Foco da Semana: Relações de opinião (parte 2)

A expressão "bella roba" é de origem italiana e talvez poucos conheçam. A expressão, eu aprendi (com muito gosto) com a minha finada vó Dú.
Ela foi a única vó que conheci. Tinha um humor incrível, um coração enorme e um jeito simples de tratar as coisas e as pessoas que fez e faz com que filhas, sobrinhos e netos tenham tanta saudade dela, que fique difícil mensurar.
A palavra "bella roba" é uma expressão que formula um sentido de não dar importância à algo que lhe foi dito ou visto. É uma forma de fazer um comentário jocoso à uma situação, isto é: um jeito, mais sutil de dizer o sarcástico: "grande merda!" 
Minha avó não era do tipo de pessoa que via maldade nas ações e nas pessoas. Muito pelo contrário: em 15 anos de convivência com ela, nunca ouvi nenhum comentário maldoso ou cruel partindo dela. A não ser claro, o "bella roba", que acontecia sempre com relação à algo que ela via na tv, e não achava nada relevante ou pertinente. Ao dizer "bella roba" ela soltava uma gostosa gargalhada, da qual é bem nítida em minha memória ainda hoje, quase 15 anos depois que ela se foi. 

Convenhamos: hoje - ao ter contado com as pessoas públicas via tv e mídias sociais, e contatos com as pessoas comuns, pelas mesmas mídias sociais (e no contato cara-a-cara, bem menos) - o que mais tenho vontade de dizer é um bom e sonoro "bella roba" para a maioria delas.
Abram o portal de notícias, o Yahoo, por exemplo. Vejam as notícias que passam em fichinhas por lá: Neymar e Marquesine curtem jantar com vinho de 11 mil reais
Nem existe a necessidade de clicar: basta deixar rolar o sentimento, encher os pulmões, abrir e boca soltar o "bella roba" em voz alta e ser feliz.
O que eu tenho com isso? Grande "m" tomar vinho nesse preço! 

Resolve criticar? Não. Mas as mídias sociais publicam, informam essas trivialidades, banalidades e isso parece uma afronta ao nosso intelecto: gera raiva pela inutilidade do assunto, a perda de tempo com uma situação que não lhe diz respeito, e claro, gera inveja. Um sem número de indivíduos vão achar magnífico essa ostentação de vinho de 11 mil reais. São os mesmos figurões que compram ingresso de filme com atores da Globo, caro para caramba. São os mesmos que vêem propaganda de celular novo na TV e quase vendem o rim para tê-lo. E a lista pode demorar um tempo para ser concluída, como se pode imaginar.
Há gente à toa o suficiente para clicar, ler e comentar as reportagens banais. Por isso eles fazem manchetes assim. Se não fosse uma tendência de gerar cliques, não existiriam. Há ainda, também, aquelas manchetes manjadas, que o Yahoo anda mestre no quesito: "Você não vai acreditar o que Fulana postou no Instagram - Veja a foto". Neste momento, o cérebro pulsa, você clica e descobre uma foto de uma pseudo-celebridade comendo um brigadeiro - normal - e um texto podre, mal construído, falando idade e o que a pessoa faz no momento. O ápice é um texto encaixa a legenda da foto entre aspas: "como chocolate e não engordo, é assim desde nascença. #Chocólatra"  
São os chamados "caça cliques" - que ganham pela repercussão daquele notícia lixo publicada. São estes que atiçam a curiosidade, alertando polêmicas que nem sempre são provadas: "Maria das Couves" brigou com a "Zefa Tupiniquim"  nos bastidores da novela "O X do Meu Coração" ou ainda: Ator hollywoodiano, largou modelo boazuda para ficar com a "Loira do Tchãn".

Os portais tem, geralmente, uma interface de comentários para a "interação" com o público, que vão de críticas ao texto ruim ou questionamentos sobre as provas do fato ocorrido, até defesas sobre personagens da notícia: se alguém á fã da Maria das Couves, posta comentários de demérito à Zefa Tupiniquim. Se a Zefa Tupiniquim for uma mulher negra, a vida dela ruiu: ela tem 90% de chances de ter de passar numa delegacia para reportar uma denúncia de comentário racista, na web. Alguém que se condói com a balburdia e atos de racismo, resolve retrucar, desmoralizando a das Couves, em algum sentido, como por exemplo, dizendo que ela é velha. A bola de neve está formada em plena web e em pleno país tropical.
Outra boa vontade latente é o orgulho brasileiro: se tem um estrangeiro "dando uns pegas" numa brasileira, os gritos de "brasil-il-il" em coro mais ensaiado que em estádio na copa de 70, aparecem do nada. Ouso dizer que será fácil encontrar xingamentos à mulher largada pela moça brazuca, no tom "Chupaaaa!" Super maduro, não?
Essas pessoas, que tratam essas notícias assim, são as mesmas que lêem reportagens sérias e soltam suas barbaridades em comentários: se alguma notícia reporta uma ataque terrorista, é de se esperar que o comentário idiota ofendendo a religião alheia, vai surgir. O extremismo é quase o mesmo, só que sem mortes, mas muitos feridos. As ofensas dos desavisados e manipulados, recai num ódio à qualquer pessoa de burca.  De novo: bem maduro, não?

O que é esse comportamento? São as figuras do século XXI, os Haters. Figurinhas medíocres que usam o seu tecladinho de computador como uma verdadeira metralhadora: ninguém se salva - é criança que sendo filha de um político que o hater esquerdista detesta - e ele acha de bom grado chamar o coitado de "retardado"; até direitista hater que vê brecha no AVC da mulher do Lula para desejar a morte dela.
Qualquer coisa é promulgado para virar polêmica, para meter o dedo onde não é chamado, para opinar como se fosse o dono da verdade, falar coisas que eram do âmbito privado, e caiu no público.
Falar mal do Trump, no Brasil, é no mínimo ridículo. Se você for cientista político, convidado de um programa, talvez até valha de debater sobre a política do homem cabelo de vassoura de piaçava. Mas olhem só: mal sabemos do nosso sistema político e já somos capazes de aderir à protestos gringos pois "sabemos o que é ter um babaca no governo"? Se for isso, está certo. Desde de 1500 sabemos, com propriedade, o que é ser governado por imbecis. Cada povo tem o político que merece.
Brincadeiras à parte, no crivo real do controle do esfíncter bucal: não fale daquilo que não conhece. Você nem sabe pagar a conta do gás, quer ensinar estadunidense a votar? Está grave isso.

Os protestos feministas contra o Donald Trump acarretam algumas contradições. Algumas mulheres tem seus discursos legítimos, embora eu discorde que se faça necessário: é como correr atrás do rabo. Mas algumas "protestadoras", celebridades basicamente, mostram contradição. Madonna e Lady Gaga fizeram e fazem dos seus corpos, símbolos controversos da figura feminina: exploram a sexualidade e exibem corpos nus. É difícil segurar o revirar de olhos daquela pessoa que vê nesse tipo de atitude o motivo para não respeitá-las.
Sim, Trump é um bolha, um imbecil. Se fico sabendo de suas declarações, dou risada de nervoso. Penso, as vezes, que ele é um tipo de mau necessário para que percebamos o quão babaca um ser humano pode ser. Mas nem todo mundo pensa assim.
Enquanto a mídia der alarde para o que ele diz, mais ele fará da América do Norte e dos americanos, seres intragáveis. Sim, porque atá lá, a mídia esconde muita coisa, muita por convicção ideológica, mais ainda para não gerar desespero. Ao mesmo tempo, temos de saber, e algumas coisas tem de serem noticiadas. Com isso, vamos criando ódios, tristezas, e uma hora, explodimos em atos ferozes de ataque ou, entramos em depressão. Podemos estar num labirinto. Mas eu proponho um jeito: Que tal, toda vez que ele disser que vai fazer o muro da fronteira com o México, fazermos um coro para ele dizendo "bella roba"? Toda besteira que ele vomitar: "bella roba". Ele vai cansar. Ele tem que cansar.

"Bella roba" pode ser um start simples para que os gestores infelizes, os falastrões de plantão, os babacas de botequim se reduzam na sua insignificância. 

- "Meu time tem 800 títulos"
- Bella roba!

- "Meu piloto é campeão mundial..."
- Bella roba!

- "Hoje, podemos comprar tvs e carros porque o governo de esquerda melhorou nosso custo de vida..."
(Ainda que isso seja uma inverdade) - Bella roba!

- "Nunca quis sair do país, mas saiu uma bolsa, aproveitei e estou indo fazer doutorado na França..."
- Bella roba!

- "Estou sem dinheiro, mas tive de financiar um carro, porque é o meu sonho!"
- Bella roba!

- "Vou tirar o kit gay das escolas", "Precisamos ensinar os jovens a entender política", "O mundo está um caos", "Não sou racista, só acho que os negros são muito mimimi", "Não sou machista, tanto é que acho que homem tem que ajudar na cozinha", "Tenho um iPhone, isso não me tira o direito de fazer militância pró-esquerda", "Tenho opinião formada, vou falar o quanto quiser"... 
Bella roba para todos! 
Somos insignificantes, minha gente! Esse papo de achar que tudo ofende, fere, denigre, só promulga que as coisas piorem. Persar por nós mesmo é bom, mas é preciso, parar-olhar-escutar. Cuidando da limpeza do nosso umbigo e agirmos - evitando sermos extremistas ou prejudicando outros - a gente convive um tanto melhor, sabendo que cada um é cada um: ninguém pensa igual! *Ainda bem!* 

Pelo menos, eu acho que sim. 

Abraços afáveis!

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