Dica de Leitura: Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

Farei a partir de hoje comentários de livros que li e os posts sobre eles valerão como pequenas sugestões a quem se interessar.
Comentar sobre livro é algo muito difícil de ser feito, embora eu goste de fazer. É tudo muito subjetivo, pois livro, assim como (suponho ser também) o caso de filmes e música, vai muito do humor, do estado de espírito. O livro pode ser ótimo, mas se você não conseguir "estar" nele ou você abandona de vez, sem terminar, ou você arrasta até o fim, desprezando o conteúdo depois. Esse último, aconteceu comigo uma vez apenas.

Ano passado li bastante coisa, de diversos estilos. Mas por "recreação" li esse que hoje tentarei discutir e sugerir aos amantes de livros. 


Guia Politicamente Incorreto da Filosofia - Ensaio de Ironia (Luiz Felipe Pondé)

São 224 páginas seriamente detalhadas de análises contra o que Luiz Felipe Pondé chama de "praga do politicamente correto", ou em síntese - "Praga PC".
Comprei este livro visando o gosto de discussões palpáveis sobre filosofia. Uso o termo palpável, pois há livros de filosofia que não se entende nem a capa, que dirá seu conteúdo. Mas esse, de antemão não era um ensaio sobre história da filosofia, ou mesmo, não se assemelha aos livros da mesma coleção de Guia Politicamente Incorretos, no caso, de autoria de Leandro Narloch. Nos de Narloch, li apenas um deles, o da História do Brasil, onde, munido de fontes, ele desmistifica histórias bonitinhas conhecidas por aí. Meus colegas historiadores podem se enfurecer o quanto quiserem, mas ele faz isso com a despretensiosidade acadêmica que parece tão libertadora. Não fica floreando, comprovando teses e teorias cabais para os fatos. Simplesmente conta e deixa como provocação para pensar. O rigor acadêmico é encarado para esse jornalista como algo irrelevante. Enfurece, porque ele faz mais não sendo da área, e nós historiadores invejamos pela naturalidade. Creio eu que seja isso. 
Em todo, um dia falo sobre esse livro, também interessante. Se você é nacionalista, passe longe. Se no mundo todo o avião é atribuído aos irmãos Wright como inventores, o Brasil luta contra usando um Santos Dumont como escudo? Ali, é reforçado que Dumont era inventor, mas os irmãos americanos têm mais pontos favoráveis para a invenção. Ou seja, talvez você não vá gostar de algumas "descobertas".

Da mesma forma que instiga uma certa revolta para aqueles mais certinhos, o livro de Pondé discute coisas que podem enfurecer pela forma que são escancaradas. Eu diria que se você é atento à alguma coisa que está no círculo do politicamente correto que evite de ler esse livro. Alguma coisa vai ofendê-lo, alguma coisa vai levá-lo a odiar o autor e fechar o livro de forma raivosa e dizer algo semelhante à  "Babaca!" ou mais grave. É diverso o que você poderá sentir. 
Dividido por temas, estes são abordados com base em conceitos defendidos por grandes filósofos. Os tais temas, são aqueles que de certa forma, ouvimos falar constantemente, e sempre tem um metido a besta ou um "knowledge hunter" que tem algum "argumento" super bem construído (leia-se copiado de alguém que publicou livro) para debater ou rebater uma piada, uma notícia, uma fala, uma situação. Quais são? Eis: Covardia (ou seu contrário direto, a coragem), instintos humanos, mulheres, preconceito, capitalismo, religião e etc... 
Um exemplo que pode ofender a muitos é que ele fala, quase todo o tempo que existe uma "maioria idiota" no mundo. E é verdade. Como negar? É aquele momento, que como indica numa das frases da orelha do livro que o politicamente correto, a mentira moral que inventaram, é "autoritário em sua essência porque supõe estar salvando o mundo".
E a sinopse é complementar: 
"Para os defensores do politicamente correto, tudo é justificado dizendo que você é pobre, gay, negro, índio, ou seja, algumas das vítimas sociais do mundo contemporâneo. Não se trata de dizer que não há sofrimento na história de tais grupos, mas sim dos exageros do politicamente correto em querer fazer deles os proprietários do monopólio do sofrimento e da capacidade de salvar o mundo. O mundo não tem salvação".
Não posso dizer que concordei com tudo, mas dei muita risada de muitas das páginas que corri os olhos. Anotei em "post it" diversos trechos e selecionei alguns para ir parar em status de facebook. Mas desisti por razões pragmáticas: 1. Metade dos seguidores, não iriam ler até o fim; 2. Desta metade que leu, apenas um  ou dois entenderia o que eu estava querendo com aquele status... O resto, poderia surtar, e alguns até achariam que eu estava em momento muito "subversivo"; 3. E último, escrever em facebook, algo que acarretaria comentários, convenhamos, alguém ia se ofender gratuitamente...
Eu até concordo que ter opinião é uma dádiva, mas a necessidade de expô-la pelo simples fato de fazer para aparecer, cansa. Contraditório, não é? Então evitar falar a não ser que perguntem, é melhor deixar todos livres, falando suas bobagens por si. 

"Outra característica problemática da democracia é sua vocação tagarela, como dizia conde de Tocqueville. Nela, as pessoas são estimuladas a ter opinião sobre tudo, e a afirmação de que todos os homens são iguais (quando a igualdade deve ser apenas perante um tribunal) leva as pessoas mais idiotas a assumir que são capazes de opinar sobre tudo. E, como dizia nosso conde, Descartes (filósofo francês do século 17) nunca imaginou que alguém levasse tão a sério sua ideia de que o bom senso foi dado a todos os homens em 'quantidades' iguais - o que evidentemente é uma mentira empírica. O resultado é que, se você põe em dúvida a capacidade igual entre homens de ter opiniões, a sensibilidade democrática grita de agonia. Mesmo homens com diploma universitário de engenharia, por exemplo, se julgam capazes de pensamentos profundos sobre o mundo, revelando como a universidade, ao se tornar um fenômeno de massa (como dizia o filósofo espanhol Ortega y Gasset no século 20), criou ilusão de 'opiniões banais' com ares cultos. Uma coisa que nosso conde percebeu é que o homem da democracia, quando quer saber algo, pesgunta para a pessoa do seu lado, e o que a maioria disser, ele assume como verdade. Daí que, no lugar do conhecimento, a democracia criou a opinião pública. " (página 50-51)

Deu para ter uma ideia de como é o livro? É bem isso, recheado de coisas interessantes para pensar. 
Mas para tal, você tem que estar disposto. 

Abraços afáveis!

Comentários

Ron Groo disse…
Beleza de dica... Já to na vibe de comprar.
Anônimo disse…
Nossa, Manu. Eu adorei essa coluna nova. Tenho uma lista de livros que ainda quero ler e são tantos e cada vez surgem novos que as vezes acho que até o fim da vida eu não dou conta! kkk
Gostei mesmo. Visitarei mais ainda o blog! =]
BEAJ, GISA
Manu disse…
Boa, Groo, acho que ira gostar.

Gisa, sim, farei esse lance de falar dos livros mais vezes e bom que gostou. Quero manter as dicas sempre que possível, e já estou preparando o próximo livro-dica.

Abs!

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