Faixa a Faixa: Ten
A possibilidade de fazer o Faixa a Faixa veio estrategicamente no dia do rock, uma data trivial para a maioria das pessoas que andam por aí, mas que para mim é comemorado como se fosse Natal. Hoje também, completa 15 dias que a enquete foi criada e consigo assim cumprir o prometido do Faixa a Faixa rapidinho. Eis o álbum vencedor:
Me surpreendeu o resultado dessa vez, achei que Pearl Jam sairia da disputa por falta de votos, bem rápido. Felizmente, não foi assim.
Pela primeira vez, desde que montei essa tag, falarei de uma banda das quais já estive em um show e também pela primeira vez, comento sobre um álbum de estréia.
♫ Nome do álbum: Ten
"Ten" é o álbum 1 da banda Pearl Jam. Nos tempos de hoje é quase remoto que algum músico faça um sucesso arrebatador logo no começo dos seus trabalhos. Quem talvez tenha possuído esse alcance foram as "divas", as tais Rihanna, Beyoncè, Lady Gaga, Adele e etc. Teria de pesquisar, mas sinceramente, duvido que as tais tenham discos de estréia que sejam realmente proveitosos da primeira faixa até a última. Muito que se faz delas, é imagem. Mídia é um "trem" (no bom uso do termo "mineirês") que a indústria do rock tem uma relação de amor e ódio. Já para essas "cantoras" a coisa é mais fluida e exposta na medida que lhes apraz.
Rock é subversão. Aprendemos isso, quando ouvimos a primeira banda do gênero. Eu concordo em até certo ponto; sou bastante cética com significações das artes em módulos fechados, como é o caso da atribuição "subversivo". De fato, o estilo rompeu e ainda rompe com os ditames, e com isso, revoluciona através da cultura fonográfica quando são recepcionados por crítica e público. Mas daí fazer com que isso seja um fim em si mesmo, esvazia a arte como arte e neste ponto, eu peço para descer no ponto mais próximo, porque para mim,é muito para aceitar de bom grado.
Existe uma relação das artes que eu não abro mão: o sentimento. Isso não se traduz em termos acadêmicos, intelectuais. O sentimento de uma música pode traduzir "n" coisas, para "n" indivíduos de realidades diversas e ainda sim, apresentar uma relação de transcendentalidade que só o particular dá conta e vislumbra. Pode ser a letra mais besta e a melodia mais simples. Se tocou ao coração, pode estar falando de vermes com laços de fita na cabeça, que ainda é a sua música favorita da playlist. Se você arrepiou com aquele solo de guitarra de uma música falando sobre a guerra do Vietnã e você nem era nascido na época, não faz ideia do que seja Vietnã, muito menos passou por recessão em tempos de guerra, isso não te faz um ser obtuso frente à um intelectual que conheceu tudo isso.
Talvez por isso, e de certa forma, eu tenha deixado no parágrafo anterior umas aspas discretas (ou não) nas "cantoras". Confesso que o fiz mais por aversão à esse tipo de som que fazem, do quê necessariamente uma questão ideológica. "Mas ser revolucionário é ter ideologias! E essas moças tem esse ímpeto em algumas de suas letras!", pode alguém me dizer. Sim, é verdade. E é por essas ideologias, esses "ismos" tão perturbadores, que nem sempre eu gostaria de saber dos trabalhos da turma que faz música dos anos 2000 para cá.
Infelizmente, Pearl Jam está nessa "vibe". Eles são politizados desde o começo de suas carreiras, o que eventualmente, não faz mal algum. O grande lance é quando você faz da música, da arte, uma bandeira ideológica, uma pregação de algo, o excessivo holofote da melhor relação humana em sociedade que se pode ter ao invés da simplicidade que a arte causa, desde o cara do subúrbio até o mais rico da cidade.
Obviamente é isso que a mídia faz saltar os olhos: os cinco shows em capitais brasileiras em 2015 foram artigos de revistas especializadas em música. A grande mídia relatou as doações de cachê do Pearl Jam para as vítimas do acidente natural causado pela Samarco em Mariana.
Existe aí três significados que fazem parte de uma única verdade: é muito bonito que alguém que nada tenha a ver com o problema, se manifeste contra e apoie incondicionalmente os prejudicados. Ao mesmo tempo que é bonito, é vergonhoso ter que esperar de estrangeiros, músicos visitantes, ações mais enfáticas que são responsabilidade do governo e do poder executivo. E é triste, pois, a música, o objetivo de topo das bandas, fica em segundo plano no quadro midiático.
► Arte, capa e encarte:
"Ten" foi lançado em 21 de agosto de 1991. A banda se juntou em 1990 como uma cria da então extinta Mother Love Bone. Embora eu tenha dito que é incomum uma banda fazer sucesso com seu primeiro trabalho, no caso de Pearl Jam, foi logo em 1992 que o reconhecimento mais exato do disco, se deu.
Eu não possuo o disco, por sinal, nunca nem vi em alguma loja. Por isso, não terá fotos do encarte, e as informações serão coletadas principalmente do livro "Pearl Jam 20" em que comemora os vinte anos do grupo.
A capa do disco é bem singela: Letras em rosa forte indicam a sombra de fundo do nome da banda destacado em branco no topo da capa. A foto principal são os membros da banda unidos como num abraço comunitário e com os braços erguidos, apontando para cima. É interessante de olhar; representa uma unidade específica. A partir de relatos sobre a preparação e gravação de "Ten", percebe-se que a química entre os membros foi o suficiente para que o trabalho tivesse a qualidade que possui.
A direção de arte, ficou a cargo de Jeff Ament, o baixista, que por um tempo, cursou artes em Montana, mas não deu continuidade ao seu apelo para ser designer gráfico. Porém, como tudo na vida tem um porque, seja na aptidão ou vontade, ele pode dirigir a arte e o conceito do disco.
Jeff produzindo as grandes letras do fundo da foto da capa |
Uma das fotos de "Ten" |
A arte adicional ficou com a responsabilidade de Steve Pitstick e também com o vocalista Eddie Vedde, o design de Lisa Sparagano e Risa Zaitschek, e as fotos são de Lance Mercer.
► Membros da banda, composições, participações especiais e convidados:
Após deixarem o "Mother Love Bone", o baixista Jeff Ament e o guitarrista Stone Gossard recrutaram mais membros: neste caso, o guitarrista Mike McCready em 1990. Em setembro deste mesmo ano, Jack Irons (baterista original do Red Hot Chilli Peppers) entregou à Eddie Vedder, seu amigo, uma fita com cinco músicas instrumentais de uma banda de Seattle que não tinha ainda nem batera nem vocalista. Cerca de um mês depois ele se juntou aos outros membros pouco depois deles terem encontrado Dave Krusen para a bateria. Neste encontro, eles fizeram algumas jams e começaram o que seria o embrião de "Ten".
O álbum conta com a participação do então produtor Rick Parashar contribuindo com piano, ógão e percussão.
À respeito das composições, é a primeira vez no Faixa a Faixa que falo de um banda das quais um membro é o responsável pelas letras e os demais, a música: Eddie Vedder assina as faixas 1 a 11 com letras pautadas nas experiências, frustrações e consequências da vida adulta. As músicas compostas seguem um padrão: Ament e Gossard praticamente detém a autoria do disco, sendo que duas delas, os dois assinam juntos: "Garden" e "Deep". "Oceans" é deles e também de Vedder, e "Release" é creditado todos, inclusive McCready e Krusen. "Once", "Even Flow", "Alive" e "Black" foi composta por Stone Gossard, "Why Go" e "Jeremy" por Jeff Ament e a única composição exclusiva é "Porch", escrita e composta por Eddie Vedder.
► Produção e gravadora:
Rick Parashar assina a produção, junto à banda. Ele é um dos mais notórios produtores que teve auge nos anos 90 pelo seu trabalho com bandas grunge - além do Pearl Jam, trabalhou com o Alice in Chains e o Blind Melon. A gravação aconteceu no "London Bridge Studio", um estúdio dos irmão Parashar, em Seattle. A gravadora foi a Epic Records.
A mixagem aconteceu em "Ridge Farm Studios" em Dorking na Inglaterra.
O disco original de 1991 possui 11 faixas (sendo que "Release" tem uma faixa oculta depois de 5:20, chamada "Master/Slave") e a duração completa dele é de 53min24s.
► Música favorita do álbum e segunda melhor:
As pessoas que podem ir direto ao estilo grunge com certeza falariam bastante desse disco. E certamente se rasgariam de elogios nos triviais e notórios sucessos dele: "Even Flow", "Alive", "Black", "Jeremy". Fãs da banda podem até questionar: "Ei, porque não falaram de Porch?" e com razão. As vezes ela é esquecida pelos ouvintes sazonais.
Mas eu vou num caminho diferente do trilho: apesar de ser uma entusiasta das guitarras, eu amo "Oceans". Para mim, a melhor canção do álbum.
Se saio do clichê com a favorita, eu volto à ele, com a escolha da segunda que mais gosto: "Black".
► Faixa Faixa:
♫ Once
"Once" é a perfeita introdução de disco que em poucos segundos de execução te derruba no chão. Fico tentando imaginar o que era o impacto de ouvir pela primeira vez. Porque digo isso? Não havia cantor como o Eddie com seu jeito único carregado de emoção e ao mesmo tempo, peso. "Once" foi o embrião de uma das três músicas que o vocalista gravou em San Diego para enviar à banda antes de juntar-se à eles. Essa e "Alive" foi aproveitada, e reorganizada também.
♫ Even Flow
A canção talvez mais conhecida da banda, junto com "Alive" é uma escolha bem clichê até mesmo para quem pouco conhece a banda. A cadência do ritmo das cordas é algo muito interessante e bem elaborada, algo que ouso dizer que retira a banda do estilo puro do grunge e dava um corpo muito mais intenso à banda; a de rock alternativo, algo que os define, hoje, muito melhor.
♫ Alive
"Alive" é quase um hino para a banda, uma introdução curta da guitarra que é sustentada pelos acordes em junção com uma letra poderosa. Nessa canção, Vedder colocou todo seu sentimento à tratar do fato de que ele não conheceu seu verdadeiro pai. A história é estranha: o pai que ele achava ser o biológico, não era, na verdade. Ele convivia com o verdaeiro em diversas ocasiões, pois ele era amigo da família. Mas Eddie só soube do parentesco depois que o pai morreu em 1981 devido à esclerose múltipla e a letra trata-se disso: a não chance de poder vê-lo novamente, sabendo de toda história.
♫ Why Go
Outra letra baseada em situações cotidianas, tratando-se de uma amiga de Vedder que foi pega fumando maconha pelos pais e internada em clínica psicológica. Assim, Eddie trata com ferocidade sobre o parâmetro egoísta dos pais adultos com seus filhos jovens. A música é de autoria de Ament, por isso a linha de baixo é tão preponderante e dita o corpo da canção.
♫ Black
Eis uma música romântica apesar de não parecer pelo título. Trata-se de um movimento todos que passamos na vida: o de buscar reconstruir um coração despedaçado. Ela começa com fraseados quase alegres e vai tomando um tom e palavras sombrias à medida que vai chegando ao fim.
Quase uma balada (foi desenvolvida a partir de uma instrumental de Gossard chamada "E-Ballad") é um show à parte do vocal, em minha opinião. Ter a noção do que é essa música ao vivo ecoando num estádio... É uma sensação um tanto inexplicável...
♫ Jeremy
Todos conhecem o clipe dessa música. É uma verdadeira poesia sobre um menino específico que cometeu suicídio em frente aos colegas de sala numa escola do Texas, em janeiro do ano em que o disco saiu. Vedder lia o jornal que relatava o ocorrido trágico e teve a inspiração para a letra pesada, carregada de profundidade e significado. Outra canção composta por Ament, ela basicamente é toda em Lá, algo que deixou a sua complexidade mesmo para a letra e que consequentemente, ia contra uma música acessível, popularizada, sem viradas de notas significativas. Mesmo assim, ela funciona muito bem.
♫ Oceans
Essa é uma música que amo muito e que possui um fato curioso relatado no livro: Ao sair para trocar moedas num parquímetro, Vedder acabou ficando trancado de fora do estúdi,o sem querer. Sentado, próximo à parede do estúdio, e chovendo, a única coisa que ele ouvia era o baixo, por isso, a linha vocal segue o instrumento. A letra foi rascunhada enquanto ele ouvia de fora o que acontecia no estúdio. É outra "poesia" inspirado no amor de Vedder pelo surf. Parece bobo, não é? Mas acaba sendo bonita para caramba!
♫ Porch
Sinto toda vez que escuto, que "Porch" está mais para um jeitão punk no começo do que necessariamente grunge. Apesar de sugerir isso, mesmo não sendo fã de punk rock, a música se tornou quase obrigatória nos shows ao vivo, e é tocada, sempre mais com duração estendida do que só os 3 minutos do disco, como também é mais acelerada que a versão do estúdio.
♫ Garden
Garden parece no disco para dar uma acalmada e recobrar o fôlego. Essa de fato tem um começo de rock-ballad e um meio com um sonoridade quase blues. Ela possui também, uma personagem feminina na letra, um refrão bonito e sofrido, como outras canções do disco. Não é um álbum feliz, de forma alguma e a intenção parece ser enfática: a vida adulta é sofrida e carregada de emoções.
♫ Deep
Essa é bem acelerada, quase experimental, e bem "groovada". Jeitão mais rock and roll, com letra subversiva e pesada, sem significados depressivos aparentes. Tem altos e baixos interessantes e que soa, para mim, como "Porch", ou seja, funciona para shows e empolga o público em larga escala.
♫ Release
Por fim, "Release" foi a primeira tentativa - antes mesmo de formular "Alive" - de manifestar as emoções sobre Vedder pelo trauma de não ter conhecido o pai, enquanto pai. Parece que foi instantâneo: ao ouvir Gossard tocar o riff do começo, repetidamente, ele foi ao microfone e acompanhou os novos companheiros num improviso de letra tratando de seu pai biológico.
Talento é necessário, mas a química entre os membros de uma banda é o que faz as coisas funcionarem para um disco. A não ser que você seja um multi-instrumentista, a dependência de um compositor sagaz e genial de letras pode ser 8 ou 80. E no caso do Pearl Jam com esse pontapé inicial, foi próximo do 100.
► Porque desgosta de uma canção do álbum:
Existem preferências é claro. Por excesso de mídia, as canções conhecidas as vezes são saltadas para as menos populares. "Porch", "Deep" e "Release" são de humor. As vezes quero ouvir elas nos DVDs ao vivo, cuja interpretação está lá como protagonista. Mas é um excelente disco, muito completo e desafiador do seu tempo. Abriu as portas para conhecer a banda e nos fazer acompanhá-los até hoje.
► Uma história do disco, como uma questão pessoal ou uma curiosidade:
Não tenho nenhuma relação pessoal com o disco em específico. "Ten" se tornou um sucesso comercial importante na época do lançamento em meados de 1992, e eu tinha 5 anos. Esse sucesso não era só "raro" devida a qualidade da banda, como era também para bandas que tinha um pé no rock alternativo, estilo que abrange melhor a banda do que o grunge que teve auge nos ano 90, através - principalmente - do "Nevermind" do Nirvana. Nesse disco do Nirvana, o grunge me parece saltando muito mais aos ouvidos (existe essa expressão? Se não, acabei de inventar, rsrsrs...) do que em "Ten".
Pearl Jam era uma dessas bandas mais "novas", que a gente ouvia em casa, nas rádios e conhecia através de videos na tv (especialmente MTV). Eu não tinha grande fascinação pela banda quando criança, mas me ajudou a compreender a música melhor com o amadurecer. De fato, faz sentido, uma vez que a banda não é acessível como um rock tradicional ou hard rock pode ser na fase infantil.
► 5 sugestões para a próxima votação:
Deixem suas impressões sobre o "Ten" nos comentários!
E deixo à vocês, os próximos cinco discos para a votação daqui à 15 dias.
Abraços mega afáveis nesse dia do rock, uma bela sexta-feira 13!
Excelente fim de semana a todos (e obrigada desde já pelos votos)!
Comentários
Eu me lembro bem do tanto que Jeremy passava na MTV, e é realmente complicada a repercussão pois muita gente achou que vários jovens que sofriam bullying nas escolas projetariam seus anseios na atitude daquele garoto de dar fim à vida. Mas trocar as reclamações por reflexão para tentar buscar meios de inclusão para todo tipo de personalidade de alunos nas escolas, aí já foi trabalho árduo demais, não é?
Acho que comentar situações na mídia e nas artes não é prejudicial, o que é ruim é se quem se propr fazê-lo, "romantizar" como vc disse, a circunstância. A baleia azul foi um exemplo - gente mal orientada que tomou as rédeas sem assumir as consequências... Quanto mais os anos 2000 vai avançando, mais acredito que todos precisam de terapia.
Abs!