verdade, talvez nunca tenha havido igualdade entre pilotos. A gente tem uma coleção de histórias, de disputas internas e que rendeu duas verdades. Não há como ser isento o tempo todo em se tratando de esporte. Uma hora, a gente vai dizer algo que trata-se do que a gente sente pelo esportista e não pelo que de fato está acontecendo. Até porque ninguém sabe o que está acontecendo.
Eu sou hipócrita por achar feio quando a Mercedes fazer jogo de equipe? Na verdade não. Quando eu reclamo disso há duas coisas em jogo: uma que ela não fazia isso quando Michael Schumacher corria por ela e que justificaria totalmente, pois era Schumacher, não um Zé ninguém. A Ferrari sempre fez isso, sempre teve um acima do outro na hora de trabalhar. Duas que quando acontece na Ferrari, chove críticas, de vocês, de comentaristas, de fanáticos. Quando a Mercedes faz, alguém comenta algo sarcástico, alguém dá um RT e depois esquecem.
O ataque do Bottas, depois que saiu o SC era plausível? Sim, ele estava mais rápido. Mas quem disputava o campeonato era o Hamilton? Sim, então, porque ninguém chamou Hamilton de mimado quando o rádio alertou Bottas para manter as posições?
Não me venha com "acidente" entre os dois que custaria pontos preciosos. Isso só faz ficar pior. Em tese, se Vettel não podia passar Kimi, Bottas tinha de passar Hamilton. Pelo bem do esporte, isso sim é que seria corrida genial e competição certa.
É questão de escolha: querem competição ou ordem de equipe?
Vamos deixar só os comissários da FIA fazerem as punições seletivas. Deixem só eles escolherem quem vai punir e quem vão apenas "alertar" como se não tivesse sido proposital, ou ao menos, providencial. Nós, se queremos ser decentes, temos de escolher: ordem de equipe? Então, vale para qualquer uma delas. Competição? Então, devemos criticar Hamilton e Mercedes por podar o Bottas.
Não, não esqueci que eu coloquei no título, "fotos". Eu na verdade vou falar delas.
Confesso que apaguei 12 fotos desse fim de semana para esse post. Não havia espaço para fazer do evento, bem humorado. Tudo em volta era muito "sem graça". Uma das mudanças que aprendi desde 2008 é fazer piada até com quem eu defendo. Mas ou estou amarga ou sem criatividade.
Só deixei duas delas, salvas. Eis que se seguem:
O Sujo ou o Mal Lavado?
O Mal Lavado ou o Sujo?
Um, tem quatro campeonatos vencidos, com facilidade, sem ser perturbado por alguém de real talento e tendo a experiência de sempre ter corrida em equipe grande, bem estruturada.
O outro, também tem quatro campeonatos vencidos, com alguma facilidade nos dois últimos anos conquistados. Teve uma disputa ferrenha com o melhor piloto do grid no primeiro deles ano que foi campeão mundial. Começou como piloto de teste, subiu à equipe média onde teve sua primeira vitória em uma corrida. Quando venceu seu primeiro campeonato, não era de equipe grande de muitos anos de F1 e foi uma pequena surpresa. Era raro alguém tirar a Ferrari e a McLaren do páreo, isso só aconteceu com Alonso, nos anos antecedentes, com uma Renault (que era Benetton).
O primeiro, já mentiu, já burlou regras. Já brigou com jornalistas, deixou de falar com supostos amigos da categoria.
O segundo brigou com companheiro de equipe , já protagonizou cenas vergonhosas, já errou feio.
O primeiro é problema para o dono da equipe sempre que algo dá errado. Desaparece nas férias, não vai à eventos da F1 nem da equipe para estar com amigos em eventos de moda. O segundo, nunca foi acusado sequer de gritar com funcionário, quebrar quarto de hotel. Não me lembro de fazer cena em pódio, ou desprezar jornalistas.
O primeiro só volta atrás de suas atitudes feias, quando convém ser bom samaritano. O segundo, já foi mais petulante. Hoje, pede desculpa por respirar no mesmo ambiente dos demais.
"Manu, você está sendo tendenciosa...".
Peço desculpas. Mas me prove o contrário de qualquer coisa escrita acima e terei prazer em voltar atrás.
O primeiro que rezou ao lado do carro, na primeira foto, será penta.
O segundo que bateu é o babaca. "Coisa boa!", disseram em vários tuítes.
Para muitos, a definição de sujo e mal lavado está clara. Para alguns outros, o Sujo, não é sujo. Para poucos, o Mal Lavado, não é mal lavado.
Não temos lógica, apenas sentimentos. Todos nós. É apenas mais um campeonato de F1 das quais agimos de forma irracional, movidos por paixões, mais perdidos que cachorros caídos de mudança: correndo e latindo para todo o lado, mas sem saber nada do certo, nem mesmo sabendo se essas são as atitudes certas.
Mas esporte é isso, não é? Duro é quando o esporte puro e simples já não é tão protagonista.
Abraços afáveis!
Comentários
Pra mim o maior vilão da F1 é justamente o Hamilton, mas se falo isso publicamente já sou chamado de racista e o escambáu, como já aconteceu antes.E meu pai é mais negro que ele...aiaiai...
Se a categoria fosse mesmo racista, ele nem chegaria a correr por lá.Mas isso ninguém diz.
Hoje fico pensando o que vai ser de "nozes", quando o Kimi pendurar as luvas.Vamos ter que arrumar outro doido que não se importa em ser queridinho.Mas hoje não vejo ninguém como o Kimi, James Hunt ou Nelson Piquet.
Já sabe que concordo com tudo.
Complicado achar alguém à altura para substituir Kimi. Creio que não haverá. Apesar de tudo, ainda estou com Verstappen. Um pouco de petulância, nem que seja vindo de piloto de video game, já é uma boa em meio à tão acovardados caras do atual elenco. Alguns ali, não perdem nada em peitar FIA e dirigentes, mas não vejo nenhum sequer tentar. E se algum ousar dizer, logo virá as críticas - "piloto mediano", "piloto medíocre", "nunca venceu uma corrida...", "Fulano, 'who?'"...
Não caí, e não cairei no teatro do Hamilton e da Mercedes. Não volto atrás: prefiro Vettel, mesmo com jogo de equipe, mesmo sendo raivoso contra o Kimi (como foi ontem). E ainda fico no aguardo de alguém trazer argumentos tais que não reforcem o que disse no texto do blog sobre ele ou sobre Lewis.
Ainda ninguém me chamou de racista. Mas há quem me acusa de defender o Vettel não admitindo que ele fez besteira. Não adianta dizer que não torço por gente moldada à perfeição. Se assim fosse, seria fã do inglês que sempre tem corridas "geniais" e "impecáveis".
É uma pena que os deuses do esporte tenham ouvido as orações dele, no sábado. Mas é com situações assim que a gente vai endurecendo com a categoria e ficando menos passional que os outros. Por agora, ainda não é o suficiente, pois depois de tanto tempo, fiquei bem chateada ontem, e não consegui ver tudo aquilo com olhos justos. Mas ainda bem que aconteceu agora. As próximas etapas servirão para nos preparar para novas encenações do piloto inglês e já sabendo que estão à caminho, sofro menos e volto à frieza de outras vezes (ou assim espero)!
Abraços geminianos hehehehe... :D
Kimi é outra historia, um ponto fora da curva que está cagando e andando pra tudo que representa a F1. Se tivesse sido "soberbo" alguma vez não teria ajudado o Massa em 2008, ou seja, mesmo no seu auge ele foi o que é.
Rosberg tbm teve a mesma chance que Massa ao lado de Hamilton e a aproveitou. Se Hamilton desse piti como Alonso deu qdo correram juntos Rosberg teria sido apenas o que é Bottas atualmente.
Kimi não poder correr é o maior absurdo esportivamente falando.
Ricciardo ser vetado na Ferrari é uma graça que ele não entendeu ainda, mas é o preço que lhe impuseram pela sua ousadia em 2014. Que bom que os obtusos fazem o bem querendo fazer outra coisa.
A Ferrari de 2017 era melhor do que a Mercedes. E a suprioridade da Ferrari de 2018 em relação à Mercedes é ainda maior do que no comparativo de 2017.
O asno é aquele que mais tem a perder com uma asneira e mesmo assim a comete.
Abs.
Quanto ao Ricciardo, eu não sei bem o porque do veto dele, mas não acho que foi de todo ruim. A amistosidade dele, teria seria moldado mais fácil que o Kimi que é mais durão ou pelo menos, deixa parecer que é.
Mas tudo é palpite, não é mesmo?
Abs e obrigada pelo comentário! ;)