Temporada 2021: Grande Prêmio de Abu Dhabi

Última corrida do ano de 2021. 

Antes que chegássemos à domingo, muita coisa aconteceria pela última vez. Então, a nossa atenção estava voltada à algumas delas.

Houveram os últimos avisos da FIA. O fair-play precisava ser levado à risca na última etapa ou caberia medidas extremas, tais como perda dos pontos. Isso era, diziam, para garantir que os dois pilotos que chegaram ao fim do mundial empatados, fossem forçados a se respeitar na pista. 

A diferença do tratamento de um para outro estava nos detalhes. Aquele que tinha descumprido "as regras" para os comissários era justamente o que tinha mais a perder com esse tipo de aviso. O GP anterior foi dito: analisa-se o caso. Seria assim em Abu Dhabi?

Recado dado, já conseguíamos prever: poderíamos contar que a corrida selaria um ano competitivo e cheio de polêmicas, com um resultado já conhecido. 

Seria a última vez que veríamos uma corrida na era híbrida. Com as mudanças de regras para 2022, podemos ter visto algumas situações que podem não se repetir mais no ano que vem. Algumas destrezas podem se perder nos próximos anos e a questão da adaptabilidade vai ser a tônica para muitos considerados "deuses" da velocidade. 

O divisor de águas será quem terá mais fôlego para deixar certezas de lado e se reinventar com a "nova" Fórmula 1.

Todos os anos o grid se modifica, mas neste tivemos deslocamentos.

1) A última corrida de Valtteri Bottas na Mercedes aconteceu ontem. Durante todos 2021 foi usado como rato de laboratório. Deslocado para a Alfa Romeo - e à ver o que foi a última corrida da equipe - talvez seus dias de glória tenham acabado. E como é possível perceber, nem foram tão gloriosos assim. 

2) A última corrida de George Russell na Williams, também aconteceu e não foi muito bacana. Promissor, o jovem inglês sempre pareceu merecedor de uma vaga em uma equipe melhor. O melhor seria a Mercedes, equipe com que sempre teve ligação. No entanto, é preciso esperar para ver. Ao que tudo indica, toda a paixão que se nutriu por ele, nos últimos anos, pode se transformar em lembrança, como se tivesse sido um surto coletivo. Uma pena, mas a tendência é ser considerado segundo caso na equipe que volta a ser prata ano que vem.

3) Deixando os bastidores da Red Bull para voltar a ser piloto oficial, Alex Albon ficou pouco tempo no banco de reservas da equipe que o rebaixou, mas sacou as armas para dar um cockpit na Williams o ano que vem. Substitui Russell, e terá como companheiro, um dos nomes do jogo de ontem.

4) A Honda deixaria a categoria como fornecedora de motores, no caso para a Red Bull e a Alpha Tauri.

4) Temporariamente fora da categoria, Antonio Giovinazzi até que tentou o seu melhor durante o ano todo, mas não conseguiu manter-se na Alfa Romeo,  já que investidores quiseram outro nome na equipe: Guanyu Zhou. Abu Dhabi foi a despedida do italiano de longas madeixas, com promessas de retorno num futuro próximo.

5) Não podendo contar com isso, Kimi Räikkönen anunciou em setembro, a sua aposentadoria em definitivo da Fórmula 1. Mesmo tendo feito até muito pela Alfa Romeo (dadas as devidas proporções) ele deixou a categoria com expressivos números, entre os quais um título mundial, dois vices numa das melhores épocas da F1 atual, e um carisma sincero.
Sentiremos muita falta de sua objetividade com as coisas, e de suas respostas óbvias para jornalistas tapados. E como disse Sebastian Vettel - sentiremos falta do silêncio.
Quem pouco fala, muito sabe. 

Nesse último caso, não é menos importante, mas foi tratado como qualquer coisa. Não houve oba-oba ontem com relação ao Kimi Räikkönen. Houveram corações apertados e lágrimas seguradas, e mesmo abandonando a corrida antes do fim, ele foi o piloto do dia.  

Poderia também ser a última corrida de Lewis Hamilton, que, diante das dificuldades que teve no começo do ano, começou a dar sinais de que seu tempo se esgota. 
No entanto, um recorde era preciso bater. Se vencesse ontem, seria octa.
Se perdesse, poderia seguir mais alguns anos, esperando a chance de passar o ídolo de muitos, Michael Schumacher.

Como quem conta com o ovo dentro da galinha, os planos não deram certo. Ainda que tivesse dado sinais de que daria, durante toda corrida, menos na última volta. 

Vocês já leram tudo que poderia ser dito do GP em Abu Dhabi - desde os argumentos mais patéticos até os mais razoáveis. Tudo gira em torno de uma certa interferência dos comissários no resultado. O grande lance é que prejudicou um dos lados que muitos insistem em considerar melhor. O lance é que essa interferência só aconteceu porque a Mercedes começou. 

Escapa ao pessoal algo que também me escapa: razão para entender que existem verdades, e não uma verdade. Até sábado de Silverstone, tínhamos um campeonato de F1 normal, competitivo. Depois da primeira volta da corrida em Silverstone, tínhamos um campeonato ainda competitivo, mas polêmico, com muitas proteções e inconsistências. Não surpreendia.

O desespero tomou conta daquele dito piloto experiente e rei do jogo mental.
Mas não se desmonta imagens à custa de nada. Muito menos de um multi campeão inglês. Foi preciso apelar para a emoção: criou-se uma dicotomia, costurada com fios de aço. Isso seria bom para os negócios. Desde então, toda a facilitação que a Mercedes pode encontrar, encontrou. Toda a cortina de fumaça que puderam propiciar, conseguiram.

E a Red Bull entrou no jogo, muitas vezes, como um cachorro pinscher.

Eu escrevi aqui: não existem bonzinhos na F1.
Cheguei a escrever textos falando que ninguém torcia por competividade. Torcia por representatividade. Parece que vivemos no século XVIII... Tudo é representação!  
Ou sei lá, compara-se tudo, como no Renascimento? Os dois pilotos são sempre colocados em similitude de simpatia e antipatia:  um é bom, militante e o outro, frio e mal.

O antagonismo era digno da crença religiosa. Falávamos de F1 ou de Igreja?

Isso foi dito no texto de Silverstone (ler aqui)

Desde o GP de Interlagos, fiquei de sarcasmo com vocês: "o bem vencerá, o bem vencerá", dizia...
A diferença é que não tenho 10k de seguidores no Twitter. Se tivesse, tinha muitos "seguimores" dando risadas comigo, ontem. 

Nem quero me gabar. Tenho ciência de minhas bobagens ditas aqui. O que me deixa intrigada é que basta uma pessoa falar o que digo desde o começo da temporada para ela ser a sensata.
O que me irrita é reclamar das regras seletivas desde os tempos de Charles Whiting e as pessoas agora, suplantarem todo os discursos de que a Ferrari fazia as mesmas coerções, que a Mercedes pode porque é a melhor equipe do grid, que a Red Bull não tem direito porque é só uma marca de energético e todos, absolutamente todos não perceberem que, no fim das contas, se quer se achar os donos da verdade.

Leiam Foucault. Descobrirão que não existe A Verdade, mas sim, as verdades dos jogos de poder. 
Empurrando goela abaixo a verdade de vocês, as últimas corridas dessa temporada foram como circos montados. Os malabaristas do esfregão, passando pano para o Hamiltão. 

Desculpem. Perdi o respeito fazendo essa rima ridícula. Mas fato é que, se você ontem ficou com algum tipo de desconforto, sinto te dizer, mas não estava vendo as corridas direito. Por Silverstone eu tomei a minha posição: o resto da temporada de 2021 não seria bonita. 
Se não fosse Baku, Max não chegaria empatado com Lewis. Se não fosse pelas mudanças de pneus em Silverstone, Hungria não teria sido como foi. Não há nada, estritamente esportivo falando, que corrobore contra a ideia de que Max Verstappen mereceu vencer ontem e levar o título. 

E pela primeira vez, as interferências extra pista prejudicaram quem mais se beneficiou delas, inclusive nas últimas corridas. Por isso o choro das apelações ainda demorará a ter um fim.

Se há algo a ser debatido é porque não se teve critério duro desde Silverstone sobre encontros na pista. Porque é que em Jeddah, Max foi punido e em Abu Dhabi, Lewis recebeu "no further action"? 
O fato final ontem, de que Michael Masi não quis e depois quis passar alguns carros alinhassem e outros não, faltando uma volta para o fim, depois da batida do Nicholas Latifi, significa que ele estava de mãos atadas. Deixar correr, ou punir ao acaso? Deixar a corrida terminar atrás de um Safety Car ou dar a chance de disputa no fim? 

Pelos negócios, parece que foi feito isso. Houve inconsistência o ano inteiro, mas sinceramente, ontem nem foi a pior decisão de todas.  
Mas o resultado, aos trancos e barrancos caiu nas mãos certas. Temos todo o direito de não gostar da pessoa Max Verstappen, mas desde o começo do ano ele tem se mostrado mais piloto que Lewis. Tome Mônaco. Tome Azerbaijão mesmo. Em termos de corrida, Max fez mais o ano todo. Lewis tem sete títulos. 

Se vamos colocar defeitos nos feitos do jovem holandês, temos um prato cheio para falar de Hamilton também, e muitos anos para começar a listar. Ele pode ser uma pessoa incrível, ter uma legião de fãs que o admira pelos motivos certos. Mas certas colocações suas são complicadas de aceitar. 
O mesmo vale para Max. Tem uma personalidade aparentemente tendendo ao sarcástico. 
Volto a repetir, mesmo não tendo 10k de seguidores: isso é Fórmula 1, não processos de canonização.

Para finalizar, uma imagem que eu não gostaria de ter sabido que ocorreu é essa:


Isso é péssimo para um multi campeão: não ir à coletiva e desaparecer. Mas não foi a primeira vez que se mostrou mau perdedor. 

Terá sido a última?

Abraços afáveis! 

Comentários

carlos disse…
Parabéns ao Max e as estratégias da Red Bull ao titulo de pilotos e também a Mercedes de construtores. Dizer que Max prejudicou o Hamilton um péssimo argumento. O Hamilton provou seu próprio veneno quem não se lembra as cenas de teatro de manipulação lá no passado e também a FIA colocou a mãozinha para mimar o Hamilton. Ótimo texto que mostra ninguém é santo na F1.
Mário Paz disse…
Manu, se você não tem uma legião de seguidores, com certeza os que te seguem são parte de um público seletivo e inteligente o suficiente para procurar algo fora da bolha de obviedade que se forma na mídia em torno de qualquer "representação do bem" contra o mal, o ungido contra o herege, o bom rapaz contra o mau educado e assim sucessivamente...Aqui neste espaço que você criou se faz automobilismo de verdade, sem concessões baratas para "idealizações românticas", trocando em miúdos, um olhar além das lentes opacas da babação midiatica em torno de heróis fabricados...Hamilton não é a Formula 1, nem herói de coisa nenhuma, nem mesmo representa o verdadeiro espírito da F1...Parabéns ao Max que fez uma excelente temporada, com muita garra e resiliência, e bateu a equipe mais forte e o piloto mais "rabudo" dos 70 e poucos anos do mundial...Que esse espaço que você Manu criou, a despeito de algumas considerações suas a respeito de um certo "cansaço" e falta de tempo, siga firme para 2022 !

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