Sobre BBB 11
É. Eu também esperava não escrever sobre esse programa.
Mas peço que leiam até o fim para entender porque estou falando disso e não do que eu realmente gosto de falar aqui no blog.
Eu pensei ontem em fazer uma "coluna" sobre a 11o. edição do Big Brother Brasil.
Não sou o tipo de pessoa que sempre está em frente a televisão. Raras as vezes ligo o aparelho.E isso não é de hoje: quando criança, só ficava com a tv ligada porque outra pessoa assistia comigo. Isso é fato. Eram só os desenhos da manhã que eu escolhia para assitir por mim mesma.
Hoje, se estou só, assisto aos noticiários. Isso quando acho que devo, porque muitas vezes saber notícias ruins acabam com o dia de qualquer um.
Não acompanho novelas (raramente alguma me interessa), não gosto de filmes dublados da tv aberta então muitas vezes opto por ver o filme caso alguém em casa também esteja vendo. E isso se o filme for bom, ou ainda não tiver assistido e ter ouvido falar que é legal. Não tenho visto futebol, apesar de alguns momentos enquanto faço um lanche ou como alguma coisa, prefiro os canais que passam jogos de times ingleses, italianos, alemães ou espanhois. Faz tempo que não assisto alguma coisa dos times brasileiros. No máximo sei algumas notícias por ouvir falar ou ver manchetes na internet. Eu assito à Fórmula 1, como sabem. Fora isso, esporádicos campeonatos de vôlei (masculino) e outros esportes talvez. MTV? Não obrigado, pelo youtube.com vejo meus vídeos favoritos quando eu quizer, porque se depender da emissora, eu não os vejo nunca.
Ultimamente, minha relação com a televisão é quando o aparelho de DVD funciona junto.
A primeira edição do BBB foi em 2002. Eu tinha 15 anos, estava entrando no primeiro colegial, tinha mudado de escola (eu preferia a antiga escola, mas enfim...). A minha vida era casa-escola-casa e no meio daquele ano minha avó veio a falecer. Posso dizer que não me lembro muito do que aconteceu depois porque tudo na minha cabeça parecia uma batedeira e tudo parecia uma brincadeira de muito mau gosto. Só Deus sabe a falta que ela faz para todos da família.
O início daquele ano era um mar de novidades e eu nem tinha idéia do que aonteceria no meu ano. Não tinha nada que avisasse que minha vó morreria três dias antes do meu aniversário de 15 anos.
Não tinha a mínima noção de que minha nova escola e minha nova turma era recheada de adolescentes fúteis, (apesar de poucos descobrir isso de forma assustadora).
Convites de colegas e ex-colegas chegavam pelo correio. Eram convites de festas de debutantes. Tudo só confirmava a futilidade de tudo.
Eu sei que naquela turma, uns olhavam para o colega de trás e perguntava: "quem foi eliminado no BBB ontem?" ou "vc assiste, quem é ou foi seu favorito?"
Nada mudou nas edições seguintes. Todos comentavam e tinham um favorito. Uns votavam sempre, outros apenas acompanhavam e comentavam.
Eu não critico quem assiste, apesar que deveria. Mas cada um escolhe o que quer fazer, o que acha que deve assistir e fazer bom proveito do momento. Somos livres para escolher, certo?
Assim pensava e assim prefiro pensar.
Mesmo assim, há algo que incomoda um pouco.
Concordo que pode ser interessante observar pessoas. Eu já parei num bloco da minha universidade, onde embaixo tem uma lanchonete e um grande saguão onde rola truco, lanches e conversas (e porque não lugar de cabular aula? é o que mais acontece...) e sentei e observei pessoas passarem. Vc vê gente bonita, gente estranha, gente enfeitada, gente desarrumada, gente em bando, outros sozinhos, uns com cara de que estão pensando na nota de cálculo, outros pensando naquele colega charmoso da sala, uns conversando demais, outros só ouvindo, e outros ainda falando sozinhos.
Não vou negar que é legal, mais ainda imaginar o que pensam, o que fazem, de onde são. Porque agem assim e não assado... Isso uma vez, duas, enquanto espera por alguém ou alguma coisa... Vc tem a opção de não querer ver eles se beijando, andando semi-nus. Se está entediado pode mudar de pessoa para pessoa ou abrir um livro, um notebook.
Mesmo assim não acho que BBBs sejam o tipo ideal de pessoas que eu quero saber o que fazem. Uma vez, vai lá. Durante meses? Hã? Quanto muito quero saber o que fazem os meus ídolos, verdadeiros artistas que tem algo a acrescentar, porque iria querer saber de (quase) anônimos de peitos e bundas e músculos que têm vida própria?
É difícil se convencer que qualquer pessoa que tenha passado pelo programa tinha conteúdo. Poderia até ter, mas não transpareceu, não fez algo notável, seja lá o que for.
Depois da quarta edição, passava pela minha cabeça: "vai voltar essa bobagem?" quando se anunciava a nova programação a cada ano e num piscar e olhos: já estamos na 11o. edição.
Cada um com um tema novo, depois que os primeiros modelos soavam desinteressantes. Primeiro com pessoas mais pobres, depois com gays (como se fossem criaturas que devem ser mostras em jaulas) e agora transsexuais. Polêmicas é o grito de guerra.
Ontem a Sônia Abraão falou no seu programa ridículo na Rede tv que abordaria o tema dos transsexuais porque eles fazem parte da sociedade e não podemos fechar os olhos para a existência deles.
Pois eles são sim diferentes de mim e de muitos outros, mas não deixam de ser seres humanos com direitos e deveres. Então porque deve ser tema de pauta? Por eu ser pequena e magrela também seria tema de pauta? Que bobagem é essa que vamos sentar para discutir sobre o outro e não apenas interagir com ele, independente dos seus gostos, vontades e feitos. Querem ser corretos e sem preconceitos, mas não agem da forma que ao meu ver é a mais ideal, de alteridade: a de interagir com o outro sem questionar suas preferências, seja ela musical, religiosa, sexual ou cultural, e admití-lo como um ser humano digno de ter seu respeito apesar das diferenças. Só assim ele poderá retribuir o mesmo respeito por vc.
Se a Rede Globo quer fazer do BBB o seu programa, ela bem sabe que sucesso faz. Que as pessoas na padaria, no ponto de ônibus, no salão de beleza, no bar as pessoas comentam.
As pessoas viram para as outras numa sala de aula e perguntam: "quem foi eliminado ontem?". Eu vi isso na faculdade! O meio acadêmico era para ser um lugar de produção de conhecimento científico e tecnológico? Eu também achava. Quando nova meu imaginário de universidade era um campus como os de Oxford onde os alunos usavam camisas e gravatinhas, e andavam com amigos a caminho de aulas e sentavam embaixo de árvores nos intervalos com pilhas de livros de capas de couro marrom. No máximo, se rebelariam contra o sistema e ouviriam um rock para serem rebeldes.
Ledo engano: Eles andam de chinelos e bermudas, as meninas fazem questão de desfilar com calças justas, quando acham que devem colocam salto sim. Andam em bandos rindo e falando bobagens como qualquer pessoa, e ouvem sertanejo, pagode, axé e funk. Fazer o quê? É a opção deles.
Acreditem, se dizem que é a moda que os faz ser assim eu digo que não. Eu e outros tiveram a opção de escolher não ouvir sertanejo e afins. E não estamos morrendo, soltando as peles e nossos ouvidos não tem micoses e feridas enormes como se tivéssemos torturando eles.
Nem os que optaram por ouvir essas novas duplas e afins (porque gostam e não foram forçados a isso, nem vem com essa!) estão com os ouvidos assim.
Eu ouço as minhas coisas e eles as deles. E fim de papo.
Com o BBB, não só essas futilidades incomodam (mesmo incomodando não é o fim do mundo - cada um faz o que quer e respeita o outro que não quer, certo?). Mas também uma pergunta em específico que não tarda em se repetir pela décima primeira vez:
"Você tem assistido o BBB?"
Sim, eu ouvi 11 vezes a cada ano, por pessoas das mais diversas. No ponto do ônibus, na escola, na faculdade, por email e na aula de inglês.
E a resposta "não" para os desconhecidos ou em roda de conversas causa sempre um silêncio daqueles de fazer qualquer tímido cavar um buraco na terra e se esconder.
Ninguém pergunta se vc viu aquele documentário sobre a teoria da relatividade. ¬¬'
Eu me lembro de outro dia terem me perguntado se eu estava vendo a série "Dalva e Herivelto" e disse que não, que não tinha me interessando. As mesmas pessoas (que serão futuros historiadores) viram "A Casa da 7 Mulheres" mas não viram "A Muralha". As figurinhas de cultura, não viram "Capitu", a série sobre Dom Casmurro que a Globo passou. Ao contrário disso a gente engole perguntas como: "Vc vê 'As Cariocas'?"
Não, não vi "O Clone" porque acho e achei brega, não vi "Caminho das Índias" porque a Glória Peres é uma escritora ridícula.
Não vejo Big Brother porque eu acho que a minha vida já é muito fútil, para quê piorar?
E no fim, ao dizer "não", "não vejo", "não acompanho", "não sei" te tranforma instantâneamente num ET.
Um ET envergonhado.
Mas no fundo vc sabe que deveria se envergonhar de nunca ter ouvido falar em E = mc2, não saber o que é amianto, não ter lido Machado de Assis uma vez na vida, não saber que o Chico Buarque escreveu peças de teatro, não saber onde fica exatamente no mapa a Sibéria... Mas vergonha sim é deixar essas coisas de lado para saber todos os vencedores do BBB, quais as parcipantes que saiu na Playboy, quantas transaram com o fulaninho debaixo do edredom.
Se assim acham que é útil saber sobre essas coisas supérfluas; por mim tudo bem. Não se limitem a isso, mas se querem; tudo bem.
Se acham que ouvir falar naquelas coisas que apontei acima não fazem parte da vida de vcs; tudo bem.
Mas não façam dessas pessoas; que acham que ler um bom livro, saber localizar a Sibéria ou que gostam de ver documentários; verdadeiros ETs, condenando-os.
É apenas, uma questão de opção.
Apenas pensem nisso.
Abraços afáveis!
Comentários
É exatamente como me sinto, ao falar que não vejo BBB. Sinto como se eu fosse a "sem cultura"...Não vejo utilidade em ficar vendo a vida alheia, pessoas falsas (tanto no sentido de carater(interna)como no físico (externo)). Porque as pessoas riem quando se diz que gosta de ver "globo reporter", documentários tipo discovery ou até mesmo documentários do canal futura e/ou cultura?? Por que gostam de ver um "zorra total" e não gostam de ver um "CQC" (uma mistura de humor inteligente com jornalismo)??? Por que gostam de ler um livro de auto ajuda (quando leem um livro)e continuam gostando de ver programas que "aliena" mais e continuam pessoas fúteis e sem preocupação como o "auto conhecimento"??
E assim permanecemos com nossos pensamentos...Somos ou não ETs??? somos diferentes? Creio que não. Não é por que não fazemos parte da "massa"(que gosta do que está na moda para não sermos excluidos)somos "ETs".... Somos normais!
É isso aí. Se continuarmos a ser ETs que sejamos ETs um pouco mais cultos. ^^
=*