GP do Azerbaijão: Baku é onde os "fracos" não tem vez

Vocês todos assistiram a corrida. Alguns de vocês costumeiramente já comentam os takes mais importantes no Twitter ou outro espaço. Eu até tentei fazer o mesmo, mas tive visitas no mesmo instante e cometi algumas gafes de "gritar" interrompendo conversas para falar dos ocorridos na pista.

Tudo já começou anuviado na transmissão: a participação especial de Felipe Massa. De especial, nada tinha. Pouco acrescentou na transmissão, até porque nunca "se deu bem" nessa pista (porque dizer "disputar", para mim, não é termo páreo para ele). Sua participação rendeu dentre outras coisas, um papo tosco de alerta do Galvão sobre pneus: "Aqui chamamos de macio e super macio", disse em tom de professor. "Desculpe", foi a replica fofinha do sem gracinha ex piloto brasileiro. Podia ter deixado isso e mais um monte de coisas passarem. Mas é querer demais né não?!

A quarta corrida foi deleitosa, no que se refere à duas partes: houve começos e fins eletrizantes, meio morno que propiciou que pudéssemos admirar a paisagem de Baku.
Novamente, vocês todos assistiram a corrida, e tenho certeza, absoluta, que assistiram a mesma corrida que eu, como fazem à tanto tempo.
A questão é que, não vivemos cada um de nós em diferentes mundos paralelos, nem mesmo viajamos no tempo e espaço como nas narrativas de ficção científica. Mas, erroneamente, sempre temos interpretações meio bizarras sobre alguns eventos das corridas. E sempre são discrepantes. É incrível!

Não dá para dizer que não existe implicação científica nesse costume: sim, há. O queridão Einstein diria que "tempo é relativo", e sim, ele está certo: tempo que se dedica à uma causa prazerosa, pode durar pouco do que se deseja. 
Eu creio que se você dedica à uma causa por uma pessoa ou um fim, dificilmente você perceberá outros movimentos ou outras pessoas. A não ser que esse outro movimento ou pessoa interfira no andamento daquele estado e causa que tem sua atenção. Imaginem um encontro com seu (sua) amado(a) com aqueles olhares apaixonados, risadas compartilhadas e de repente, passa uma pessoa das quais você não gosta, cumprimenta o casal e fica puxando conversa. Na manhã seguinte, se alguém pergunta como foi o encontro para você, você responde: "ciclano apareceu e detonou a minha noite"...

Immanuel Kant diria algumas coisas a respeito da teoria do juízo de gosto: por não gostar do indivíduo que "atrapalhou" seu encontro, a causa de todos os males do "fracasso" de seu momento, foi arrebatador e derrotante. Movido (a) pelas paixões, você só vai ver a inconveniência do indivíduo que atrapalhou seu namoro, mas não perceberá, que talvez que, não havia controle sobre isso, por mais que tivesse tentado.

Pelo juízo de gosto, fatalmente perigamos não vermos os defeitos das coisas: se amo muito uma música, não presto atenção que o músico seja um mau-caráter. Talvez não importa que ele seja assim, o que e preciso é que você não imponha o gosto pelo músico, simplesmente por um ato artístico admirável.
Se amamos um filme, não admitimos que alguém aponte um erro no roteiro. Mas, ainda cabe dizer: eu gosto e problema seu se não. Impor o gosto e forçar alguém a mudar de ideia é burrice. 
Se estamos encantados num encontro amoroso, não percebemos, por ventura, que o companheiro(a) acenou para o indivíduo e o convidou a se sentar com vocês e que ele, na melhor das intenções, não achou que o encontro foi estragado pela presença de alguém mais. Quem detonou o momento foi você que sentiu incomodado com a presença desagradável. Seu particular foi afetado.

Houveram 4 corridas até agora e apenas Austrália foi morna do começo ao fim.
Engraçado que as simples medidas feitas para dar "emoção" para as corridas tem sido irrelevantes, talvez por acaso. Toda etapa, depois da primeira, suscitou um arfar frenético de quem assistiu. Nas três últimas, inclusive Baku, essa respiração acelerada ou suspensão do ar foi propiciada pelas Red Bulls. Coincidentemente, nenhum dos dois carros do touros rubros tiveram protagonismo relevante na primeira corrida. 

Quem acompanhou as transmissões soube que houve um oba-oba repentino com Ricciardo. O novo heróizinho da F1. Depois de ter "desbancado" o companheiro de equipe na corrida passada, o mesmo que já foi considerado o piloto mais empolgante das temporadas passadas, desde sua estréia, Max foi altamente crucificado por exatamente aquilo que lhe deu fama: o arrojo. 
Ano passado ele passava à esmo pelas "cabeças" dos dois pilotos da Ferrari, seus alvos favoritos. A Mercedes nem chiava, pois seus atos deixavam eles em situação super confortável. Por aqui, gargalhava-se, com a razão de estarmos cansados de pilotos morninhos ou, ráimos por pura maldade, por ter um ódio latente pela equipe Vermelha.
Agora que ele mostrou (ainda que não do jeito que eu preferiria) que não é seletivo com suas manobras arriscadas, Max é imaturo, inconsequente, maluco. Alguns até gritaram no Twitter sobre dizer sempre que ele era "detestável".
A Mercedes acordou para os atos. Tendo consideráveis maiores dificuldades que no ano passado de estarem tranquilos, até Lauda soltou comentários depreciativos sobre Max já que, ele em duas ocasiões, afetou diretamente o protegido, numa delas, quase (eu escrevi quase) prejudicou.

A vida de Ricciardo já foi bastante diferenciada em um fim de semana. O lado oposto da moeda, ganhou seu rosto e sorriso: se de um lado, Max era o lado perverso do piloto ideal, Ricciardo era o lado corretinho, do jeito que pilotos devem ser. O dualismo na F1 tarda, mas nunca falha. 
O garoto "colgate" venceu e muita gente lambeu as sapatilhas regadas à champanhe. Mais "cabeça" que o companheiro, ele fez ultrapassagens limpas, bonitas e sem jogar ninguém para fora da pista. O prêmio veio com o pódio. Se Verstappen tivesse sido inteligente como o colega, teria feito dobradinha, quiçá teria disputado de igual para igual nas últimas curvas, na corrida passada. Mas não foi assim. O que ele fez que gostaram tanto foi ter rodado com Vettel e detonado a corrida do alemão. Hamilton chegou a agradecer sarcasticamente pela ajuda - e que foi uma bela ajuda, dada as circunstâncias para chegar à Baku. 

Alguns seres sapientes ainda disseram que seria o fim de Räikkönen na Ferrari, afinal, Ricciardo está sem contrato e era talentoso, poderia ser o tipo que afrontaria o reinado (reinado?) de Vettel na equipe Ferrari... 
Pode até ser, mas duvido muito por exemplo, caso a Red Bull continue sendo responsável pelas viradas de situação nas corridas - sempre como consequência, o débito para a equipe de Maranello...
Mas de novo: é querer demais né não?!

Pois dessa corrida, o exagero latente sob Ricciardo foi o seca pimenteira infalível da mídia e de certa forma, do torcedor brasileiro. Basta que esse povo verde-amarelo diga quem gosta, das duas uma, ou é uma "M" das grandes ou o nível cai, cai, cai até ruir. Se detestam também um qualquer, basta um errinho, e se preparem para o dilúvio. Na F1, isso nunca funcionou com o Hamilton. Torcem por ele e ele nunca tem uma corrida das quais seja totalmente estragada, embora, ele não seja tudo isso de talento. É que o santo dele é tão fenomenal, que se ele tem problemas (o que é raro), ao rival acontece algo muito pior. 

E então Baku quase rimou com aquele nome de uma parte do corpo que a gente usa para xingar quem nos perturba.
Tudo começou com uma abertura grande e toque de Ocon em Raikkonen, em sexto. Erro de Ocon, completamente compreensível, embora ele já dê indícios de ser o próximo "Odiado" da lista Raikkônica  (leia-se grupo de fãs eternos ou sazonais do finlandês). 
Ocon saiu e Kimi teve grande "preju": teve de ir para os boxes. A sombra maléfica veio e eu disse que a família dele por perto, era sinal de uma falta de concentração sem precedentes. Mas eu falo demais... ¬¬'

Lá no fundão, Sirotikin foi espremido por uma Renault (se não me engano) e foi de encontro à lateral da McLaren de Alonso.
A dita está feita: piloto da Williams encontrando com qualquer que seja, ainda mais com Alonso, vai ser culpa do "fraco". Mesmo que não houvesse espaço para ele ou para o espanhol, ele tinha meio que acionar asas imaginárias e batê-las voando para longe, para que ninguém o culpasse. Fora da pista, e "preju" grande de Alonso. O espanhol foi, com as duas rodas esquerdas inteiras, se arrastando para os boxes à trocar as direitas, totalmente rasgadas. Voltou para pista para remar tudo de novo, assim como Kimi. 
SC na pista, e a pergunta do milhão: Quem mandou fazer pista estreita? Eu detesto circuito de rua pois qualquer erro parece inabilidade, de fraqueza. E quem não erra, fica com marca de pilotão da "po¨%*#".

Relargada, mantendo constância, Kimi e Alonso tentando recuperação, Verstappen não fazendo loucuras grandes, e Renaults fazendo bons showzinhos por conta dos pneus. Mas a coisa fica sempre ruim para quem não merece, ou seja, os tais "fracos": Hulkemberg teve problemas com os compostos e abandonou a corrida prematuramente. 
Enquanto isso, lá na frente as Red Bulls travavam duelos internos que davam indícios de dar meleca. Hamilton, em segundo, fritava pneus na tentativa - frustrada, mais de uma ocasião - de se aproximar de fato de Vettel.

Depois do meio em diante e com as paradas, Bottas ficou momentaneamente em primeiro, lá pela volta 41 a briga das Red Bulls se intensificou a ponto de - olha só! - Ricciardo errar o ponto da freada e socar o carro na traseira de Verstappen.
Por ser reincidente, inconsequente, Verstappen ganhou a etiqueta de causador do problema. Mas foi o equilibrado Ricciardo-sorrisão quem errou e foi, afoito, desmedido, e inconsequente. 

Um erro passível de ser aceito, inclusive pois, todos, mesmo que detestamos internamente por motivos, muitas vezes, irracionais, são humanos. Mas não dá para aceitar o erro do Ric se não fosse as interpretações errôneas dos demais "críticos". Só porque não simpatizam com Max, não admitiram que ele foi dentro dos padrões do correto, do aceitável, talvez, pela segunda vez na carreira. 

(E eu cortei a visita, para dizer: "Eu sabia que ia dar nisso!!!" Crianças, não façam isso. Tia Manu foi mal educada... )

SC na pista, e uma vitória possível para Bottas.
Até que Grosjean, que foi mencionado na transmissão por estar num fim de semana emotivo-lagrimoso, errou feio (feíssimo) aquecendo os pneus, perdendo o controle e batendo numa mureta, espatifando pedacinhos de carro para todo lado.
Internamente eu xinguei, pois a visita ainda estava em casa. Comentamos o lance entre nós, mas eu me contive mais. 
Imaginei gente xingando o franco-suíço, e captei Galvão criticando ele por ter jogado as luvas no rumo de um funcionário da Haas e o Massa condenando a atitude como um Sr. Perfeito...
Eu xinguei pois, os pedacinhos iam demorar para serem recolhidos. 

Assim como Max, Grosjean é saco de pancada de muitos de nós. Errar em pistas como Baku pode ser crucial para o fracasso, mas já cravar que é por falta de talento, só se dá com os supostamente "fracos". Primeiro o russo da Williams, depois o Hulk, o Max e depois o Grosjean. O primeiro, ninguém nem conhece direito, mas já "desce a lenha". O segundo, teve bons momentos, mas nunca um bom carro. Chegou ao estigma de inútil. Max só é amado quando ataca Vettel, de resto é só um malucão. E Grosjean já foi muito odiado por acidentes que nem foi o único responsável.
E vejam bem na sequencia dos fatos da corrida, se não estou falando dos "fracos" mesmo...

Voltas e voltas de arrumação da pista, com SC e eles deram a relargada. Vettel avançou, quase conseguiu deixar Hamilton para trás. Afastou-se muito, pois poderia ter colisão já que o inglês curte espalhar-se pela pista. Kimi deu de ombros - e assinou, para mim, a marca de que ele não vai seguir ordens da equipe - se é que existem em antecipação como dizem. Avançou quase no mesmo minuto de Vettel, e ao ver que ele tinha saído da pista, não se conteve e seguiu. 
Aparentemente sem pneus, Vettel tinha de tentar, ou não saberia se era capaz. Ficou em terceiro, quase à ponto de passar Kimi numa oportunidade. 
Para a grande infelicidade mundana, Bottas, passou num estilhaço de carro - talvez de Grosjean - e teve um dos pneus rasgados. A corrida morna de Hamilton propiciou vitória. Os "fracos", todos, tentaram, mas não foram páreo para o santo do Hamilton.
Vettel, sem condições ainda foi ultrapassado pelo sempre amalucado Pérez. Bottas saiu da corrida que era sua. Apenas Kimi se safou bem e teve com a segunda colocação, quase uma vitória, dado o incidente da largada. Um pouco mais e não sei se teria pneus para segurar quem quer que fosse o terceiro colocado. No caso era Pérez, mas poderia ser qualquer um. 

Com essa configuração, Baku marcou a volta à estaca zero: Hamilton, não fazendo absolutamente nada de bom no compêndio de 4 corridas, está na liderança do campeonato.
Não posso dizer que isso é bom. Na verdade é péssimo, pois nesse ponto, Hamilton não se deixa abater. Temo que logo adiante, na próxima etapa, essas corridas terão ficado na saudade... Pena. Estava tão bom!

Abraços afáveis!

Comentários

André Gustavo disse…
Eu achei muito bem feito pro Bottas ter abandonado a corrida.

Na relargada, ele claramente tava segurando o Vettel pro Hamilton poder chegar junto na primeira curva. Tanto que isso causou a atitude desesperada de Vettel porque além de ter perdido a ponta perderia a 2º colocação.

Mas aí a justiça divina não falha.
Robson Santos disse…
Manu, boa noite. Acompanho seu blog (e alguns outros sobreviventes) ja ha algum tempo.
Tenho a mais profunda admiração por pessoas com opiniões centradas e inteligentes.
Mas, apesar disso e alem de respeitar o gosto alheio, nao compreendo o que ja considero má-vontade com o Hamilton.
Parece estar fazendo o mesmo que muitos fizeram com Vettel quando ganhou com um carro espetacular 4 campeonatos seguidos.
A exceção, talvez, a 2010 que senão fosse Petrov segurar Alonso.......
À época, se dizia que Vettel era isso e aquilo, mas nao um grande piloto, pois quem estava ganhando era o carro.

Vamos lá!

Deixa o cara ser feliz, pow!!

Ósculos e amplexos!

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