Notas ácidas (ou não) da F1 2021 (2)

 


Nota 1:

No post das tabelas, eu comentei sobre placar de classificações, mas não falei sobre o sábado, nem mesmo de como tem sido as transmissões brasileiras neste dia. 
Se você acompanhou a transmissão na Band, pode já ter entendido onde quero chegar com essa nota. Não vou fazer a versão diretora das cenas, pois prometi para mim mesma, não gastar muito tempo colocando defeitos. No entanto, é preciso dizer a verdade: quantidade não é qualidade.

No sábado, sobretudo na classificação, é comum que alguns assuntos que já tenham sido abordados nos treinos livres, se tornem repetidos. Por isso, na hora da classificação o achismo ganha palco, pois parece impossível que fiquem calados por alguns minutos. 
A Band tem tentado fazer uma cobertura da F1 melhor do que vinhamos tendo da Globo, porém, criteriosamente falando, não é mentira dizer que só mudamos de canal. Se fala muito nas transmissões. E sabemos bem que quem muito fala, dá bom dia a cavalo. Assim, a qualidade do que é dito, as informações úteis, não chega à 10% do todo.

Isso não era culpa da Globo, nem é da Band. É de uma cultura do jornalismo atual em que a opinião vem travestida de informação e são produzidas à rodo - sobretudo na internet - e que agrada o público leigo e preguiçoso em demasia. É quase um modus operandi hegeliano do jornalismo: se vende a fala de uma "dita autoridade" no assunto, como se fosse verdade cabal e quem discorda, que lute.

Oras, não deveria ser assim que a banda toca...

Nota 2:

Vou exemplificar essa questão com um ponto: Caminhando para o placar de 2 a 0 para o Lance Stroll na disputa interna da Aston Martin, a transmissão brasileira criticou duramente Sebastian Vettel, no sábado. E, pelo que soube, criticaram sem descanso.
Custava dizer os problemas que o piloto está enfrentando? É o trabalho deles: dar informação e ter consideração pelo telespectador que quer saber o que está rolando, e não o que acham que está acontecendo por birra, implicância, ou simples propensão à polêmica...
Mas isso é apenas um dos exemplos. Não cabe aqui falar de todos os pontos, ou deveria fazer um texto e não notas. 

A questão para mim é: vivemos ainda um ritmo de quinta série nas transmissões que fogem do padrão das piadinhas de duplo sentido ou de trocadilhos. É quinta série no sentido de ser burro e impróprio.

Acompanhei a classificação com um outro áudio enquanto assistia, pela Band, no mudo.
Estou evitando certos portais também. Muita chamadas são bobas, tendenciosas e dá até preguiça de ler o conteúdo dos textos.
Convenhamos, é cansativo ter que procurar outras alternativas, minimamente mais sensatas, mas para evitar o stress sobre as "opiniões idiotizantes", não há outro jeito. 

O maior incômodo, para mim, está sendo considerar que quem está do outro lado da tela, aceita ser ludibriado como se fosse um verdadeiro "cabeça de vento"...

Nota 3: 

Só mais um pouquinho de verdades?
Sobrepondo o dado pragmático pelo achismo, até as entrevistas da transmissão consideradas "grosseiras" tomaram o palco com uma discussão moral rasa e uma comparação para lá de inadequada.  
Achei que só o telespectador que estava sendo feito de burro, mas pelo visto, tem gente que acha bacana fazer carinho em tubarão, só para chorar que perdeu os dedos ou o braço todo.

Eu tive uma professora no Ensino Fundamental 2 do tipo tradicional. Ela nos ensinava a fazer análise sintática - algo que nos estudos atuais, pelo visto, desapareceu das salas de aula. A saber que dei aulas para alunos dos 12 aos 18 anos que simplesmente não sabiam encontrar o verbo em uma frase, agradeço muitíssimo por ter passado nas mãos da dona Neide.

Neide, por sinal, era uma senhora bem sisuda. Não era de gracinhas,e não dava para fazer seus trabalhos meia boca e entregar para ela achando que não viriam pesadas críticas. Ela não passava a mão na cabeça de quem tratava os estudos com pouco caso.
E estava certíssima. 

Uma vez ela passou um texto na aula, com uma série de perguntas idiotas e respostas mais idiotas ainda, para fazermos um estudo dirigido. Ela lia as perguntas e nós dávamos risada das respostas Eu e ela, praticamente. Boa parte dos colegas achavam que ela era muito "grossa" e aquele era o verdadeiro sinal de sua incapacidade de ser "educada": Para eles, o fato dela não considerar aquelas perguntas, idiotas, era sinal de arrogância de sua parte. Começava uma geração de "ofendidinhos" e eu nem sabia...

Tradução: Eu respondi adequadamente à sua pergunta condescendente?

Se não entenderam, deixem passar, ok?

Nota 4:

Sobre o acidente que "mudou" a corrida em Ímola, cabe um veneninho básico. George Russell e Valtteri Bottas estavam próximos desde o começo da corrida. Na volta 32, eles se encontraram.
Talvez em condições climáticas normais - isto é, com pista seca - não teria acontecido de forma tão impactante. Talvez nem tivesse sido tão estrategicamente favorável para um certo alguém. 

Quase duas voltas depois de Lewis Hamilton cometer um "raro" erro que o colocaria no fim do grid, dois pilotos aleatórios se espatifaram um contra o outro. Ainda não há sequer um consenso de quem pareceu mais culpado (se é que existe um culpado). 

Detalhe, não são tão aleatórios assim: os envolvidos tem as suas amarrações-ligações com a Mercedes. Pareceu providencial que Bottas e Russell se atracassem de forma tão bizarra e que ajudassem justamente o primeiro (ou seria único?) piloto da equipe.

Eu ia fazer uma provocação, mas vou dizer de outra maneira...

Jamais alguém causaria um acidente para ajudar um multicampeão ou ganhar uma corrida, ou fazer umas voltas de recuperação e ainda continuar na frente no campeonato. Imagina!!!!
Seja sendo um retardatário tirando o ponteiro da corrida, seja um piloto de fim de grid batendo numa curva perigosa para ocasionar uma bandeira vermelha, parece improvável que qualquer piloto se sujeitasse à algo desse tipo.

Parece que estou sendo sarcástica, mas juro que não estou.

Contar que Bottas fizesse qualquer coisa dessa natureza para facilitar a vida do seu companheiro de equipe - o octacampeão - é descabido. E Russell não arriscaria a sua carreira em uma equipe melhor à custa de uma jogada tão suja. Embora, a sua reação explosiva, exagerada tenha mudado o foco da ideia "tudo para ajudar o Hamilton"(chegando a soar até teatral), imaginar uma teoria da conspiração só é possível depois que a corrida acabou.
Ainda que faça sentido, não pode (nem deve) ser verdade. ...

Nota 5:

Ainda sobre esse assunto, preciso dizer que o sorriso nos lábios de Lewis Hamilton depois da corrida não significava que finalmente ele estava contente por ter alguém para competir. Essa reação "good vibes" dele é tão real quanto uma nota de 3 reais. 

O sorriso era resultado de um alívio: salvaram ele de um "pequeno vexame". 
Não que o pessoal da imprensa fosse chamar assim, mas eu iria rotular dessa maneira. Afinal:

Não se admite que um sete vezes campeão cometesse um erro tão bobinho assim. 

Outro indício de que esse sorriso não seja satisfação em poder ter desafios é observar os leves sinais de falácia da imprensa que cai no seu marketing pessoal dele como patinhos: o primeiro, é não comentarem a sua a reclamação no rádio, logo depois de ter sido ultrapassado por Max Verstappen na largada. Se ele gostasse mesmo de desafios, não teria protestado tão imediatamente.

Seus comentários nas redes sociais dos outros pilotos, também contam como o jeito Lewis de ser bonzinho só quando nenhum deles está pisando no calo do seu pé. Ele teria comentado no perfil de Lando Norris dando algum apoio, algo que foi traduzido como "benção", pois no domingo, lá estava Norris no pódio. 

Logo depois do showzinho, Russell correu para pedir desculpas em sua conta do Instagram, parecendo que tinha retomado a razão. Lewis comentou com um papo motivacional barato, logo abaixo da publicação. 

É um homem de "belas causa e uma áurea divina", não é mesmo? Sempre gente fina...
No entanto, não houve sequer uma palavra de consolo para Bottas que tenha sido divulgado.

Tradução: Podemos perguntar porque?

Nota 6:

Por falar em Bottas, para mim pode ser que Russell deve estar na Mercedes no ano que vem e talvez  não no lugar do Hamilton - que alguns dizem estar propenso a se aposentar (eu inclusive acredito nisso). 
Depois da sutil cutucada que Toto Wolff deu no menino, eu entendi como as coisas se firmarão entre eles, daqui uns meses. Pareceu que tinha sido ameaçado a perder a futura vaga na Mercedes, mas acho que não era isso não. 

Para mim, ele garantiu uma vaga na Mercedes, assim como Esteban Ocon cortou caminho com uma chance na equipe depois de Interlagos 2018.
Substituindo o já marcado como incapaz, Russell entraria no lugar do Borras e já estaria com as malas prontas para a Mercedes, só esperando confirmação. E o incidente entre ele e o finlandês não teria mudado o destino, apenas ligou um alerta: George na Mercedes, terá que baixar a crista, caso seja parceiro de Lewis

Tradução livre: Segure seus cavalos 

Nota 7:

Disfarçando como o "pai conselheiro" da experiência-mor, Hamilton afasta a ideia de que Russell não teria mais chances na Mercedes. Mas essa opção ainda existe, inclusive se Bottas realmente tiver entregado os pontos dado o desprezo que sofre de dentro da equipe.

No entanto, trazer Russell como uma moeda de negociação faria o pessoal da Mercedes ter que rebolar para resolver, mais um fatídico ano. Se Lewis decidir renovar contrato, exigirá que o tratamento com Russell seja outro, ou ele mesmo não fica. Russell deve aceitar essas condições à pensar que, aos poucos, ele resolve isso "sozinho" e conquista seu espaço, já que Hamilton estaria prestes a se despedir da categoria.

Não custaria perguntar para Jenson Button e Nico Rosberg para saber como é o "Lewis doméstico". O primeiro, deu de ombros para seus joguinhos. Os dois não brigaram em pista, mas fora dela, Hamilton ficou irado com o compatriota e incluiu no combo insinuações infantiloides como "Ele não me segue no Twitter". É, eu me lembro bem. Já era chato especial desde 2007.
Já a sua relação com Rosberg está mais fresca na nossa memória, e em 2016 deu no que deu. A amizade até deixou de existir, brigas na pista, arremessos de boné depois delas e troca de olhares fuzilantes. 

Bottas se sujeita à aparente humilhação não por ser fraco, mas por não ter para onde ir e por ser uma opção confortável para a equipe. Eles fingem que ele é importante , mas fim das contas, sua função é: ele pode não ajudar, mas também, não atrapalha. 
Cabe ser benevolente e dizer que a situação particular de Bottas é crítica: é um Zé Ninguém para 99% dos fãs da categoria. Sempre que converso com um pessoal, não há um sequer que levante defesas a Valtteri. 
Isso comprova que Lewis consegue que a Mercedes transforma companheiros em verdadeiros bananas.

Nota 8:

Caso a Mercedes não dê o que Lewis procura (ou seja: um carro bom para ser campeão pela nona vez) quero ver como ele vai derrubar o discurso do momento: 

Ele continua na F1 até que seja divertido, certo?

Certo.
Então, vencendo de novo em 2021, com alguns desafios para ele se gabar  contar para as próximas gerações, qual vai ser a desculpa para se aposentar no fim do ano?


Conhecendo o Lewis, já detectei como será. Com 8 títulos mundiais, ele vai dizer que já fez muito pela categoria, que foi muito feliz, mas... Tãn-tãn-tãn-tããããn: vai sair para deixar a nova geração, tomar conta da F1. 
Todo mundo vai amá-lo mais ainda e chamá-lo de generoso e blábláblá... 

Mas no fundo, ele estará no topo da montanha da sua arrogância: Com 8 títulos, vamos estar todos velhos, enrugados, com pouco cabelo (e todo branco), com osteoporose, quando algum piloto - se a categoria sobreviver até lá - aparecer em condições de empatar com ele em número de títulos. 

Nota 9:

Está bem... Existe a possibilidade do Hamilton não vencer esse ano. E ela existe não porque Max Verstappen é melhor que Lewis, porque isso é fato. Ela existe porque ele não renovou contrato para dois anos. Renovou para apenas um. 

A negociação demorou por vários fatores, dentre eles, arrisco dizer quais:

a)  Hamilton sempre se faz de fresco. Claramente, ele adora deixar a Mercedes ficar a disposição;
b)  Ainda que Toto Wolff tenha dito que a equipe não orbita em torno de Lewis, "é verdade esse bilhete";
c) Questões financeiras: A pandemia chegou no momento errado e o bom samaritano só sinalizou preocupação com isso, mas na prática foi e é outra história;
d)  Lewis fez muitas exigências, tanto as que são divulgadas - os tais apoios e campanhas que colocam ele como o cara consciente e benevolente - tanto as que não são - como confiabilidade do carro, segurança em relação ao seu posto e um companheiro anulado. 

Fora outras maracutaias aí, tipo testes ilegais e outras amarrações para garantir mais um campeonato que devem estar no pacote das negociações.
Sabendo que 2021 seria um "pouco mais difícil", Lewis aceitou um ano de extensão de contrato e tem duas opções:

► Se vencer, ele sai da F1 como o rei imbatível "ever and forever". Discursando que vai deixar espaço para os novinhos ele finca bandeira no topo da Montanha da Arrogância.

► Se perder, ele sai da F1 dizendo que não se vê mais feliz com a categoria, que agride o meio ambiente, que não apoia a diversidade e que ele tem um sonho de trabalhar com a indústria do entretenimento e esse parece o momento certo para correr atrás disso.
Discursando assim, ele constrói um reino nos arredores da Montanha da Arrogância - "Hamiltonland". 

Nota 10:

Sobre o Pérez ter perdido 10 posições da classificação para a corrida em Ímola, também quero dizer uma coisinhas. No último post, levantei a questão de que Checo não estava nem ao nível de Mark Webber no começo dos anos 2010.
Webber sequer foi vice quando Vettel disputava os campeonatos. Tendo outros rivais à espreita, essa minha afirmação seria rebaixar muito o mexicano, mas ao mesmo tempo coloquei dessa maneira por acreditar naqueles que disseram que ele é bom piloto e merecia a vaga, sem dúvidas. 

Vamos lembrar a trajetória do Webber na era Vettel na Red Bull?
Em 2010, Sebastian venceu Fernando Alonso por quatro pontos. Webber foi o terceiro no campeonato, com uma diferença para Seb em 14 pontos. Até aí tudo bem até o ano seguinte.
Em 2011, o rival de Vettel foi Jenson Button e a diferença de pontos entre eles foi de 122. Webber foi novamente apenas o terceiro, e em relação à Vettel, ficou 134 pontos atrás.
Em 2012, Vettel conseguiu o terceiro título por 3 pontos de vantagem em relação à Alonso. Kimi Räikkönen voltava à F1 na Lotus e fez um belo campeonato, terminando como o terceiro melhor. A diferença dele, para Seb foi de 74 pontos. Neste ano, Webber foi apenas o sexto na classificação geral, separados por 93 pontos. Esse ano, foi seguramente o melhor da década 2010. 

O último ano de título do Vettel, o de 2013, foi contra Alonso em seu último ano de Ferrari. A diferença entre eles foi gigante: 155 pontos. Mas nada se compara à subtração em relação à Webber, que voltou a ser o terceiro na tabela: 198 pontos, a maior diferença para companheiro nos 4 anos.

Claro que são pessoas e  as circunstâncias são totalmente diferentes. Mas Webber é um destes ex pilotos nomeados como suporte para vitórias da Red Bull nos quatro anos. Essa seria uma das razões apontadas por especialistas para dizer que a contratação de Pérez foi acertada pela Red Bull, uma vez que a tentativa com Daniel Ricciardo, Pierre Gasly, e com Alex Albon deram em nada e eram pilotos da escola RBR.
Em duas corridas, a diferença entre Pérez e Max está em 33 pontos. Olhando para 2020, nas duas corridas inciais, Max estava com 15 pontos, e Albon com 12. A diferença era de apenas 3 pontos e não 3 dezenas.

Não que me surpreendo com o desempenho de Checo Pérez, mas deve surpreender quem defendia que ele tivesse essa "terceira" chance na F1 pois era um piloto muito bom...  

Nota 11: 

Sobre Bottas não ser bom escudeiro, essas questões se assemelham à Webber na Red Bull. No caso do finlandês, só passou a ser vice nos dois últimos anos de contrato. Desde 2017 na Mercedes, ele foi vice do Hamilton em 2019 e 2020. Porém, no atípico ano passado, foi por pouco que  Bottas não perdeu o para Max Verstappen. A diferença entre eles foi de 9 pontos, apenas.

Exigir que o finlandês seja mais expressivo é um tanto injusto. Já dei uns indícios na nota 7 que Bottas nunca teve uma brecha semelhante à 2016 à disposição. Nem adianta cobrar uma postura mais combativa dele, porque nunca houve sinal verde para que emulasse o Nico Rosberg daquele ano.
E Nico nunca foi do tipo "pilotaço". Fizeram dele mais um grande vilão na imprensa e o resultado final acabou se tornando um ponto fora da curva ou uma baita sorte, se preferirem rotular assim. Sua história é mais exaltada por ele mesmo do que pelos "especialistas" e com certa razão: para ele foi triunfal, para os demais, foi uma relaxada sem noção do Lewis.

Desde 2017, é como se Valtteri fosse o passarinho que compram com as asinhas cortadas para não precisar manter em gaiola.

Nota 12:  

Estamos em um fim de semana em Portimão. 
Parece empolgante, mas não muito. Dêem uma olhadela nos primeiros treinos livres logo abaixo


Insatisfações prévias: Mercedes no topo? Voltamos à programação normal? Já?

Abraços afáveis e cuidem-se! Volto segunda. 

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