Temporada 2021: Grande Prêmio da Arábia Saudita

Não teria tempo para falar sobre a corrida aqui, mas, como é bem possível que os últimos textos desse espaço esteja ao passo de seus últimos dias de publicação. Então, vamos à um dos finais esforços. 

Não quero falar muito sobre o que aconteceu ontem. Desde Interlagos deixei de acreditar que tive esperanças em presenciar algo primoroso nessa temporada. Achei que eu queria competitividades, disputas acirradas, pilotos quebrando a hegemonia das Mercedes... Na verdade, desejei mal. Deveria ter esperado que ninguém tentasse derrubar o Império. Ao menos, o parecer bom ao invés de ser bom, fosse mais crível.

Sumariamente, desde Silverstone, o que presenciamos não é... "esporte". 

O contexto criado desde o GP britânico para os eventos que se sucederam ao longo da temporada, até ontem, não tem justificativa. E o que respinga na comunidade de fãs da categoria, que, há muito venho falando o quão patética e contraditória (e é e talvez nunca tenha deixado de ser) é uma verdadeira guerra campal totalmente ridícula.

Acredito que, por mais que se negue, todos nós já escolhemos um lado. E os motivos são vários. Garanto que todos, sem exceção, não são tão nobres. Todos somos um tanto babacas quando vamos opinar sobre essa duplinha formidável que tem disputado o título esse ano. Dito isso, assumo, já sabendo que serão as últimas coisas que direi por aqui, muito provavelmente. Peço licença, vou ser  babaca, nesse texto.

Não vou começar sendo totalmente assim, para não afastar alguns bons leitores. 
A pessoa que escolheu um lado da briga da temporada pode até não se importar, mas em algum momento agiu ontem, de forma extrema e a sua hipocrisia incomoda. 
Tal como estes, me incomodo em ver opiniões contrárias às minhas, ou declarações vazias, e muito mesmo acusações duras. Quando isso vem de profissionais ou pessoas com uma vasta influência é perigoso. Esquecem que o lado que escolheram faz ou já fez coisas muito semelhantes e igualmente graves. 
Mas parece muito necessário que se tenha uma opinião dada como certa e sã. O problema é que isso não existe. 

Max Verstappen teve muita sorte em assumir a ponta no começo da corrida, depois de forçar muito na classificação e mostrar certa fraqueza (da qual fãs do outro tripudiaram o quanto puderam). Na mesma proporção que teria tido sorte, teve azar para iniciar a saga que seria a pressão o tempo todo desse GP Saudita que talvez não estivesse pronto para receber corridas tão às pressas.  

Lewis Hamilton não pareceu ter toda aquela experiência que é a sua base, no início. Logo, a sorte que sempre lhe sorri, viria. Munido do regulamento de baixo do braço, qualquer coisa que fizesse seria considerada razoável. Todo fim de semana foi assim. Basta olhar para o que aconteceu com o inominável russo no sábado. 

Um Safety Car Virtual num péssimo momento criou um segundo incidente. A punição tão exigida ao lado que ganhou vantagem viria, só precisávamos esperar um pouco e com paciência. (Enquanto isso, Valtteri Bottas fazia tudo de errado e passaria ileso, desde sábado.)

Visões diferentes sobre o ocorrido que determinou a corrida são bem possíveis, afinal vivemos tempos em que não se pensa igual e nem deveria ser assim.
Há pessoas que se assemelham às da Antiguidade, que falam somente no cuidado de si e de sua comunidade.
Há os tipos renascentistas entre nós, que só pensam comparando as coisas, e só por similitudes, entendem o mundo à volta.
Temos os "bonitos" da Época Clássica que veem representação em tudo.
E tem os tais modernos, que nomeiam o sujeito, o indivíduo, a história, o tempo todo...
Existem esses tipo entre os fãs de qualquer coisa, inclusive F1.
Os que acham que todo piloto cuidam de si e do seu povo. Os que comparam piloto X com Y, carro W com o V. E os que sentem necessidade de que o seu ídolo represente uma corrente de pensamento ou então, está fora do seu entendimento.
 Vez ou outra, comentaristas de esporte falam em "história sendo escrita" pelo piloto fulano de tal, que é o melhor de todos os tempos e etc..

Ontem eu não li um pouco disso tudo. Estou acostumada. Mas algo ligou o alerta de idiotice piscando: li que o que vimos Max Verstappen fazer "não era esporte"
O que é esporte à motor? Há uma resposta? Talvez não. Talvez sim.
Não ouso procurar responder.
Pouco me importa, agora, depois de ontem. 

De fato o holandês fez manobras para ganhar vantagem que os pilotos que eu torço ou admiro, não fazem. Mas o inglês também tirou seu espaço em dois momentos, talvez três, pelo menos. Uma coisa não anula a outra, como parece.
No tal ponto chave, parecia que a tudo estava sendo montado para que ambos se tocassem. E antes de acontecer, eu já sabia quem seria o culpado.

Depois de cortar uma chicane, Max foi avisado de que deveria devolver a punição (depois de ter uma negociação de posição de largada depois da segunda bandeira vermelha). Ele abriu o suficiente, diminuiu a velocidade, freou o carro (sim, confesso que achei perigoso) no meio da pista e deixou o traçado para que Lewis Hamilton fizesse a manobra. Isso tudo, antes da linha do DRS. Seu intuito? Devolver a posição por ter ganhado vantagem e retomá-la em seguida, com a asa aberta. 

O que Lewis fez? Ao ver Verstappen no meio da pista e devagar, supostamente não entendeu o que o holandês fazia e tentou ultrapassá-lo. Só que ele não fez isso como se faria normalmente. Ele grudou na traseira da Red Bull e simplesmente, num movimento brusco tocou em Max perdendo um pedaço bem pequeno da asa dianteira à direita, como se fosse um erro de cálculo.

Max fez a mesma manobra que Lewis fizera em duas ocasiões de sua carreira: o primeiro, mais recente e mais gritante, causou um grande disse-me-disse na época: Baku, 2017.
Atrás de um Safety Car, Lewis ziguezagueou várias vezes e fez um break test, pegando Sebastian Vettel (na época, seu oponente à título... Coincidência?) desprevenido. Vettel bateu na traseira do inglês, se enfezou e colocou o carro de lado dando uma sutil jogadinha de carro contra Lewis, gesticulando com os braços.
O culpado foi Vettel que não prestava atenção e foi um "troglodita" depois. Lewis provocou mencionando algo que denegria Vettel e todo mundo rachava de rir do nervosismo do alemão.

Outra manobra, dessa vez semelhante no que se refere à fechadas de curvas, foi na Bélgica em 2008 contra Kimi Räikkönen. Na ocasião, chovia e Hamilton fazia curvas muito abertas e dava pouco espaço para Kimi defender-se. Numa dessas, ele diminuiu a velocidade e Räikkönen chegou a tocar na traseira. Escaparam da pista várias vezes e Hamilton sempre ganhou vantagem. O frio finlandês bateu no muro e findou-se a sua corrida.
Com Charles Whiting na direção, Hamilton recebeu 25 segundos de penalidade por ter cortado as chicanes e terminou a corrida em terceiro. 

Se engana se sempre houve justeza nas aplicações de regra. O lance era que Whiting tinha pulso firme. A gente pedia o "let them race", mas isso era sempre circunstancial.
Mas olha, essa linha entre a regra e aplicação dela é tênue. O que temos visto, desde Interlagos e talvez, desde Silverstone é exatamente esse "let them race" quando não deveria estar acontecendo da forma com que vem acontecendo. Reprimendas, reuniões pós classificações e corridas... Bem, Michael Masi parece estar querendo fazer as coisas sem tomar lados, mas ele não se sustenta contra a chamada "coerção" das equipes e dos chefes envolvidos.

Isso mostra que a categoria está numa maré frágil. E os grandes pilotos só abrem a boca para reclamar quando cutucam a feridinha deles.
De um lado, Mercedes e Hamilton questionam como as punições são aplicadas, dando a letra de que são "leves" demais. Do outro, a Red Bull e Verstappen, sugerem regras excessivas e prejudiciais somente à eles.

É fácil concordar com Verstappen: isso não parece ser o jeito que se faz corrida. Lendo textos antigos meus, sobre Baku 2017, e também, quando retomei o assunto em 2019, lembrei de muita coisa que havia deixado escondido... 
Toda a corrida fez sentido depois de ter lido aqueles textos.

Criou-se uma cultura de punições e de discussões infundadas que só esgotam a saúde mental de quem está nessa para se divertir e não passar raiva. O que houve ontem foi uma gravíssima interferência no campeonato feita às claras para o entretenimento. Abriu-se um precedente em Silverstone que, tudo o que viesse depois, seria lamentável, perigoso e nocivo. Mandaram os caras para uma pista sem testes de segurança e que se mostrou perigosa. Justo na penúltima corrida do ano.
Os dois pilotos, por fantásticos que sejam, querem vencer. E nenhum dos dois são santos. 

Max fez de propósito frear deliberadamente ao devolver a posição para Lewis? Sim.
Lewis sabia o que o rival estava fazendo? Também.
Os dois queriam usar a DRS depois e tomarem a posição um do outro e ganharem a corrida? Sim.
O pulo do gato está onde? Enquanto um foi ingênuo, o outro armou a arapuca. Durante todo o ano, Lewis Hamilton conseguiu fazer do Max o piloto mais sujo já visto na nova era da F1.
Aqui estaria a minha babaquice: O toque foi pensado, ou Lewis teria enchido a traseira da Red Bull. Daquele jeito, a culpa cairia 100% em Max. E estaria tudo bem.

No somatório, Max recebeu punição de 5 segundos por ganhar vantagem, e depois chamado para conversar e mais 10 pontos por ter deliberadamente feito um "break test", causando a colisão. 

Deixei de ver a corrida faltando 7 voltas para o fim. Se se recordam do meu texto anterior, parabenizei Lewis pela conquista.
Afirmo que o octa está à caminho, apesar de Max ter mais vitórias, pois que era "inusitado", aconteceu: Max e Lewis chegam empatados à última corrida do ano. 
Numa disputa acirrada, vai sempre sobrar pedaços. E se você escolheu um lado pela razão, já deve ter desconfiado que não está fácil sustentar.
As cartas estão dadas: Lewis é forte no jogo mental e experiente. Max é fraco e mau perdedor. Além de sumariamente sujo, como dizem. Nenhum dos dois quer perder e isso sim, seria F1 em sua grande essência... No entanto, não está sendo tão bonito de ver como alguns apontam. 

A questão que me parece é, para finalizar: o roteirista da F1 é também, ilusionista. Ele enganou direitinho para quem gosta do discurso de "temporada épica". Mas o que deveria estar na sinopse dessa história, não vai ficar escancarado para todos: 

A linha entre o piloto arrojado e o piloto perigoso é da espessura de um cabelo bem fininho.
Só que os envolvidos são carecas como uma bola de bilhar.

Até Abu Dhabi (com a vitória do Hamilton).

E hoje tem Live do Clube da Velocidade, no Youtube, mais cedo: às 19:30.

Comentários

Mário Paz disse…
E Hamilton emplaca a trapaça do ano : "não sabia" que Max estava reduzindo para devolver a posição...Ofensivo às pessoas que curtem F1 !
Manu disse…
Ele nunca sabe. Ñ soube do esquema na McLaren. Ñ sabe lidar com pneus. Ñ entende estratégias ousadas.
Ñ acha que as regras da F1 são justas, ñ percebe porque as pessoas o vaiam...

Complicado, muito complicado...

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