Chapter 8: GP da Itália

O Grande Prêmio italiano, isto é, o primeiro deles, em Monza, estava fadado ao fracasso, desde a classificação. 
Eu poderia estar falando das equipes italianas, sobretudo a Ferrari, mas não é só. A falha do evento poderia ser tão grande que poucos dirão o que vou escrever aqui hoje.

Tudo começou com os treinos livres de sexta. Diante da proibição do "modo festa", para refrear a hegemonia acachapante da Mercedes e propiciar um pouco mais de competitividade nas corridas, a medida parecia dar sinais de ser um tiro saído pela culatra. Bottas e Hamilton alternaram entre P1 e P2, depois P2 e P1, sempre na casa do 1 minuto e 20 segundos. Ninguém mais fez tempos semelhantes. 

A classificação então, foi uma "bagunça" para usar o termo que Vettel usou no rádio no fim do Q1.
Existe um cara ali... Esteban Ocon é o nome dele... Eu não gosto do piloto. Atitudes como essa, me fazem questionar o seu lugar no grid - e de novo, pois já fiz isso antes. 
Enfim: Ele atrapalhou vários, VÁRIOS, pilotos no fim do Q1. 

Obviamente não houve punição. Talvez, se ele tivesse prejudicado algum piloto de equipe grande...  Tivesse dado em alguma coisa. Porém, não era o caso, então, os comissário deram de "Pôncio Pilatos". 

Seguimos, então. O fracasso do Q1 ficou a cargo da Ferrari. Vettel não teve espaço para abrir uma volta e ficou em 17°. Ficou nervoso, e com razão. Tudo que tem para dar errado, só acontece com ele.
Leclerc foi para o Q2 e fez o 13º tempo. Kimi foi P14. Interessa? Eu sei que não.

Depois de patéticos comentários da transmissão, também desinteressantes (com direito a "pingos nos is" por parte da Mariana Becker), olhar para a tv, era caso de não ter mais nada de interessante para fazer. Dali era simples: pole cravada de Hamilton e talvez uma surpresa na terceira colocação. Ah, e bastante gritaria por parte do narrador. (Saudades, Everaldo Marques!)
E foi isso. A surpresa aguardada era Carlos Sainz, na terceira colocação.

Quem não gosta de F1 deve achar a coisa mais sem graça do mundo saber que só ganha o mesmo carro e o mesmo piloto, o tempo todo. E eles devem achar a gente bem idiota, mas não estão errados em dizer que perdemos um tempo absurdo, assistindo corridas. Alguns talvez nem saibam, mas somos tão fracassados, que ainda gostamos de comentar o mesmo resultado de sempre. 
Temos que gostar, sabiam? Não podemos ser injustos: Lewis e a Mercedes trabalham muito duro para isso. E é lindo de ver, é a história sendo escrita, o cara é de outro mundo, bláblábláblá...

Querer mais competitividade na F1 não é necessariamente odiar Hamilton - ou a Mercedes. É só querer poder ver outra coisa, sentir outras emoções por ver a felicidade estampada em "novos" rostos. Mas isso conta, isso é importante para a Liberty e a FIA?
Talvez, no último caso, sim. Pois, em tese, proibiram o "modo festa" para verem se formava uma "mistura" no grid. 
Não ia dar em nada, mas o que valeu foi a intenção. 

Esse teria sido o maior fracasso do GP: entregar o mesmo resultado de sempre. Ele se desenhava assim, até a volta 19, das 53. Monza 2020 nos obrigaria a encontrar os pontos positivos em meio a mesmice, e os destaques que merecem o nosso carinho e aplauso, seriam secundários, mas é o que motivaria a gente a ir até o fim. 

Esses pontos, já deram o sinal, na largada. Bottas, saindo da segunda colocação, ia ter que estar muito atento. Não foi, tomou passão do Sainz, depois do Norris, Perez e Ricciardo. No fim da primeira volta, ele era o sexto!! 
Ele se queixou de um furo no pneu, mas até que se prove o contrário, não havia nada de errado em seu carro. Fontes seguras (desculpem, não resisti!) afirmam que o problema era entre o volante e o cockpit. 
Peço uma licença para pensar sobre isso: depois da proibição do "modo festa", e de considerar uma classificação em que Verstappen estava na quinta colocação - e tinha andando mal toda o fim de semana - não me parece surpreendente que Bottas tivesse uma queda de rendimento tão "estragada" assim. Ele acabou se afastando ainda mais de Lewis e claro, ficou para disputar diretamente com o holandês... Mas, deixa para lá! Quem é Bottas, não é mesmo?

Na volta 7, Vettel usou a extra pista, espalhou "isopor" e declarou ter em mãos um carro instável - de novo. A causa: falha nos freios que, se fosse em outro ponto da pista, teria causado um acidente feio para o alemão. A Ferrari não só tem um carro ruim, ela tem também um carro perigoso. 
O carro 5 era recolhido nos boxes, na volta 8. Leclerc ainda era 13° e logo, perdeu a posição para Kimi. Leclerc acabou fazendo uma parada e colocando pneus duros, voltou para a corrida, no fim do pelotão. 

Logo, Magnussen seria o próximo a abandonar... O carro do dinamarquês ficou em um ponto perigoso, muito próximo à entrada dos boxes. Primeiro Safety Car e os primeiros caras a fazerem paradas foram Giovinazzi e Hamilton. Só que o pitlane estava fechado, para que os comissários pudessem circular com segurança. Isso, iria passar batido, para os fiscais da prova? Eu esperava que não. Era a chance deles de mudarem o resultado da corrida. 

Na relargada, novidade nenhuma. Cogitaram punições para Giovinazzi e Hamilton.
Me distraí. Olhei para tv, pensando noutra coisa e soltei um grito abafado: Leclerc bateu em cheio numa mureta de pneus. Por sorte, o piloto saiu ileso, mas reforçou o que eu pensei: o carro da Ferrari não é só ruim, é também perigoso. 
Só agora, a imprensa e os críticos sacaram que o SF1000 é um carro "inguiável". Nas mãos do Vettel, o problema era com ele, e rendia até piada.

Safety Car? Sim e depois, bandeira vermelha. Confusão generalizada. Um plot twist na novela da  F1: o abandono do Magnussen tinha tirado de Monza 2020, a pecha de corrida chata? Se era isso, queremos abraçá-lo, agora! 
Hamilton e Giovinazzi tomaram, cada um, 10 segundos de punição. O inglês, óbvio, sacou as suas desculpas e ficou "full pistola". Uma encenação patética. O cara nunca aceita perder. 
Ele não viu que o pit estava fechado e a questão é: havia pessoas andando ali para tirar o carro da Haas. Se ele preza pela segurança, não devia questionar a fechada dos pits para garantir a integridade, tanto dos colegas, quanto dos comissários.
Ele questionou os comissários e o procedimento para remoção do carro. 

Eu acho muito sério, reclamar disso, sabendo que já houveram acidentes fatais que envolviam retirada de carros da pista. 
Deveria ter sim um farol alertando a situação de abertura de pits, mas o erro foi da Mercedes que, fez o seu piloto entrar rapidamente sem pensar nas consequências disso. Foi um erro, simplesmente e empurrar a culpa para a equipe de resgate diz muito sobre ele...

Por sinal, Hamilton está à quatro pontos de ter a sua superlicença suspensa por um GP. Ele recebeu pontos em novembro do ano passado e em julho deste ano, ambos por ter causado incidentes com Alex Albon - que ele diz "inferior" para ser companheiro de Verstappen. Na abertura da temporada, ele também ignorou bandeiras amarelas na classificação e abriu volta rápida. Somem comigo, 2 pontos para cada incidente, dá 6 pontos. Mais dois de ontem, por ter entrado no pitlane fechado, ele se aproxima do limite de 12 pontos que é o número da suspensão. 
Ia ser inédito, acredito, a suspensão da licença para um heptampeão. Eu gostaria de ver. O último a receber uma punição dessas, foi (o coitado) Romain Grosjean...

Voltando à corrida. Os caras saíram do pitlane, se posicionaram na largada e tudo voltou na volta 27. Com a relargada, Lewis e Giovinazzi cumpriram os 10 segundos. O inglês, caiu para P17, último. Mas era claro que ele marcaria pontos. Poderia dar até em pódio...
Depois disso, Verstappen também enfrentava problemas com os freios, deixava recolher o carro nos boxes. Na frente: Gasly, Raikkonen e Sainz, se a corrida acabasse ali, era o desenho do pódio, e era a volta 29 de 53.

Foi um nervoso. Kimi foi perdendo posições, e Hamilton recuperando as dele. 
No fim, nosso coração batia acelerado. Pierre Gasly, que teve carreira do céu ao "inferno" em poucos anos - esteve na Red Bull, foi rebaixado para a Toro Rosso sob muitas críticas do Helmut Marko - poderia vencer a corrida. Nessa equipe subsidiada, teve seu primeiro pódio, em Interlagos, no ano passado. Estava a ponto de ter  a sua primeira vitória!

Lembram que eu disse que Monza estava fadada ao fracasso, ali no nono parágrafo desse texto? Pois é. Não custava nada que tivéssemos uma vitória, nada a ver, que não tem necessariamente um sentido próprio para o campeonato. E claro, se era novidade, ia ter emoção, ia ter beleza, ia ter lágrimas no pódio. Custava? 

Gasly segurou o tempo todo, Sainz que vinha forte e queria também vencer. Atrás deles, Stroll que havia largado em oitavo, também tinha feito uma boa recuperação. 
Kimi não tinha potência para manter-se na zona de pontuação. Era triste de ver ele sendo ultrapassado por outros, como se nem estivesse ali. 
Já Lewis, sofria com alguns carros: o de Albon foi um deles (talvez merecesse ter dado mais trabalho, ou segurado o inglês, como forma de vingar seu comentário maldoso sobre ele, na semana que passou). Na volta 41 ele era o P12 . Era questão de tempo, ele chegar na zona de pontuação. 

As voltas finais foram emocionantes. Se ninguém se arrepiou com tudo aquilo, precisa de tratamento. 12 anos depois, a Toro Rosso - agora, Alpha Tauri - se reencontrava com o topo mais alto do pódio. O último e único a ter esse feito na "former" STR foi Sebastian Vettel.

Vocês viram, não preciso dar mais detalhes. É simplesmente fantástico quando o pódio é composto de figuras novas. A emoção de Gasly nos atingiu. Desde 1996 é que a F1 não tocava o hino francês no pódio (e teve o hino italiano, em Monza, apesar do papelão da Ferrari).

Sabemos bem: a previsibilidade nos incomodava. À mim, incomodava muito. Até o abandono de Magnussen, a corrida estava propriamente chata. Ficar às voltas do quanto o Hamilton abriria de vantagem, acabava deixando todo mundo fatigado de comentar o resto. Ora, o "resto" nem ia ser lembrado na grande história. Percebem o quanto isso é cruel e sofrível?

Olhem de novo a imagem acima. Relembrem a história desse menino. Entendam que é isso que faz a gente amar esse esporte. É quando há reviravoltas e o lado humano fazendo elas acontecer. Não são carros bem desenvolvidos, blefes ou jogo psicológico... É o piloto e a sua relação com a competição. É esse "in natura" que a gente precisa mais.

Choramos com Gasly porque a gente sabe, que o fundo, corridas sem vencedor definido acontece muito raramente. Desde 2014, se não me engano, as vitórias de equipes aleatórias, não aconteciam mais. São 6 anos de Mercedes, Ferrari e Red Bull, alternando. Mas ainda bem que aconteceu nesse 2020. Já estávamos perdendo as esperanças, afinal são 6 anos assim,e esse ano só tem trago más situações. 
Quando a Ferrari dominava, outras equipes venceram, como a Jordan. Na era McLaren, surgiu a Benneton. Lembraram de 2012 e a vitória de Maldonado com a Williams? Pois é... Bons tempos!

Para fechar, e já que mencionamos: a Williams - como ficou conhecida, gerenciada pela família de Frank Williams - deixou de ser, nessa corrida. O marco foi despedida de Claire e em breve, teremos um texto em homenagem à esse momento da equipe, seu legado na F1, aqui no blog. Aguardem, vai ser bacana!

Abraços afáveis!

Comentários

diogo felipe disse…
Belo texto, Manu! 😉
Carol Reis disse…
Foi linda demais essa corrida. O Gasly mereceu muito e não foi sorte nem nada, ele trabalhou duro por essa vitória. Fico pensando na quantidade de bons pilotos que o helmut marko já queimou porque não teve paciência para acolhê-los. Nesse afã de priorizar o Verstappen, eles destruíram a carreira de muita gente talentosa. Albon é outro bom piloto que está correndo o risco de ser limado.

Coitado do Sainz rsrsrsrs tão perto do pódio p ter que voltar ao fundo do grid em 2021. Ele disse que não se arrepende, mas é óbvio que é só p não ficar feio na fita. Bom p Ricciardo, que deve estar realmente feliz.

Nossa, é incrível como de todos os pilotos, o Ocon é o que mais aparece metido em incidente no qual ele atrapalha vários colegas. Nem vou ter pena quando o Alonso matar a carreira dele no ano que vem rsrsrs. P mim, o Ocon vai ter o mesmo destino do Vandoorne. Aposto que se tiverem que escolher entre ele e o Russell p por na Mercedes, vão ficar com o último, que tá mais bem posicionado politicamente.

Eu tinha me esquecido desse detalhe do Hamilton. Seria interessante ver a reação dele se isso acontecesse. Quatro pontos não é nada. Eu lembro que qnd o Vettel acumulou vários pontos assim ano passado, vi muita gente na imprensa comentando. Lembro que o Grosjean quase matou o Alonso naquela ocasião que antecedeu o ban, em 2012. Ele já tinha feito várias cagadas antes, mas aquela ali foi homérica. É impressionante o que pode acontecer quando um piloto descontrolado emocionalmente pilota um carro acima de 200 por hora: ele ficou afobado e isso quase custou a vida de outro piloto. Admirei a postura dele após o episódio, assumindo que buscou ajuda psicológica; e ele realmente se tornou um piloto melhor depois disso. Pena que foi tarde demais p livrá-lo dos memes e do personagem criado em torno dele, algo que se consolidou nessa época.
Manu disse…
Obrigada Diogo! ^__^
Manu disse…
Carol, obrigada por mais um ótimo comentário!

Vc tem razão. Helmut Marko não teve paciência em acolher pilotos promissores. Essa atitude dele é muito comum na F1 de hoje, e ele, especificamente, é a figura que acaba com as chances de crescerem e amadurecerem, rapidamente. Ele precisa começar a ser refreado. Talvez agora, com a vitória do Gasly, o homem recobre a consciência e seja mais justo de agora em diante.

Pois é, pobre Sainz. Acho que foi o Burti que disse, depois de ver que o Cleber "torcia" pelo Gasly, que o Sainz teria outras chances, especialmente ano que vem. Esse é o ponto... Do jeito que a coisa está estranha, não duvido que alguma armação para fazer a Ferrari voltar a vencer algumas corridas. Mas... é pensar "positivo" demais que não vai ser mais uma carreira jogada no lixo.
Ainda bem que Ricciardo está à procura de outros caminhos. Ele é muito bacana, vibrante. Além disso, fazendo dupla com o Norris, vai ser muito maneiro!

Bom, eu não gosto do Ocon. Depois de ter ignorado as bandeiras azuis e colidido com Verstappen em 2018, eu observei que, quando o holandês partiu contra ele, no pós corrida, ele fez cara de cínico. Depois de ter sido empurrado, ele fingiu reação de coitadinho. O mínimo que se esperava era que se retratasse com o Max, mas ele simplesmente deu de ombros para a situação em que claramente ele estava errado.
Fizeram um esquema tão bonitinho da vida dele na Netflix... Mas isso não me disse nada. Pelo contrário, o achei ainda mais falso. E continuei desconfiada. Discordo que ele tenha voltado a ter um lugar no grid, e depois do que ele postou em relação ao Gasly - deixando claro que ele não sabe ser diplomático e esquecer a picuinha dos tempos de kart - só mostra que, quando eu não gosto do cara, boa pessoa realmente não é.
Que venha Alonso! Não vou sentir pena... rsrsrs...

Reparou que, não há muito comentário à respeitos dos pontos na superlicença do Hamilton? Você lembrou bem - o tempo todo alguém alertava sobre esses pontos quando o Vettel era o "vilão". No caso de Hamilton, as pessoas colocam panos quentes e isentam ele dos erros cometidos. Esse último, ele culpou a direção de prova, por não deixar a sinalização aparente. E li comentarista dizendo que ele e a Mercedes assumiram a culpa... Tá bom. Foi impossível não lembrar do GP do Canadá 2008, com o sinal fechado para a entrada do Safety Car e ele encheu a traseira do Kimi Raikkonen. "Ah, mas isso tem 12 anos"... Mas ele sem um rádio, avisando para ele os comandos, não sabe nem olhar um retrovisor sozinho. Ele não me engana com essa de que tinha que ter uma sinalização mais adequada...

E o Grosjean foi o Judas naquela corrida. Eu realmente achei grave o acidente, mas simplesmente, o alarde feito, foi grande demais. Ainda não sei dizer se era necessário aquilo tudo.
De qualquer modo, até então, nenhum "piloto excepcional", de "outro mundo", tinha esses pontos descontados na licença... Se é que me entende, rsrsrsrs...

Abraços!

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