Temporada 2021: Grande Prêmio da Grã-Bretanha

Silverstone.
A casa da F1 seria, no último fim de semana, palco de tentativas (interessantes para uns, e para outros, nem tanto) de "mudar" o formato da categoria.
Vínhamos ouvindo falar da tal corrida Sprint, que seria uma mini corrida no sábado e até eu boiei bastante de quando ele aconteceria e como aconteceria.

O resumo foi dado, mas precisávamos conferir para agirmos com "conhecimento". Na sexta teríamos um treino livre, depois, pela tarde, a classificação tradicional que conhecemos, com Q1, Q2 e Q3.
No sábado, teríamos, pela manhã, um outro treino livre e, pela tarde, aconteceria a tal Sprint Race que funcionaria como classificação para a corrida que conhecemos, com as 52 voltas, no domingo. 

Virou aquela salada na nossa cabeça. Volta e meia escapava um "pole position" que não era pole position e as coisas começaram a ficar esquisitas noutro campo: o do fanatismo e do bancada da moral.
Começaram as faíscas justo na novidade: Havia quem considerasse a pole position do Lewis Hamilton o melhor tempo da classificação tradicional da sexta. Outros consideravam a pole position o que determinava a F1: o vencedor da Sprint Race - no caso, Max Verstappen.

A minha sensação era que, ao ver a casa cheia e uma patética gritaria da transmissão local... Alguma "m" ia acontecer, logo, logo. Pena que não pude prever isso para vocês aqui, antes. Tive uma semana de estudos e escrita de artigos que tomaram a minha mente quase por completo e não pude sequer fazer postagens pré GP.

Não vou entrar em muitos detalhes aqui, pois corro o risco de ser xingada injustamente. Além disso, quem assistiu, desde sexta-feira, todos os eventos que comporiam o Grande Prêmio da Grã-Bretanha (ou Inglaterra, se preferir), já estão carecas de saber o que rolou.
Mais que isso: já possuem uma opinião formada - tanto para o que foi a corrida/classificação Sprint, quanto para o que aconteceu ontem nas primeiras e últimas voltas da corrida. 

Em termos de corrida, não tivemos grandes destaques: a Sprint Race deu alta empolgação para o campeonato na largada, com Max largando muito bem e tomando a ponta. Alguns dos grandes pilotos do grid, como Fernando Alonso e Kimi Räikkönen, alçando posições 4 posições cada e mostrando um ritmo de corrida de quem tem experiência como sobrenome, também foi interessante.
Das 17 voltas,  uma coisa saltou aos olhos, pelo menos para mim, como vantagem desse formato de classificação: sem estratégias e paradas, mostrou-se que em uma janela curta podemos vislumbrar um pouco quem é melhor que o carro. 
Na corrida "normal" tivemos a decisão do campeonato nas duas primeiras voltas de forma pouco bacana em termos gerais e um resultado pouco justo. Destaque para Charles Leclerc que fez uma excelente corrida, segurou duas Mercedes em 90% das voltas totais e merecia muito a primeira vitória da Ferrari no ano. Mas aquele que andava escondidinho, voltou: o roteirista das corridas fantásticas, geniais e de recuperação...

A corrida: 52 voltas. Em 48 delas, nosso foco não era também 18 carros, mas um abre alas para "eu acho, eu acho e eu acho" que entorna o caldo.
Nas duas primeiras voltas, tivemos um drops do que é Lewis Hamilton sob pressão.
Eu estou aqui nessa desde antes de 2007. Posso ter falha de memória no que diz repeito a qual corrida Lewis fez o quê e contra quem, mas eu sei que ele também erra e é cínico e hipócrita com rivais. Não cheguei aqui porque empolguei com o seriado da Netflix ou sonhava que casaria com um piloto. 

Também não estou aqui para defender Max Verstappen. Não vou dizer que ele está certinho em tudo que fez, falou, fala e faz. Nem rememorar todos os incidentes do Hamilton e todas as falas arrogantes do britânico.
Não vou dizer que Verstappen é um moleque ignorante que já criticou duramente um "piloto" insinuando algo sobre sua nacionalidade, ou tenha causado batidas com Ricciardo, e disputas ferrenhas com Leclerc sabe se lá em quais corridas e em quais anos. Nem mesmo vou reforçar que ele fez pouco do acidente do Romais Grosjean em novembro do ano passado, falando que era frescura não voltar para as pistas. 
Não vou pedir para que lembrem como foi o tratamento do Hamilton com a saída de Alonso da McLaren em 2007, ou como ele lidou com Jenson Button na mesma equipe, nos anos em que foram companheiros. Nem peço que procurarem assistir o pódio de Mônaco que se não me falha a memória, foi o de 2015 ou checarem como Lewis agiu a respeito do embate com Kimi depois do GP em Silverstone de 2018... Olha, coincidência ser Silverstone?...

Sim, estou convicta de que foi acidente de corrida o que aconteceu entre ele e Max. Os problemas se dão nas punições e como essas coisas são lidadas por comissários. Eu já falei sobre isso aqui, quando pautei, um por um, os pontos da licença. Ignorar bandeiras amarelas são mais graves que provocar a saída de rivais da corrida por disputa de posições. Ao nível que foi ontem, 10 segundos foi uma punição leve. 

Não digo que foi intencional, mas claramente poderia ter sido evitada. Porque deveria, se foi tudo tão rápido? Oras, pergunto a mesma coisa quando se diz que "fulano errou porque está velho", "ciclano é muito braço duro, nem sabe virar um volante" e "beltrano ainda vai matar alguém".
Além disso, boa parte das punições se dão sob o argumento da segurança. 

É perigoso rodar no pitlane ou numa área de escape, mas não é se você der ré para voltar para a pista com vários carros passando em velocidade. É passível de punição por andar devagar com carro avariado na pista por colocar em risco a  sua vida e de terceiros, mas lançar o cara a 51G de impacto numa mureta de pneus, não.
É perigoso andar devagar beirando a barreira dos boxes, na largada, vibrando junto aos mecânicos. Mas não é se você sai passando com os braços para fora, empunhando uma bandeira e fazendo tchau para a torcida.

Sejamos sinceros? Ninguém que bate, erra, pega fogo, joga o rival para a fora da pista, faz essas coisas todas por querer, na maldade. E se faz essas coisas constantemente, precisa haver um pouco de bom senso e ser razoável para entender o que leva o cara a fazer isso. Duvido que seja um caso de psicopatia, por exemplo. 

Então, a punição ao Hamilton deveria acontecer, afinal, não ficam com o discurso de segurança? Sim, e ele colocou Max em risco. Por querer? Não. Porque estava já cansado de ver o cara ser duro com ele e deixar ele para trás.
Max teve a sua parcela de culpa pois na disputa não aliviou e pagou para ver. Ele poderia ter feito como Charles Leclerc à duas voltas do final da mesma corrida e contra o mesmo Lewis - saído pela área de escape - para não bater do mesmo jeito que ocorreu com Max.

Basta olharmos as fotos dos dois momentos:



É isso que deve ser? O cara que parte para cima deve esperar que o outro tenha a responsabilidade de evitar o acidente? Estão, está bem. Admitam isso e bola para frente. As punições continuam seletivas e o ambiente, a nacionalidade estão sempre em jogo para comissários. Podemos até discutir e reclamar, mas não sai disso. Não temos poder de mudança. Ou aceita, ou abandona. 

Depois da Áustria, não tínhamos como dizer que não poderia ter punição para Hamilton. O lance é que em alguns casos graves ela é branda. E em alguns casos bobos, são 30 segundos de punição e 2 pontos na licença.
Por isso, quando vamos analisar a coisa pela paixão, a cegueira bate na porta e é uma visita que não vai embora. Se defende o "roda com roda" até que o seu piloto favorito saia prejudicado. Se acusa de antidesportivismo até que o rival faça algo que você já minimizou no passado. 
Disso daí para pior: escarafuncham todas as falas dos envolvidos e dependendo do lado em que você está, você é "fascista ou comunista" (se é que me entendem...)

Vi muitos comentários de raiva contra Lewis e que não se pautaram em relação à sua cor. Mas é claro que isso ia traduzido assim. E é claro que ia sair gente racista da moita para aproveitar a chance de xingá-lo por isso. E o contrário também aconteceu. A bancada dos imbecis disparou tiros dos dois lados. 

Os caras só fingem que se preocupam, mas não estão nem aí para as brigas que vocês compram por eles. Eles arrumam as próprias confusões e não devemos tomar partido porque a coisa beira ao ofensivo e o maldoso e no fim, eles estão se abraçando e os fãs em guerra campal.
Faz mal também ficar arrumando confusão com os outros, tomando partido, condenando isso e aquilo. Ganhou o quê com isso, alecrim dourado? Uma úlcera?

Com essa palhaçada de ontem sobrou até para o Vettel. O alemão fa zia uma corrida ruim, recolheu o carro e depois que acabou o GP, foi para as arquibancadas ajudar a recolher o lixo deixado pela platéia. Houve quem dissesse que ele fazia o que o politizado Lewis nunca fez. Outros achavam que ele estava querendo aparecer aparecendo, pois o foco seriam apenas dois: a vitória do Hamilton e a comemoração com a torcida e a preocupação com o Max no hospital.  

Falando diretamente, sem metáforas: acusar um ou outro de racismo, nazismo, mimimi, hipocrisia, e não sei mais o quê, diz mais sobre você do que sobre eles.
Não estamos numa Igreja, então parem de ficar procurando pelos santos. 

Hoje terá live do Clube da Velocidade no mesmo horário: 20hs, horário de Brasília e no YouTube. Estaremos lá! 

Abraços afáveis e cuidem-se!

Atualização: De acordo com a Julianne Cerasoli (ver aqui) Hamilton levou 2 pontos na superlicença. 

Comentários

Rubs disse…
Olá.
Você enquadra o fato da colisão na perspectiva de sua visão sinótica que abrange muitos outros eventos e juízos de valor pessoais. Evidentemente o seu juizo sobre Hamilton já estava formado há muito tempo, o que é uma prerrogativa.
A análise mais objetiva do evento que vi está aqui:

https://linksharing.samsungcloud.com/mFQ3WyliUBUc
Pilotos não são santos: são competidores agressivos, sobretudo os campeões.
Como eu já disse alhures,
Hamilton sabia que poderia se dar mal e partiu para o tudo ou nada. Vespa encurtou a pista e quis FORÇAR Hamilton a recuar.
Hamilton pagou para ver e não recuou.
Foi um golpe psicológico.
Do alto de seus sete títulos, passou uma mensagem importante para o Vespa: "vai levar porrada toda vez que se meter a besta". Aposto que o Vespa vai se intimidar daqui para frente.
É uma guerra psicológica que todo grande piloto sabe e deve fazer.
Os mesmos que chamam Hamilton de "sujo" glorificam o Fittipaldi por não ter recuado diante de Al Unser Jr. em Indianápolis ou fazem de Senna um herói no Japão.
Abs
Manu disse…
Olá, Rubens! Faz tempo que você não aparece por aqui...
Obrigada pelo comentário!
Abraços!

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