F1 2019: Às vésperas do GP da Alemanha

Abra qualquer portal/site de notícias sobre F1. Qualquer um de sua preferência, não vou julgar a escolha.
Abriu? Agora, faça o seguinte: Corra os olhos nas notícias recentes. 
Posso garantir - sem saber qual página você abriu - que tem, pelo menos uma matéria sobre o GP alemão de 2018. Dependendo do grau de exorbitante mania dos "caça-cliques" que acomete a atual internet, há uns dois textos em formato de colunas, abordando a "derrocada" de Sebastian Vettel naquele GP.

Esse GP é ainda comentado, um ano depois por critérios já vistos sobre outros assuntos que pipocam na web: a) sadismo, já que nada é tão "engraçado" quanto ver a desgraça daquele que você não nutre simpatia;
b) basta um desequilíbrio para que qualquer abutre da mídia esteja apostos para dar aquele empurrãozinho que falta. E claro, fazer disso, um assunto dissecado como Jack Estripador. 
Não se enganem. Sempre há um destes. As vezes até, com mais crueldade que o assassino serial.

Esses dias, vi uma citaçãozinha besta, que acabei publicando nas minhas redes sociais que dizia mais ou menos isso: não é a água em volta do barco que faz ele afundar; é a água que está dentro dele. 
As situações externas podem interferir no sucesso de empreitadas, porém o que for negativo dessas situações, não podem ser carregadas para dentro do processo ou o "afundar" será iminente.
Quantas vezes, você aí, que esteve em uma situação sem saída, faltando pouco para não ruir de vez, e não sentiu o pé invisível da vida, pronto para chutar, sem dó nem piedade?

É mais ou menos isso que a mídia esportiva especializada tem feito com Sebastian Vettel. Os fãs do piloto estão sofrendo talvez, um pouco mais do que eu passei como fã do Kimi Räikkönen em meados de 2009. Naquele ano, tudo que se lia por aí era a inexpressividade do piloto finlandês em guiar um carro da Ferrari. Não cometia erros crassos, mas era dado como tão, mas tão inútil, que fazia parecia sacrilégio que ele tivesse um lugar na equipe. 
Estou longe de ser isenta, mas era desnecessário tanta crítica, tanta responsabilidade para as corridas que fracassavam. 
Italianos são dramáticos. Para eles parecia fim do mundo mesmo. Juntou-se à excitação do momento com a vinda de Fernando Alonso e pronto. A imprensa espanhola só apimentou a "transição" de último campão da Ferrari, para completa "ameba" - termo usado pelos comentaristas de F1, na época, inclusive.

Estou sendo um tanto dramática. Talvez os fãs do Kimi não tenham passado um terço do que os Vettel tem passado, hoje. Kimi, estava quase descrente, precisando de algo a mais. Havia vencido o campeonato pela Ferrari, mas viu as decisões internas da equipe sem o pulso firme de dirigentes  ou pilotos exigentes, ruir a olhos vistos. Sua frieza, que o levou a grandes feitos em toda sua trajetória na categoria, era exatamente o que mais causava desconforto provocando sentimentos de necessário afastamento.
Na época, eu fui fã irracional. Achava um disparate tudo que diziam. Por sorte, ele mesmo ensinava a gente: dava de ombros. 
A única revolta que ainda guardo daquela época é apenas a premissa de que um dado mediano piloto foi o responsável pelo seu título em 2007. 

Cheguei num ponto legal, acompanhem: uma mentira deslavada, se dita pelas bocas certas, se transforma em fato, no ato em que foi proferido.
Essa é uma das mentiras da F1 dos anos 2000. A outra, talvez seja do mesmo ano de 2007: a "fenomenilidade" de Lewis Hamilton. Puro talento, um jovem feito para ser campeão.
Já ouço vocês: "E ele não foi?" Pensam que eu acho cinco, agora seis vezes, pouco? Na verdade não. Acredito, na toada que vai, que chega a 8 campeonatos vencidos, fácil. 
Não é a boca certa, mas caso seja mentira, arrisco: no máximo, um destes seis campeonatos, tem algum valor notório. No máximo! O resto, foi como cozinhar um macarrão instantâneo. 
Dentre as outras mentiras aqui e ali, se coleciona pelo menos duas, a cada temporada.

Vettel sofre. Muito. Qualquer piloto que sentou num carro da Ferrari, como piloto titular, sofre. Lidar com a pressão, não é para qualquer um. A gente está longe, não sabe o que passa na cabeça do outro. A pressão alcança níveis altos assim que o indivíduo pegou em uma caneta para assinar com a equipe. Só quem já foi piloto da equipe sabe o que é. Do cara mais exigente, confiante e poderoso, até o mais frio e descompromissado, sente-se um peso absurdo. O que separa eles, não é o que fica aparente, mas como eles lidaram com isso, no tempo em que estiveram lá, à quatro paredes.
Os "tifosi", dizem, são os primeiros a cobrar perfeição. De fato, talvez tenham larga responsabilidade na pressão. Simplesmnete porque para eles, o cara contratado tem que ser um homem biônico. Não se admite falhas no "sistema". Falhou? Opa, já tem abutre à espreita - os críticos e os comentaristas. 

A dicotomia parece assunto de ficção, mas paira nos esportes mais que a gente queira admitir. Não era para ser espaço para isso, a não ser em HQs ou livros de fantasia. Para que um se destaque, o outro, tem que ser quebrado em pedaços. Para ter a Ruth, tem que ter a Raquel... Sempre?

Sem ter uma resposta para isso, que não divague muito, tentei procurar meu texto pós o GP da Alemanha de 2018. Eu não tinha ideia do que eu havia refletido sobre aquela corrida. Lembro de ter ficado com muita raiva. Então recorri ao registro. Eis o resultado no print abaixo:


Consegui fazer um texto sucinto naquele domingo. Mas, dá para sentir o tanto que eu estava possuída de raiva. Mas aí, na segunda-feira, eu não me contive. Cliquem no link para lerem o que escrevi um dia depois.

Me deparei com duas verdades naquele texto, uma delas, bem grave e a culpa é de vocês: como ninguém nunca me alertou o quão feio eu escrevo? Textinho mal organizado aquele, minha nossa!
Duas (e esse assunto é dentro do contexto, apesar do trauma), que a minha perspectiva segue a mesma. Apesar de um ano ter se passado. 
Vettel não pode errar e quando errou deram gargalhadas. Esse ano, a risada persiste, a cada minuto que ele erra. Não importa porque ele erra. O importante é que a maioria se vê confortável em fazer chacota.

Em uma situação muito mais grave que Räikkönen em 2009, Vettel encara diante de si, clamores por aposentadoria e comparativos com outros pilotos que passaram pela equipe vermelha, inclusive Kimi. Li, nesses tuítes aleatórios, curtidos ou compartilhados por alguns seguidores, coisas abismais: Num deles, o cara sacou vários RTs que diziam, em italiano, que o maior erro da Ferrari foi ter dispensado Raikkonen pelo Leclerc e que no caso, essa deveria ser a dupla para a temporada 2019. O mesmo cara, vivia a pedir a cabeça do finlandês no fim do ano passado. 
Outro ser, que infelizmente tomou o meu "unfollow" por uma junção de fatos que, não me orgulho - já que ele provocou a minha boa vontade e tolerância - estava fazendo campanha para o retorno de Fernando Alonso à Scuderia. 
Esse último, mesmo tendo tomado um sutil "block" da minha pessoa, por estar, por demais, interferindo nos meus tuítes sobre política, querendo validar discursos rasos e incoerentes de nosso presidente, não parecia estar delirante como eu pensava. Já vi um par de tuítes que compara os desempenhos de Alonso e Vettel na Ferrari me fazendo questionar a racionalidade humana.

Sabem de uma coisa? Estou gostando mais de Vettel passível de vários erros. Gosto mais do que  a figura de antes, tetra campeão e meio petulante. Campeão é uma coisa falante, muito chata. 
Agora, Vettel é humano, bem menos chato e bem mais parecido com a gente, com falhas, inseguranças, rompantes derrotistas, mas peito aberto para não desistir enquanto tiver forças. Antes, conquistou feitos e não teve controle para que surgissem os endeusadores de plantão. Por isso digo que campeões são chatos. Eles crescem no fermento natural que vem no pacote da glória. O que os ergue lá em cima, é também os que derruba, rapidinho. Tornam-se então, presas fáceis dos carentes de racionalidade. 

Ruiu rápido essa imagem idolatrável do Vettel, não é? Vai ver era porque não era autêntico. Não era da constituição  do Sebastian Vettel. Capaz que era isso que Ecclestone se referia quando disse que como campeão que ele não era carismático. Ele não pareceu moldado para gente doida propensa a alimentar fanatismos. 
Nem sempre, os dados como fortes, poderosos são os que merecem o reconhecimento que lhes é atribuído. Quando o fato arquitetado meticulosamente é para as aparências, é difícil de destruir, mas super fácil de comprar. 

Resta esperar que haja o mínimo do sucesso para Vettel na sua nova oportunidade em casa. Não vai ter reação, que coloque a Ferrari num patamar mais favorável. A Mercedes segue sendo hegemônica. O que mais fere é saber que, a Ferrari, no seu caos interno, não está aproveitando a chance de se aproximar mais da equipe prateada, botar pressão e aguardar que cometessem erros, que certamente viriam. Além disso, organizar-se para reagir alimentaria a tão sonhada reação que prega seus fãs e contribuiria muita para que a F1 fosse, novamente mais legal de acompanhar.

Vejam bem: nos sábado de treinos classificatórios, Hamilton não tem sido o grande destaque. Foram 3 poles nas 10 etapas. A minha implicância leva ao patamar da "encenação". Tudo à custa de um discurso de que as vitórias foram custosas. Esse pensamento ganha força se olhamos a tabela de pontos, à caminho da 11ª etapa da temporada. Hamilton soma 223 pontos, seguindo aquela ideia de que poderá fazer mais que 430 pontos esse ano muito fácil. O segundo colocado é o apático colega de equipe que está à 39 pontos atrás. É uma vitória mais um quarto lugar e um nono, por exemplo. Bastante coisa, se considerarmos que Hamilton nunca é carta fora do baralho para, ao menos, fazer com Bottas empate. 
A situação toma requintes de crueldade se compararmos Hamilton não com os dois que o segue, mas o primeiro piloto da Ferrari na tabela. Vettel está a 100 pontos do inglês. São quatro vitórias para empatar, algo simplesmente impossível de acontecer. No caso da menina dos olhos da equipe de Maranello, Leclerc amarga 103 pontos de diferença, 4 vitórias, com voltas rápidas em pelo menos 3 delas. 
Tirando a ideia da possível encenação de Hamilton, ele alega que está relaxado em relação às poles. As suas últimas vitórias foram circunstanciais, mesmo assim, colocadas como triunfais. Nesse caso, é bem visível que, também para as corridas, ele está relaxado. E mesmo assim, não tem um miserável para fazer ele começar a suar o couro cabeludo.
A F1 como um todo, jogou o foco, nas duas últimas corridas, para outros pilotos que não da Mercedes, enquanto a Ferrari só continuou cometendo erros estratégicos, risíveis que, além de prejudicar ainda mais a competição, afasta os dois pilotos da possibilidade de bancar pressão à equipe Mercedes, até mesmo no mais fraco da dupla, o Bottas. Estão muitos mais dignos de chacota que qualquer erro que o Vettel tenha cometido, seja na corrida da Alemanha do ano passado, seja na última, na Inglaterra. 

O problema é mesmo um desequilíbrio mental de Vettel? Ou o ambiente desfavorável para ele e seu companheiro recém chegado, de uma pressão absurda para ambos que acaba dando espaço e conforto para a equipe rival? 
É fácil escrever matérias comentando desequilíbrio profissional e mental quando o máximo que o outro "gênio" enfrenta de pressão ou incômodo, é um companheiro de equipe com um pouquinho mais vontade de ter um lugar ao sol. Quem é que atrapalhou a vida de Hamilton a ponto de fazê-lo cometer erros nesses seus 4 campeonatos vencidos com a Mercedes?
Nem mesmo Nico Rosberg, me desculpem. 

Ainda assim, que Vettel tenha uma corrida adequada junto ao seu público compatriota. Estou com vontade de escrever textos mais bonitinhos na próxima vez que voltar aqui. 

Abraços afáveis! 

Comentários

diogo felipe disse…
Manu, comece a torcer pro Vettel como um torcedor do Ibis faz, na boa, sabendo q ele vai perder por culpa dele, é mais saudável pra saúde !😁 Agora, o Vettel tem culpa no cartório sim, afinal, está atrás do Max no campeonato .

PS. Vettel vencerá no domingo, meus bolões agradecerão 😎
Manu disse…
Rsrsrsrs...

Bolão? Será? Vamos ver...
Carol Reis disse…
O Vettel é um cara emotivo e se afoba às vezes, até na época da RBR era assim. Como vc deu a entender no texto e eu concordo: O clima da Ferrari é hostil para qualquer piloto. Acho até engraçado o povo pedindo a volta do Raikkonen ou do Alonso. Essas pessoas não tem noção de realidade, não é possível. Primeiro: Eu duvido que o finlandês queira voltar pra lá. Por que ele se submeteria a isso? P/ ganhar corrida e títulos mundiais é que não é. Se ele voltasse seria só p ter estresse e ele sabe disso. O cara só quer correr em paz, sem essas frescuras de politicagem. A entrevista do Kimi e do chefe da Alfa Romeo para o site da F1 foi tão descontraída que deu p sentir o prazer dele por estar ali. Segundo: O Alonso já disse que só volta a F1 com um carro competitivo, ele não quer voltar p ficar sofrendo pressão e ter um carro bosta nas mãos, que é o que vai acontecer se ele for para Ferrari.

Eu tenho pena do Leclerc, sinceramente. Ele tá dando o máximo de si, dá p notar, mas se continuar sem ganhar, nada disso vai ter importância e daqui a pouco ele será o Judas da vez, com toda a imprensa italiana chorando que ele é superestimado.

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