Temporada 2021: Grande Prêmio de Emilia-Romagna
Digo que foi longa, não no sentido negativo. Ela foi longa pois houveram muitas movimentações e detalhes que fizeram dela, interessante. (É bem possível que eu deixe passar alguma coisa aqui, inclusive. Por isso, conto com vocês, nos comentários.)
Vamos partir dos TLs: nada parecia soar diferente do que fora nos anos anteriores - ainda que Valtteri Bottas se mostrasse mais propenso a tomar a pole, não foi um dia muito bom para os tais favoritos e o favorito do ano: Red Bull e Max Verstappen.
Como se sabe (e muitos se esquecem propositalmente para fingirem surpresa) esforços para fazer "muito" mais na sexta-feira não é o forte de Lewis Hamilton. Era bem normal que, no sábado, Bottas fizesse Q1 e Q2 e Lewis, se esforçasse para o Q3, tomando a pole.
A 99ª pole position foi conquistada e acabou jogando areia na expectativa de uma corrida movimentada. Por sorte, para o fã de automobilismo, há sempre o outro lado da moeda: o segundo e terceiro tempos poderiam oferecer a possibilidade ou a esperança de que na corrida, houvesse alguma disputa. Em segundo, Sérgio Pérez (que havia feito lambança no treino livre de sexta, prejudicando Esteban Ocon) e em terceiro, Verstappen (com cara de poucos amigos), podiam oferecer a tal pressão ao Hamilton que tanto desejávamos.
Criticou-se fortemente a postura de Bottas - somente em 8º na classificação. A questão era bem mais a pouca diferença entre os tempos dos caras que se meteram no meio do que uma inabilidade do finlandês. Porém, é o seguinte: esse ano, muitos pilotos foram pegos para cristo, para serem muito criticados. Não significa que isso vai acontecer pelo viés da sensatez.
Nem conto com isso, por sinal.
Segue-se o padrão: Bottas não é prioridade na Mercedes há muito tempo, agora, é muito mais visível e Hamilton sempre tem cartas na manga (para tomar um conceito que a Mariana Becker usou numa entrevista com o octacampeão neste fim de semana).
Teríamos a nossa tão desejada imprevisibilidade? Oh, bem que se quis...
Para a nossa surpresa, a corrida foi sim, minimamente imprevisível. Porque minimamente? Vou deixar essa, para o final.
Domingo começou com chuva, e uma pista molhada que dava indícios de corrida-loteria. Para mim dava indícios de perigo e muito stress. Saltava aos olhos aquela necessidade de ver pilotos em modo fantástico, guiando carros sem cometer erros.
É por isso que eu não gosto de corridas com pista molhada: os erros que se comete ali são muito possíveis, mas mesmo assim, as figuras são alvos de crítica ferozes.
Dito isso, muita gente estava focada num tal piloto da Haas. O julgamento moral que se tem feito com ele está longe de ser adequado, mas ia acontecer muito. Querendo ou não, se previa esse comportamento (dos fãs) antes mesmo do calendário ser oficializado.
Eu não me importo com o que se diz sobre ele. Só acho que estão preocupados demais com ele. Optar pela indiferença é atitude mais inteligente.
Com metade da pista seca, a largada seria complicada, mesmo atrás de um Safety Car. O primeiro a bater foi Nicholas Latifi e foi forte. Poucos pareceram se importar. Depois, sozinho, Mick Schumacher, perdeu o bico do carro. Com o pitlane fechado, precisou andar algumas voltas nestas condições até poder resolver o problema.
É claro que neste caso, houveram críticas. Mas não quer dizer que foram (nem serão) justas.
Até aí, nada novo.
Apenas quando o Safety Car deixou a pista é que, com assombro, percebi que era dia de contar com algumas (boas) "novidades": na volta 4, as Red Bulls atacaram Hamilton, um de cada lado. O britânico foi colocado em uma das situações que mais desejo que aconteça com ele e finalmente, pude ver alguém ser bem sucedido nessa: Verstappen se deu bem, tomou a ponta, mas Pérez, seu companheiro, titubeou e acabou perdendo a posição até para Charles Leclerc, que era o quarto.
Há quem critique que Helmut Marko já tenha começado a fritar o mexicano. O homem é bem sem noção, mas nesse caso, ele não esteve errado em comentar criticamente as ações de Pérez nesse fim de semana - tanto na sexta, quanto, no domingo ele "perdeu a mão".
Na largada, pareceu que faltou vontade no mexicano. Achei, pelo que se comenta sobre ele, que ele era muito bom e por isso, merecia a vaga e blábláblá... Aos poucos, percebo que comentários da F1 são muito dados ao ditado: "Quem muito fala, dá bom dia a cavalo". Pena que muita gente ainda dá atenção e considera as opiniões como postulados.
Já que toquei no assunto sobre o que se opina por aí, em décimo, estava Bottas, quase correndo só, mas já dando indícios de ser ameaçado por George Russell. Sim, a história deles ainda teria um tom dramático mais adiante. O que não se previa de jeito nenhum era que Russell fosse tão "inconsequente". Talvez o termo seja impróprio, mas explico depois o que eu quis dizer com isso.
Voltando ao Bottas, vimos que não faltaram críticas à ele. Ainda é cedo criticar o Pérez, mesmo com dois grandes erros no fim de semana. Mas o Bottas, não foi absolvido das pedradas.
A dupla de pilotos da Ferrari parecia boa, só não fosse por um detalhe: eles mesmos, não estavam controlando os carros na pista parte seca, parte úmida. Não havia nenhum desconforto com isso, inclusive diziam que a falta de potência da Ferrari seria um fator bacana para eles, naquelas condições. Será?
Sobre críticas, se fossem outros personagens, elas viriam fortíssimas.
Por sinal, já que toquei no assunto, vou aproveitar melhor o parágrafo. Ainda é cedo para dizer, mas a Aston Martin está sendo uma decepção. Tudo bem, eu não ligo para Lance Stroll. No caso, Sebastian Vettel sofre todos os problemas possíveis com o carro: problemas nos freios, problemas na caixa de câmbio durante os dois quartos finais da corrida, foi penalizado pela saída do pitlane (que nunca é falha do piloto e sempre acho essa punição muito mal colocada), e para completar, a estratégia errada de pneus lhe custou a tentativa de ficar na pista. A escolha dos slicks na volta 22 quando a pista começava a secar não rendeu e os macios, no fim, se mostraram a opção errada. Recolhendo o carro faltando duas voltas para o fim, não havia muito mais para ele fazer, já que o câmbio acusava problemas desde o meio da corrida.
Se você esteve culpando o piloto disso tudo, você está sendo desonesto ou desonesta.
Depois de um tempo, parecia que havia transcorrido boa parte da corrida, mas não. Quando me dei conta, era só a volta 20-5 (das 63) que começava a tensão das troca de pneus.
Verstappen via Hamilton e Leclerc se aproximarem dele. A decisão da parada deveria ser acertada, ou ele sofreria para manter a vitória, conquistada muito bem na largada. Se a Red Bull queria se afirmar como uma pulga que coça e incomoda a Mercedes - em específico, o Hamilton - não podiam dormir no ponto.
Na volta 28, Max foi para os boxes. Colocando os pneus médios, os demais, na pista, de intermediários, seguiriam a mesma estratégia nas voltas seguintes.
Lá pela volta 30, tudo aconteceu muito providencialmente rápido: Hamilton e Verstappen passavam retardatários, e quando chegaram em Russell, Hamilton se perdeu e acabou tocando no muro de pneus. Um erro de novato, tosco e que teria sido muito criticado se tivesse sido cometido pelo Bottas ou pelo Vettel, por exemplo. Mas não, ele ficou ali, tentando sair da situação e até possivelmente infringiu regras que passaram batido para os comissários: Ele deu ré na contramão da pista e retornou normalmente.
Mais tarde, perceberíamos, mais uma vez, que infringir regras para a FIA é grave só quando é preponderantemente irrelevante. Aparece também que existe um manual de regras para os pilotos e um específico para Lewis.
No geral, essa situação foi dada como "um erro inocente" de Lewis, que sem paciência, acabou cometendo. É inadmissível para um octacampeão fazer uma coisa dessas.
Mas passaram pano, essa é a verdade.
E a sorte - minha nossa, como eu queria essa sorte! - sorriu largamente para o inglês. Nesse desespero todo, ele ficou em oitavo e teve tempo suficiente para arrumar o carro sem perder mais posições. Tudo pois, no mesmo instante, Russell decidiu prematuramente partir para cima de Bottas. Exagerou e os dois bateram forte, na Tamburello.
Não havia imagens naquela hora. A única coisa que víamos era dois carros arrebentados e (a minha) respiração já estava suspensa. Russell saiu do carro, aparentemente bem, mas foi bater boca com o Bottas. Da transmissão e sem saberem, já rotulavam um "culpado": como são "beeeeeeem imparciais", decidiram que seria o finlandês.
Depois das imagens onboard, parecia lance de corrida: Bottas defendeu a posição, deixando bastante espaço para o George. Mas, esse último, errou no cálculo e veio "com muita sede ao pote".
Russell pareceu mais culpado do que Bottas, se existe essa possibilidade de condenar. E mais ainda por ter ido bater boca. Muito mais exagerado por estar falando disso até agora, ainda não admitindo o erro. Pior, por ter dito ao Bottas: "Está querendo nos matar?"
Está bem que no calor do momento, se fala coisas absurdas, mas estando errado, alguém tinha que pedir para ele esfriar a cabeça. Por isso, disse que no começo do texto que ele pareceu "inconsequente".
Precisava de tudo isso? Certamente que não.
O prejudicado maior foi Bottas. A culpa dele agora é de estar disputando posições com uma Williams. Não disseram, mas parece que o fato dele existir, incomoda muito. Percebem o quão maldoso pode ser um fã e um "especialista" de F1? Não há razoabilidade dos comentários, a não ser que o personagem em questão seja "abençoado".
E por ser "Blessed", Hamilton em oitavo, fez pose de descontentamento para as câmeras, fora do carro, quando deram bandeira vermelha para limparem a pista. Ali, os deuses do automobilismo já se arrumavam para a ajuda. Com a bandeira vermelha, ele pode ter o carro arrumado, para voltar à pista em condições de retomar a sua segunda colocação. Apagariam, em umas 12 voltas, o errinho de "rookie" dele, pois logo, na relargada, com auxílio da DRS, nenhum dos 6 carros que precisava vencer para poder voltar à segunda posição, ofereceria dificuldades.
Isso tudo aconteceu só com a metade da corrida, o que era tempo suficiente para Hamilton fazer e acontecer, e também para Verstappen tomar a distância necessária se quisesse ter a sua primeira vitória no ano. Apesar da desatenção na relargada, com uma escapada e pressão dos adversários, o holandês foi tomando distância.
Destaque para Lando Norris, que logo que teve oportunidade, passou Leclerc numa bela manobra, tomando a segunda colocação. Kimi Räikkönen era sétimo colocado. Ele era outro ali, dava bons sinais da sua capacidade: experiente, era um dos únicos que não tinha cometido erros. Mas quando cometeu, os comissários não tardaram em serem desmedidos.
Foram 30 segundos acrescidos no fim da corrida porque o Kimi não ultrapassou de volta carros que passaram ele, sob Safety Car, porque ele havia rodado.
Parabéns aos envolvidos. Dar ré na contramão pode, mas isso aí é abuso? Beleza, então vão escrever uma regrinha aqui às pressas para punir aquele ali, sem nenhum argumento plausível...? (É por essas e outras que ficamos tentados a perder a razão e chamar a F1 de esporte).
Enfim... Pérez, que era um daqueles que poderiam oferecer dificuldade para Lewis, acabou errando e perdendo o controle do carro. Logo, Hamilton estava atacando Daniel Ricciardo que era quinto e fazia uma corrida morna. Em 9 voltas, Lewis já era quarto. A segunda colocação já estava dada, ainda que esperava-se que Leclerc ou Norris protelassem o retorno de Hamilton. No entanto, parecia que todos eles abriam para o octacampeão como se eles fossem retardatários.
Para Verstappen, essa situação não oferecia tanto perigo: à essa altura, ele abria 14 segundos de diferença; então a vitória era certa se mantivesse o carro na pista. Quando Norris foi ultrapassado por Hamilton, Verstappen estava à 18 segundos do segundo colocado
Foi um vitória maiúscula do holandês. Com a largada que, sobretudo fora arrojada e boa sem necessidade de punições, ele havia feito por merecê-la. Se no Bahrein, Hamilton foi o melhor na decisão e a ação, dessa vez, Max fez ele sentir o gostinho do veneno. Foi com um certo requinte de crueldade, uma vez que em nenhum momento, Lewis pode recuperar a ponta e disputar diretamente com ele.
Vencendo sem contestação, Verstappen foi seguido pelo octa-sortudo, Norris, que creio ter sido o piloto da corrida completando o pódio. Os demais pontuadores foram: Leclerc em quarto, mesmo com dificuldades para domar o carro, assim como Sainz (que rodou e saiu da pista algumas vezes e ninguém disse nada), não foram velozes, mas parece que se beneficiaram um bocado da bandeira vermelha.
Atrás deles, Ricciardo um tanto discreto em relação à Norris, seguido de Lance Stroll, em sétimo, ajudando a galera a comparar e massacrar Vettel. Em oitavo ficou Pierre Gasly, em nono Kimi Räikkönen e em décimo Esteban Ocon. Kimi acabou punido com os idiotas 30 segundos e caiu para 13º. Assim, Fernando Alonso, também discreto, subiu de 11º para 10º marcando seu primeiro ponto no retorno à categoria.
Houveram algumas coisas imprevisíveis, porém estamos num patamar muito familiar em relação aos outros anos, e ainda longe do ideal. Hamilton segue forte na busca pelo octa, tanto que já chamo ele pelo título. Sem dúvidas que esse campeonato é seu novamente.
Os motivos para acreditar nisso é que ele segue tendo muita sorte para alguém bater quanto ele erra, segue tendo carro bom para que em algumas voltas, possa recuperar a posição original e minimizar o erro. Segue tendo um oponente complicadinho, mas não dois ou três que de fato, faria ele desmanchar as trancinhas dos cabelos, só pelo desespero.
Porque então, eu disse que a corrida foi melhor que no Bahrein? Porque Hamilton errou. Só um cara deixou ele desconcentrado por um segundinho e ele já mostrou que não está tão sob o controle de tudo.
Agora,se isso vai continuar, aí já é outra história...
Abraços afáveis os comentários são de vocês! Espero que todos estejam bem e com saúde! Até nosso próximo post (ainda essa semana, prometo!) com os resultados colocados nas tabelas.
PS: Hoje tem live no Clube da Velocidade, às 20hs. Segue o link: Ep. 13 - Grande Prêmio de Ímola.
O fato de eu participar de novo é mero detalhe...
Comentários
Sobre o Bottas, parece que algo detonou de vez a sua pouca confiança em si mesmo. É uma pena, ele poderia ser um piloto notável. Era promissor na Williams. Mas não acho que ele se torne um Massa. Bottas casca fora antes de ter que ser puxa-saco.
Sobre o Russell, chorou além da conta. Precisa colocar a cabeça no lugar, e entender logo que essas coisas acontecem.
Norris e ele são bons, mas precisam começar a agir como hominhos maduros, ou vão ficar ranhetas antes do tempo.
Sobre a Live, foi isso mesmo: eu estava meio perdida. As aulas do doutorado me fizeram perder o jeito de entrar na brincadeira e fazer piadas junto. Agora o cérebro tá condicionado a ser sempre acadêmica. Eu não era assim, juro. Fazia até piadinhas em apresentações de trabalho (claro, dentro dos limites do bom senso). Acho que agi assim por estar morta de vergonha, isso sim.
Depois assista o episódios, eu tô lá mais pq querem que eu fale mal do Hamilton ao vivo. kkkk... Não acho que isso vai acontecer, rsrsrs...
=*
Algumas considerações sobre os demais pilotos:
Bottas – está no ocaso de sua carreira como piloto de equipe grande e está naquela fase onde o choque de realidade se faz presente...ele percebe que não é o piloto que gostaria de ser e precisará reunir forças para encontrar a motivação novamente...eu sempre me recordo que Bottas teve algum trabalho com Massa na Willians, este no fim de sua carreira, e isso não é nada bom para o currículo...
Perez – sei que o mexicano conta com a simpatia do povo brasileiro, mas Sergio tem um papel bem definido na Red Bull e foi uma ilusão achar que ele lutaria com Max
Sainz – pra mim é um piloto superestimado no padock, correu sempre discretamente, e ser admoestado pelo rádio da equipe de que estava entrando afoitamente nas curvas por isso estava rodando, em nada acrescenta para sua fama de piloto-engenheiro frio e calculista
Norris – cara parece gente boa e conseguiu um excelente resultado...se confirmar como piloto de ponta trará novos ares para a categoria
Kimi – é o cara mais heroico e representativo do verdadeiro espírito do automobilismo...com um carro deficiente e idade em que a maioria já jogou a toalha, ele segue bravamente competindo contra pilotos com carros melhores e pouco se importando se vale um ponto ou apenas a possibilidade de chegar um pouco mais a frente na classificação...um exemplo de amor ao automobilismo
Fique tranquilo que não aborrece os leitores! Suas colocações sobre Lewis não passam de pura verdade, então não se incomode!
Abraços e obrigada!!