Os "Crushes" do Metal

Essa semana Luan Santana anunciou em alguma rede social que ia se dedicar ao Heavy Metal.
Fiz piada entre amigos. Se alguém fã do cara, dissesse que ele ia debandar para um estilo de música do inferno, diria que música infernal era o que ele tinha feito até agora.
Embora sempre achei que tanto Deus como seu opositor das terras quentinhas gostassem de música boa, responderia assim, mesmo correndo o risco de estar sendo injusta com a entidade demoníaca. Sou dessas que, as vezes, comento termos como "barulho infernal" para bandas muito pesadas que gosto e "som do paraíso" quando gosto demais da música que ouço. Ou seja, para mim não há diferença, desde que agrade meus tímpanos. Mas isso é uma questão de gosto, e como bem se sabe, esse negócio todo mundo tem, as vezes iguais, as vezes diferentes, mas nunca se discute, apenas lamenta-se.
Purgatório para mim é sertanejo universitário, pois lá, a tortura é "level hard". assim sendo, escutar esse tipo de som é torturante. Tanto é que estou de fones de ouvido, preparando esse texto, pois uma criatura está tocando essas duplas mequetrefes na rua, na maior altura à mais de meia hora. E para tal, quase achei que era verdade que Luan fosse debandar mesmo para esses caminhos do rock pesado. Poderia torcer para Heavy Metal no Brasil fosse modinha. 
Inocência grave a minha. Ontem pela manhã ainda li um comentário de uma colega de profissão no Facebook dizendo que conhecia muitos metaleiros que tocavam com duplas sertanejas na região para ganhar dinheiro. Ela então, nos chamou a atenção: deveríamos ser condescendentes com a escolha de Luan. Envergonhei pelas piadas que fiz. Ela estava certa.
À tarde vi num portal de uma revista que Luan tinha brincado com a situação por uma propaganda do chocolate Snickers.
Senti raiva: fez um sem número de gente de besta por conta de publicidade. No fundo, a empresa e ele criticaram o estilo de rock pesado: "Estava perdidão de fome", disse. Um somatório de infelizes situações que eu caí feito uma patinha boba. 

Mas vá lá. O mundo é assim. "Não sabe brincar, não desse para o play", não é mesmo? Pena que isso jamais será criticado pela grande mídia. Mas se uma banda de metal brasileira tivesse feito graça com o sertanejo universitário, a rede teria vindo abaixo "descendo o cacete" nos headbangers.
Duvidam? Só observarem o Rock In Rio, no último fim de semana. Toda vez que virei o canal para a Multishow, ouvi VJs balbuciando porcarias durante os intervalos da programação, um sem número de artista global pagando de rockeiro e uma platéia pulando e esgoelando músicas de banda brasileira que está mais cansativa que a rotina do dia-a-dia. Bandas e artistas como Ivete Sangalo, Skank, Jota Quest e Capital Inicial mal cantavam. Apenas gritavam entre um fraseado e o outro "o quêêêê?" e o pessoal completava a cantoria. Um misto de micareta com show sertanejo. 
Mais ainda, as bandas internacionais purgaram reclamações sobre não terem tocado música x ou y de seus repertórios. Uma afronta para bandas antigas, diga-se. Fã mesmo, raiz, teria ficado feliz em qualquer repertório, seja antigo ou novo. Claro que a gente tem as preferidas que as vezes, não estão no set list. Mas reclamar disso, para mim já é demais. 
A cultura brasileira de festivais é pequena e mesquinha. Um festival desse não deveria admitir um Alice Cooper no menor palco. Ou nunca ter Sepultura que não seja no palco principal. Mas... Não consigo visualizar um festival descente que dê muita gente consciente de sua ação no local - que é curtir uma música ao vivo - e não seja um desfile de roupas "rockers", para fazer selfies e ficar babando ovo com a porcaria do discurso politicamente correto de repórteres de plantão.
E onde se faz desfile de moda, procura uns namoricos e tira fotos com amigos? Shows de sertanejo universitário!!!
Esses dias vi num perfil de uma colega (sempre muito dramática), que - para variar - reclamava da vida. Um comentário foi feito: "pelo menos você é hétero", brincou uma amiga da "vítima de enchente". E ela rebateu: "bora para os frevo de dupla sertaneja para encontrar o crush". 

Eu ri, pois tenho conhecidas do tempo de adolescência que saem de casa para esses festivais de música sertaneja como se fosse Rock in Rio. Acreditem, pois elas achavam engraçado, desde que me conheceram, das coisas que eu ouvia com meus 13 anos. O mais rock que todos da minha sala de sétima série ouviam era Legião Urbana - que eu no caso, detestava e e achava uma pataquada saber a letra de "Faroeste Caboclo". Grande coisa.

E o tal termo, "crush"? Na minha época era paquera, agora é "crush". A menina tem 6 anos e e tem "crushes" e eu, brincava de Barbie e assistia Família Dinossauro com essa idade. 
Quando eu tinha uns 12 anos até que compartilhava do gosto comunitário da década de 90, começo dos 2000: as boybands. Cada garota da minha idade tinha um amorzinho desse tipo - ou era um dos Hanson, ou um dos Backstreet Boys, N'Sync e etc. Sim, eu gostava dos Hanson, embora não assinava "Manu Hanson" em nenhum caderno de questionário de amigas da escola. Mas já cometi a atrocidade de assinar "Manu Carter" numa borracha e em bilhetinhos. Essa bobagem hoje é tamanha, que olho para Nick Carter nas rede sociais e me pergunto onde é que estive com a cabeça... Também tive interesse na figura de Lance Bass do N'Sync, que anos mais tarde, assim que a banda finalizou atividades, saiu do armário e hoje é militante das causas LGBTs. 
Porém minha salvação foi rápida. Esses dias estive nostálgica com meus 15-17 anos: fase ápice da nossa adolescência na qual procuramos nossa identidade. Eram bons tempos em que eu me maquiava para ir para escola e usava - quando podia - apenas roupas pretas e camisetas de banda. 
E meus "crushes" dessa época não me faziam arrepender de achá-los bonitos: eram figurões do rock  que ainda hoje, estão bem, apesar de estarem velhos, carecas ou gordinhos. 
Decididamente, a salvação só me levou a crer que tinha nascido na época errada. Nos final dos anos 90 as meninas gostavam de carinhas bem diferentes do meu padrão. Meus caras bonitos toda vida eram essas figuras meio anos 80: cabeludos, loiros, altos, europeus. 

No mesmo Rock in Rio, criatura falou litros da aparência de Axl Rose. Houve memes, ditos de pesadelos e comparações de todo o tipo. Achei engraçado. Ele e a banda com Slash e Duff retornaram à ativa faz tempo. Muitos shows aconteceram antes do Rock in Rio. Axl inclusive tocou com AC/DC. Mas foi chegar em terras "brasilis" que começou a sombra do mistério sobre a sua aparência - bem como uma crítica ferrenha à sua voz. 
É como se vivêssemos isolados no mundo; eu, que não sou fã maníaca, sabia da aparência de Axl e sei, desde o RiR de 2001 que a voz dele está longe daquela que conhecemos nos anos 80/90. Qual é a desse povo? 


Em algumas manchetes vinham assuntos do tipo: "Axl Rose embarangou". Concluí que brasileiro só se atualiza sobre o mundo do rock quando tem Rock in Rio. E por isso: estão todos lascados!!!
Certa vez, compartilhei no Facebook uma foto do Axl antiga. Comentei que, para a geração que nasceu nos anos 2000 era difícil explicar que cheguei a ver os bons tempos do cantor: magro, com uma cútis bem tratada, tudo no lugar e um belo cabelão ruivo. 
Nunca foi meu tipo de cara favorito, mas era bem bonito. Mas é um paradoxo que, para um cara que fazia shows de cueca boxer justa para um público, em sua maioria, masculino desse a entender o quanto era vaidoso, ficar assim, depois dos anos 2000 em diante.
Saber envelhecer é para poucos.

Em menor escala, falaram um pouco mal do Bon Jovi, que não era mais jovem, mas ainda bom (num meme bem bobinho e previsível).
Bom em partes. Nem ele está assim arrebentando a boca do balão em sex appeal. Em comparação com os caras do The Who, velhos setentões, Bon Jovi não estava com a voz boa também não. E o cabelo de algodão doce pode até ter combinado com ele, mas assim que chegou aqui, teve gente achando o visual novidade... Oras! Ondeéquevocêsestiveramessetempotodo?


Nunca gostei do Bon Jovi. Ele é bonito, mas era arrogante e metidão a gostosão o que acaba perdendo a graça. 
Além do mais, quando conheci, tanto Axl quanto Bon Jovi, através das minhas irmãs, já adolescentes, eu era uma criança de 4 ou 5 anos. O que poderia dizer destes caras no sentido dos atributos físicos? Nada. 
Mas quando adolescente, meus padrões ainda estavam nos anos 80, década ápice destes caras. Mas eu debandei por um lado mais cabelão loiro chamativo, meio "paquitas do metal" mesmo: 

Michael Kiske

Zakk Wylde

Talvez alguns que estão lendo agora saibam como estes dois estão hoje. E eu sei, mas mesmo assim, mesmo que tenha deixado de achar os caras todo bonitões, ainda acho eles talentosos e isso supre bastante coisa. É danado de ruim quando você se depara com um cara sem sal e sem talento. Tem que ter uma coisa ou outra, ou torna-se descartável e esquecível.  
Mas é fato: se Wylde ou Kiske viessem num festival tipo o Rock in Rio (nunca, talvez) eu não ficaria toda "oooooh, o que que aconteceu?". A gente paga internet para quê, afinal?
  
E pensar que sempre fui criticada por esse meu padrão de beleza. Hoje ainda tem os tais "hipsters"... E a tentativa pobre de ser um hipsters, conforme esse Luan Santana tenta (e falha miseravelmente) com esse cabelo desgrenhado e essa barbicha? 


 E eu penso: não tem "rockeiro/metaleiro" NOVO (vale ressaltar) que causa uma faísca sequer, hein? 

Lá vou eu voltar a sonhar com os anos 80 e 90 de novo... 

Abraços afáveis!

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